Das mais de 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade que vivem no Brasil hoje, de 6 a 7% convivem diariamente com a Doença de Alzheimer. Reparou? A nomenclatura correta é Doença e não Mal de Alzheimer. Isso porque, de acordo com o geriatra Paulo Renato Canineu, a denominação "mal" refere-se a doenças cujas origens ainda são desconhecidas. E, embora ainda não haja uma medicação ou intervenção que possa modificar o curso do Alzheimer, já se sabe como ele se desenvolve e de onde vem. "Mal de Alzheimer é usado de forma universal, mas estamos tentando mudar a mente das pessoas para a nova conceituação", explica.
Considerada uma enfermidade neurodegenerativa, a Doença de Alzheimer acomete principalmente o cérebro. Num primeiro momento, atinge a região dos lobos temporais, responsáveis pelo controle da memória; e, em seguida, se alastra por todos os cantos do órgão. Começa com um leve comprometimento da memória até que, mais tarde, aparece como uma deficiência de funcionalidade e do desempenho geral da pessoa.
A doença vem ganhando mais destaque desde o final do século passado, quando passou a existir uma maior preocupação com o estudo do cérebro. "O envelhecimento cerebral sempre foi um grande desafio e, ao estudá-lo, verificou-se que o acometimento da memória e das funções executivas das pessoas é o que mais tem ocorrido nos últimos anos", esclarece o médico.
O aumento da sua incidência deve-se, principalmente, à atual realidade da longevidade: a população vive cada vez mais. Afinal, embora possa ocorrer em vítimas com menos de 60 anos, a Doença de Alzheimer é muito mais comum depois desta idade. Por volta de 1900, a expectativa de vida no Brasil era de 35 anos e, em 1950, chegava a 45. Hoje a expectativa de vida dos brasileiros já ultrapassa os 70 anos.
A doença foi descrita pela primeira vez em 1906, ficando esquecida até o início dos anos 80 e sendo redescoberta quando começou a se perceber um número maior de pessoas envelhecendo e apresentando problemas de esquecimento que, na maioria das vezes, comprometiam o seu desempenho e a sua qualidade vida. Na primeira ocasião, foi descoberta e apresentada em um congresso médico, em Berlim, pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer, que prestava serviços em um hospital psiquiátrico de Frankfurt.
Alzheimer viveu de perto a evolução da doença ao acompanhar a internação da paciente Augustine D. (apenas D, pois ela não se lembrava mais do sobrenome todo), com 51 anos na época. Durante mais de dois anos, Augustine se queixou de alterações de memória e desenvolvimento, alucinações visuais, delírios de perseguição e ciúmes. Durante o dia, o alemão era clínico e, à noite, aproveitava para realizar estudos aprofundados com cérebros humanos de doadores.
A carreira brilhante levou-o para outros lugares da Alemanha, mas sem que a situação da paciente deixasse de ser acompanhada, mesmo à distância. Assim que Augustine faleceu, Alzheimer foi convidado, com autorização da família, a estudar seu cérebro e descrever as alterações que ele apresentava. Foi aí que a Doença de Alzheimer deixou de ser um simples borrão para ganhar o mundo.
Dá para se prevenir?
A boa notícia é que, por meio dos fatores de risco que predispõem o problema, é possível sim se falar em prevenção da Doença de Alzheimer. É preciso, no entanto, detectá-los o quanto antes para cortar tudo o que faz mal e, assim, beneficiar o cérebro do indivíduo. "Quando diagnosticamos os sinais numa pessoa de meia idade ainda temos tempo de controlá-los e de mudar o seu ritmo de vida", ressalta Paulo. Os fatores de risco do Alzheimer são os mesmos das doenças cardiovasculares e cérebro-vasculares: pressão alta, diabetes, distúrbio de colesterol, vida sedentária, síndrome metabólica, obesidade, tabagismo e uso indevido de álcool.
Praticar atividades cognitivas que estimulem a capacidade de pensar, raciocinar, de usar abstração, julgar e executar, com frequência, ajudam a proteger o cérebro. Fazer palavras-cruzadas, em especial quando você aprende novas palavras e as incorpora ao seu vocabulário, é extremamente positivo. "O próprio jogo de baralho e a leitura são saudáveis para o indivíduo. É importante ter uma meta, raciocinar e enfrentar diversidades de situações, mesmo que pequenas."
A prática regular de atividade física também é essencial. Bastam 20 minutos diários de caminhada, repetidos quatro vezes por semana. Afinal, explica o geriatra, a continuidade pode estimular a produção de fatores cerebrais que acabam por proteger a memória. Mais importante ainda é permitir que as vítimas do Alzheimer tenham uma atividade social satisfatória. Além de levar à doenças como a demência, o isolamento social só traz malefícios. "A pessoa precisa estar de bem com a vida, se relacionar com outras pessoas, com os vizinhos, com o mundo", completa.
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