Os idosos da China são pobres, doentes e deprimidos em um número alarmante, de acordo com o primeiro estudo em grande escala feito com pessoas de mais de 60 anos. Isso é um desafio imenso para Pequim e umas das maiores vulnerabilidades de longo prazo da economia chinesa.
O levantamento sobre as condições de vida dos 185 milhões de idosos do país mostra um quadro desolador que desafia os esforços do governo para construir o que chama de "sociedade harmoniosa", dedicada ao bem-estar humano em vez de somente ao crescimento econômico. Da geração que construiu o boom econômico da China, 22,9% — ou 42,4 milhões de pessoas — vivem na pobreza, com uma renda de menos de 3.200 yuans por ano (US$ 522).
O medo de ficar velho e pobre, o que leva muitos chineses a economizar seus ganhos, também vai contra outra prioridade de Pequim: reequilibrar a economia para um consumo mais forte.
A pesquisa, liderada por acadêmicos chineses e internacionais, incluiu 17.708 indivíduos de 28 das 31 províncias da China e foi parcialmente financiada pelo governo chinês através de uma fundação científica. Sem deixar de cuidadosamente dar crédito ao governo pelo progresso na expansão da cobertura de benefícios médicos e de aposentadoria, o levantamento também mostrou que deficiências físicas e doenças mentais são comuns no país. Dos entrevistados, 38,1% relataram dificuldades para exercer atividades diárias e 40% apresentaram sintomas fortes de depressão.
Comparações internacionais se tornam difíceis por problemas de definição. Mas as taxas de pobreza, invalidez e depressão na China parecem ser todas relativamente altas. A taxa de pobreza dos americanos com idade superior a 65 anos é de 8,7%, segundo dados do censo. O Estudo da Saúde e Aposentadoria dos EUA descobriu que entre 26% e 27% dos idosos americanos apresentam algum tipo de invalidez e que as taxas de depressão também são significativamente menores do que na China.
John Strauss, professor da Universidade do Sul da Califórnia e um dos líderes do projeto, apontou o baixo nível de desenvolvimento da China como parte da explicação para os níveis mais elevados de pobreza no país. "Precisamos lembrar que a China ainda é uma economia em desenvolvimento, ainda não é um país de alta renda", disse ele.
O envelhecimento da população significa que os problemas se agravam. O número de idosos para cada cem pessoas em idade ativa da população — o chamado índice de dependência — passará de 11 em 2010 para 42 em 2050, de acordo com projeções da Organização das Nações Unidas.
Outros países também verão um aumento do índice de dependência. Mas o ritmo do envelhecimento na China é particularmente alto em consequência da política de um só filho.
O levantamento revela que 88,7% dos idosos que necessitam de assistência para atividades diárias a recebem de membros da família. Mas a política de um único filho e a migração de muitos jovens para cidades grandes em busca de trabalho ameaçam corroer a tradição dos filhos cuidarem dos pais idosos.
O problema da China é peculiar porque a população está envelhecendo enquanto o país ainda é pobre. "Outros países são velhos e ricos", disse Albert Park, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, outro líder da pesquisa.
Yu Baihui é uma das idosas que está enfrentando dificuldades. Com 73 anos, Yu vive com o marido em uma casa dilapidada em Rensha, cidade de 31 mil habitantes nas redondezas de Chongqing, no oeste da China. Como muitos dos idosos pobres da China, ela é uma ex-lavradora, velha demais para se beneficiar do boom econômico que levou as gerações mais jovens para as fábricas, e ficou de fora de um sistema de benefícios que favorece a população urbana.
"Meus pais não têm qualquer pensão ou outro benefício", disse Luo Zhengfeng — filho de Yu que vende guarda-chuvas e mapas para turistas em Chongqing para sustentar sua esposa, filho e pais idosos.
A turbulenta história da China também parece ter tido um impacto na geração que a enfrentou. "Os idosos da China passaram fome nos anos 50 e enfrentaram as turbulências da Revolução Cultural", disse Park. "Essas experiências deixam uma marca na saúde física e mental."
Em teoria, o respeito pelos mais velhos está profundamente enraizado na cultura chinesa. Confucius, o líder cultural da China, que tem desfrutado um renascimento em popularidade à medida que líderes buscam novas fontes de legitimidade, defendeu a veneração das pessoas mais velhas.
Em uma visita a um asilo de idosos em Tianjin, em 2009, o ex-presidente Hu Jintao expressou os sentimentos. "Respeitar e cuidar dos idosos não é apenas uma tradição chinesa, mas também um símbolo da civilização e do progresso nacional", disse ele.
Mais de 90% da população idosa possui seguro saúde, mas os custos extras permanecem elevados. "Minha mãe teve um derrame no ano passado, o hospital cobrou 18 mil yuans (US$ 2,9 mil) e o seguro pagou apenas 1.000 yuans", disse Luo, o vendedor de guarda-chuvas de Chongquing. O saldo de 17 mil yuans ele teve que pagar do próprio bolso e equivale a quase metade do seu salário anual.
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