Depois de curtir os oito primeiros anos de sua aposentadoria só descansando e atuando como voluntário na diretoria do clube da terceira idade de Ribeirão Pires, o contador José Pedro de Medeiros, hoje com 67 anos - quando deu entrada no benefício ele tinha 56 -, percebeu que, com a idade, sua aposentadoria não era mais suficiente para bancar as contas de casa e, principalmente, o convênio médico para ele mesmo e para sua mulher. Não lhe restou alternativa, senão erguer as mangas e voltar ao mercado de trabalho.
A realidade de Medeiros é a mesma da metade dos aposentados do Grande ABC. Segundo o diretor da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, Luís Antonio Ferreira Rodrigues, pelo menos 130,1 mil - metade dos 260.239 beneficiários das sete cidades, conforme dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), voltam à ativa. Do total, cerca de 30% (78 mil) continua contribuindo com a Previdência Social.
O planejador financeiro e professor de macroeconomia da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) Silvio Paixão se baseia em estatísticas sobre a vida dos aposentados ao afirmar que menos de 2% deles possuem independência financeira. Ou seja, apenas 600 mil dos 30 milhões de aposentados brasileiros vivem com seus próprios recursos. "O restante retorna ao mercado de trabalho para complementar a renda ou fica em casa, mas depende da caridade de parentes, como filhos, ou de terceiros, para comprar remédios, pagar plano de saúde ou fazer as compras do supermercado."
Justamente para evitar que a situação chegasse a este ponto, Medeiros decidiu voltar à ativa, mesmo que em uma área completamente distinta da qual atuou durante a vida toda. "Sempre trabalhei na indústria, cuidando da contabilidade, fechado em uma sala com prazos e tabelas. Mesmo assim, quando meu genro viu que estavam contratando para atendimento na praça de alimentação de um shopping decidi arriscar. Na mesma semana já estava empregado."
Graças ao seu bom humor acompanhado de muita simpatia, o contador aposentado é, desde 2009, um dos mais requisitados atendentes da Pizza Hut do Shopping ABC, em Santo André. "Me achei aqui. Se soubesse que tinha tanto jeito com o público, teria me arriscado nesta área antes", declara.
O sacrifício de só ter um domingo por mês em casa, já que trabalha seis dias por semana e com folgas normalmente em dias úteis, vale a pena principalmente pelo convênio médico. "Eu teria de pagar mais de R$ 1.000 para mim e para minha mulher se fosse contratar um plano particular. Aqui, pago R$ 184 por mês (80% do valor é subsidiado pela empresa) e estamos garantidos."
O rendimento de Medeiros, de cerca de R$ 900, complementa sua aposentadoria - hoje equivalente a quatro salários-mínimos (R$ 2.712). Por ter registro em carteira, recebe também benefícios como seguro odontológico, vale-transporte, PLR (Participação nos Lucros e Resultados), INSS, fundo de garantia e férias.
A rede da Pizza Hut no Estado de São Paulo possui política de contratação de profissionais acima dos 60 anos desde 2003. Atualmente, 10% do quadro é composto pela terceira idade. Em Santo André, há cinco funcionários com esse perfil.
Troca de benefício favorece 78 mil na região
Os cerca de 78 mil aposentados no Grande ABC que continuam trabalhando e contribuindo com o INSS depois de dar entrada no benefício, ou 30% do total, conforme estimativas da Associação dos Aposentados e Pensionistas da região, podem ser beneficiados com a troca de aposentadoria.
A chamada desaposentadoria permite que o segurado substitua o valor atual do benefício por outro mais vantajoso, a partir da inclusão das contribuições realizadas depois de se aposentar.
Embora o INSS não reconheça esse direito e alegue que o dinheiro recolhido ao órgão pelo aposentado é usado para pagamento de outros benefícios, como pensões, aposentadorias e auxílios, a Justiça tem ficado a favor dos contribuintes.
Na semana passada, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) tomou importante decisão ao reconhecer que os aposentados que seguem na ativa, e contribuindo com o INSS, têm o direito de renunciar ao benefício para requerer outro em condição mais vantajosa. Outra boa notícia foi que o segurado não terá de devolver tudo o que recebeu desde que deu entrada no benefício - até então, embora os tribunais tomassem decisões favoráveis, muitas vezes pediam que o segurado devolvesse os valores pagos ao INSS para ter direito ao novo cálculo.
Os processos, porém, ainda dependem de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que deverá avaliar a questão até o fim de junho.
Advogados previdenciários orientam que interessados em ingressar com ação façam os cálculos primeiro, pois nem sempre vale a pena pedir a troca. Além disso, o ideal é somar pelo menos cinco anos de contribuições depois de se aposentar. Com a decisão do STJ, os prazos de julgamento dos processos deve cair de cinco para até três anos.
Comentários
Postar um comentário
Comentarios e Sugestões