Este dado foi deixado hoje na subcomissão da Igualdade, no Parlamento, onde três membros da associação estiveram a dar conta do que a APAV tem feito em matéria de violência contra as pessoas idosas.
Em resposta a uma pergunta colocada pelo deputado do PSD Mendes Bota sobre as estatísticas da associação, Maria de Oliveira, técnica de direcção da APAV, apontou que entre 2000 e 2012 a associação registou um aumento de cerca de 179% dos processos de apoio relativos a pessoas idosas vítimas de crime.
"Em 2000 tivemos 290 processos e em 2012 tivemos 890 processos e, se nós formos alargar o espectro dos 60 ou mais anos, o número aumenta mais ainda", revelou Maria de Oliveira, referindo que o Observatório de Envelhecimento e Natalidade está a fazer um estudo sobre o envelhecimento com base em inquéritos a pessoas a partir dos 35 anos.
Por outro lado, a jurista da APAV Carmen Ludovico lembrou que existem várias formas de violência contra os idosos, que não se resumem à violência física, mas passam também pela violência sexual, psicológica ou financeira.
Sobre essa matéria, lembrou que há cada vez mais casos de idosos a serem retirados das instituições onde residem para voltar a viver com os filhos ou de filhos que ficam desempregados e voltam a viver com os pais, ressalvando que em ambos os casos as pensões dos mais idosos são muitas vezes o sustento de toda a família e que isso provoca um clima de tensão que pode degenerar em violência.
Denunciou que se verificam cada vez mais casos de negligência por parte dos prestadores de cuidados formais, ou seja, por parte dos técnicos que trabalham nas instituições, lembrando que muitas vezes estes casos estão relacionados com o "stress do cuidador" e que isso poderia ser contrariado se houvesse mais formação e preparação por parte destes técnicos para lidar com as pessoas idosas.
Referiu, por outro lado, que é nas zonas rurais que há mais proximidade entre as pessoas, mas que é também aí que sentem mais dificuldade em chegar à vítima depois de uma denúncia.
Segundo Carmen Ludovico, há muitos casos de idosos que se recusam a apresentar queixa contra o/a filho/a por violência doméstica e classificou este fenómeno como um dos maiores constrangimentos com que a APAV tem de lidar.
A situação dos idosos em Portugal e o aumento de casos de violência contra estas pessoas levou a deputada comunista Rita Rato a propor a criação de uma legislação específica de protecção às pessoas idosas.
"Se calhar seria importante uma lei de protecção dos idosos em risco, que não existe, porque em determinada altura da vida os idosos estão numa situação de fragilidade muito próxima da das crianças e, portanto, era importante a Assembleia da República reflectir sobre isso", propôs a deputada do PCP.
Na opinião de Rita Rato, as várias pistas deixadas pela APAV, nomeadamente a formação adequada, as equipas especializadas ou as respostas sociais, são as mesmas que se impõem em relação às crianças.
Para a APAV, a criação de uma legislação específica para os idosos gera algumas dúvidas, principalmente pelo receio de que possa ser ainda mais humilhante para o idoso ser equiparado a uma criança, mas a jurista da associação afirmou ser completamente a favor.
"Temos que pensar e refletir sobre a autonomia da pessoa idosa, mas acho que isto iria superar e iria ultrapassar muitas das dificuldades que nós sentimos, nomeadamente ao nível da denúncia e do constrangimento do próprio idoso para chegarmos a um acordo e a consenso entre os familiares", defendeu Carmen Ludovico.
A secretária-geral da APAV, Carmen Rasquete, apontou ainda que a associação passa agora por um novo desafio, já que o enfraquecimento da proteção social juntamente com o enfraquecimento dos laços familiares levará a agravar situações de violência.
Comentários
Postar um comentário
Comentarios e Sugestões