Os alimentos tiram os seus superpoderes do ambiente onde nascem. Quanto mais dificuldades uma planta precisa enfrentar, mais força os seus frutos irão transmitir a quem os consumir.
Imagine então um lugar frio. Onde falta oxigênio. E com os maiores índices de radiação do mundo. O Globo Repórter foi para lá. Quando sentiu vento dos Andes e as águas que vinham lá de cima, a equipe do programa sabia, estavam se aproximando do superalimento das alturas. As plantações sobreviveram escondidas lá no alto por 500 anos.
A equipe foi em busca da maca. É como um rabanete, que cresce no alto da cordilheira. Nos vales entre as montanhas.
Para chegar até lá foi preciso atravessar uma das passagens mais elevadas da cadeia andina.
E a neve recebeu nossa equipe no ponto mais elevado da viagem. Ficou um pouco difícil para respirar para quem não está acostumado. O Globo Repórter estava no coração dos Andes e a placa dizia que a gente estava a 4818 metros.
A viagem seguiu com este tempo feio. Mas a longa jornada valeu a pena. A recompensa foi a paisagem. A equipe estava na região do lago Junin. E logo no primeiro vilarejo que a equipe chegou, um encontro inesperado.
Animado, o grupo de professores estava voltando da escola, onde passou o dia. O coquetel ou suco de maca. É assim que a maioria consome este produto por lá.
“Lembra um suco de amendoim, uma parte de amendoim, um pouco mais adocicada, um pouquinho de caramelo. Muito bom”, comenta o repórter Pedro Bassan.
Yanina conta que ferve a maca e bate no liquidificador com leite e ovos.
“Meu marido toma maca. Ele é muito forte”, conta Yanina Arias, professora.
Yanina brinca com a fama da maca. Diz que o marido toma, é claro. E mostra orgulhosa o filho, segundo ela, fruto dos poderes estimulantes desta raiz. Mas a equipe precisava voltar a estrada e continuar a viagem, e ir a uma plantação perto dali.
O último trecho. Depois de passar pela montanha, pela neve. A parte mais difícil da estrada. Para chegar até a maca, a equipe teve que primeiro espantar a boiada.
A equipe chegou a uma plantação, às margens do lago Junin, onde trabalha a Elvira.
Quando ela começou a produzir tinha apenas um hectare, hoje com tanto interesse, tem plantados 420.
O endocrinologista Gustavo Gonzales, da universidade Cayetano Heredia aceitou o convite para nos acompanhar até lá. É dele a maior parte dos estudos feitos até hoje sobre a maca.
“Eu chamo de ‘milagre dos Andes’, porque cada vez que investigamos algo, encontramos mais propriedades e mais coisas que nos deixam surpreendidos”, diz Gustavo Gonzales Rengifo, endocrinologista.
O doutor Gustavo confirma: a maca é sim um estimulante. Ela aumenta o desejo sexual, mas não só isso.
Segundo o doutor Gustavo, a maca faz aumentar a quantidade de espermatozóides nos machos e, nas fêmeas, faz diminuir a mortalidade dos embriões. Aumentando assim a fertilidade.
Quando os espanhóis conquistaram essa região, só estavam interessados na prata e não nas plantas. E assim desperdiçaram um tesouro que tinha embaixo dos pés. Um super alimento que cresce a 4.500 metros de altitude.
Hoje este tesouro injeta na economia peruana US$ 7 milhões por ano. Hoje ela é exportada, principalmente para a Ásia. Dona Elvira vende 80% da produção para o Japão.
“Gerou empregos nessa região, como você vê, são mulheres, com filhos, homens. Melhorou a qualidade de vida familiar. Hoje dá para mandar os filhos estudarem fora. As pessoas tem trabalho o ano todo. Isso é uma satisfação enorme para mim, como mulher”, conta Elvira Llanos, agricultora.
Um povoado foi o cenário da pesquisa que comprovou os benefícios da maca no combate ao envelhecimento. Foi então, que o produto que só era conhecido e consumido pelos moradores da região, ganhou o mundo.
O professor Gustavo fez um estudo com 1200 pessoas da região, com idades entre 35 e 75 anos.
“O que aconteceu com a população que consome maca? Os que tem 35 anos tem um estado de saúde muito bom, mais alto do que os que não comem maca. Estado de saúde que se manteve até os 75 anos, como se eles não envelhecessem”, diz o professor.
O advogado Rafael lesionou os joelhos na academia. Conta que passou a ter dificuldades para caminhar. Depois de tomar injeções antiinflamatórias que não funcionaram, ele descobriu a maca em um jornal.
“Como eu não tinha nada a perder, tentei para ver o que ia acontecer. Os médicos não conseguiam resolver o meu problema”, lembra Rafael Valentin, advogado.
Em apenas duas semanas tudo mudou. A lesão é irreversível. Mas a inflamação que tanto doía passou.
“O mais importante de dar este testemunho para que as pessoas conheçam este alimento. Ele serve para que o estado de saúde seja o melhor possível”, conta Rafael.
Do outro lado da América do Sul, debaixo da sombra da Mata Atlântica, o Brasil está redescobrindo os poderes de uma superfruta. É tão rica, que o nome é theobroma, que quer dizer alimento dos deuses, mas é mais conhecido pelo sobrenome, cacau.
A equipe do Globo Repórter foi para Ilhéus, sul da Bahia, grande região produtora. Ao contrário dos alimentos andinos, o cacau foi um dos primeiros produtos americanos a ganhar o mundo depois do descobrimento.
Conta a história que em 1502, o descobridor Cristóvão Colombo, chegou à ilha de Guanaja, na quarta viagem à América Central. Um barco se aproximou, e um chefe asteca subiu a bordo da caravela e ofereceu sementes de cacau a Colombo. Naquela época, as sementes secas - além de alimento - eram usadas como moeda.
Perto de ilhéus, a equipe foi conhecer um novo produto que está surgindo por lá. Ainda mais saudável do que o velho e bom chocolate.
Iberê e Natália se mudaram para lá há dois anos. Uma mudança radical de vida. Lá não pega celular. A comunicação na fazenda segue outros sinais.
São eles que mostram o chocolate cru. A diferença é que as amêndoas não são torradas e mantém uma quantidade maior de nutrientes. A produção deles é orgânica. Os cacaueiros crescem em harmonia com outras espécies da Mata Atlântica.
“O cacau está ao lado do açaí, depois outro cacau. Sempre temos muitas frutíferas ao redor do plantio, como a banana, a jaca, o jambo”, diz Iberê Mesquita Filho, agricultor.
Depois da colheita, as amêndoas são retiradas. E colocadas para fermentar durante cinco dias.
Eles fazem o controle da temperatura. E dão o que chamam de tombo, para que a fermentação seja uniforme. Depois elas secam ao sol. E são descascadas. As amêndoas secas estão prontas para a grande transformação.
O professor Quintino do Centro de Estudos do Cacau revisou centenas de artigos publicados em todo o mundo sobre o ‘alimento dos deuses’. Os trabalhos apontam as inúmeras vantagens do cacau e do chocolate amargo.
Eles são importantes aliados na prevenção de doenças degenerativas e cardiovasculares, além de combaterem a depressão. A explicação: a presença de substâncias chamadas polifenóis.
“Isso faz com que o cacau seja o produto natural que tem maior capacidade antioxidante. Existe um índice que se chama capacidade de absorção de radicais livres e oxigênio e o cacau é o destaque em todos os vegetais e todas as frutas”, explica o professor Quintino Reis Araújo, pesquisador do CEPLAC.
Na varanda de uma casa, passo a passo a mágica de um alimento dos deuses. Da semente do cacau, á semente descascada, cacau triturado, em pó, a pasta e finalmente o chocolate - cru orgânico sem leite, sem aditivos químicos e saudável.
O processo começa com um simples moedor de carne. As amêndoas são trituradas duas vezes.
Depois aquele pó vai para o pilão. E aos poucos, vai virando uma massa. Um pouco de açúcar para quem ainda não está acostumado ao chocolate puro.
“15 gramas de açúcar orgânico para 85 gramas de massa de cacau. Isso formará 100gr de chocolate”, conta Iberê.
E segue a pilagem. É quando a mágica acontece.
“O processo acontece na conchagem - roçagem de pedra com pedra. A gente quebra as partículas da gordura, e elas acabam derretendo com o calor que é gerado, neste derretimento, a gente tem esta pasta, que é o chocolate”, afirma Maria Natália Ávila, agricultora.
Depois é só por na forma.
A professora Priscilla da Unicamp é uma das maiores especialistas em chocolate no país. Mesmo o chocolate tradicional, quanto mais amargo melhor. E o chocolate cru?
“A torração é uma etapa onde a gente elimina polifenóis em quantidade. Então é bastante provável que um chocolate que tenha sido feito com amêndoas de cacau cruas em vez de torradas tenha um maior teor de polifenóis”, explica Priscilla Efraim, engenheira de alimentos - Unicamp.
Nas ruas em Ilhéus, o sabor foi aprovado.
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