Uma pulseira que ajuda a localizar idosos com Alzheimer; um leitor de rótulos que auxilia o controle de doenças e um ponto de ônibus que fala. Projetos de jovens cientistas brasileiros pensados para melhorar a qualidade de vida da terceira idade. Em comum, essas ideias viraram protótipos avançados de tecnologia robótica e foram premiadas no Torneio de Robótica First Lego League (FLL), realizado nos dias 9 e 10 de março, em Brasília.
O torneio reuniu crianças e adolescentes com idade entre 9 e 14 anos, que representam colégios públicos e privados de todo o país. Organizado desde 2004, o evento tornou-se referência para os jovens que querem mostrar suas ideias criativas e mudar mundo sem abrir mão da diversão, da tecnologia e da interatividade.
O tema desse ano buscou responder a seguinte questão: como os adolescentes podem melhorar a qualidade de vida dos idosos, ajudando-os a se manter independentes, engajados e conectados com a comunidade, garantindo um estilo de vida saudável na terceira idade? Os projetos deveriam ser desenvolvidos pensando na dificuldade de um idoso em especial convidado pelo time para ser seu "Parceiro Sênior".
Pulseiras e Alzheimer
O primeiro lugar geral ficou com o grupo do Sesi Ourinhos, de São Paulo, que projetou uma pulseira com localizador que auxilia familiares e amigos a acharem idosos que tenham Alzheimer, caso se percam. A analista de suporte Daniele Ortiz Hoffmann Bonício, técnica do grupo, conta que o parceiro sênior deles foi Archimedes Bruzon, um senhor que não queria sair de casa com medo de se perder.
"A pulseira contém um chip de celular, que pode ser rastreada via GPS, na qual a família delimita um território onde o idoso possa caminhar livremente, continuando com sua rotina na comunidade. Caso ele saia dessa área, o chip automaticamente manda uma mensagem para o telefone móvel do familiar do idoso, como um alerta", explicou Daniele.
De acordo com a analista, caso o idoso se perca dentro do local delimitado, na pulseira haveria um código de barras que logo depois de passar em um leitor em pontos comercias ou postos de saúde, mostraria o número de celular do familiar. "Assim se alguém percebesse que o idoso está perdido é só fazer este procedimento", completou.
A equipe comemorou muito a vitória. "O primeiro lugar veio com um sabor de dever cumprido e reconhecimento do trabalho. E o mais emocionante é a oportunidade de representar o Brasil no maior torneio de robótica do mundo", contou Daniele revelando que em abril a equipe embarca para Saint Louis, nos EUA, para participar do "World Festival".
Inovação no controle de doenças
O grupo ItapêRobota, do Sesi Itapetininga, de São Paulo, foi premiada em segundo lugar no torneio FLL. Liderados pelo professor de matemática Aldo de Lima Ricardo, o grupo projetou o InfoNutri, um aparelho para ajudar na leitura de rótulos e auxiliar os idosos no controle de doenças como diabetes, hipertensão, colesterol, entre outros. "Fizemos várias pesquisas e percebemos que o público idoso é propenso a muitas doenças crônicas, e essas são relacionadas à alimentação. Para controlá-las, além da medicação o conhecimento do alimento que está sendo consumido é fundamental, para isso a leitura dos rótulos é essencial, mas pelo fato das letras serem pequenas e as informações muito técnicas, fica difícil a leitura e compreensão", explicou Aldo.
O equipamento seria um tablet fácil de operar e que seria acoplado no carrinho de supermercado com um leitor de códigos de barras. O idoso poderá selecionar no tablet uma ou mais doenças que ele possui, todas elas relacionadas à alimentação, e depois consultar cada alimento de sua preferência passando o código de barras do produto no leitor. "O InfoNutri mostrará além do nome e do preço, a tabela nutricional, os ingredientes, validade do produto pós-aberto e dicas como 'Esse produto contém alto teor de açúcar, não recomendado a diabéticos'. Todas essas informações com letras grandes e uma linguagem simples", revelou.
O grupo de alunos de Itapetininga já se prepara para participar do aberto da Alemanha de 7 a 10 de maio, em Paderborn. "Com certeza é o nosso maior prêmio", comemora Aldo.
Facilidade no transporte público
No caso da equipe do Sesi Valinhos, de São Paulo, premiada em terceiro lugar, a inspiração veio de uma aluna do curso de alfabetização Educação de Jovens e Adultos - EJA. Maria José, 68 anos, usuária do transporte público local, tinha dificuldade em pegar seu ônibus, pois ainda não sabia ler. "Um dos alunos da equipe observou essa aluna e seu problema. O ônibus parava para pegá-la porque o motorista já a conhecia. Isso nos inspirou e a Maria José se tornou nossa parceira sênior ao longo de todo o trabalho", contou Fagner Diniz, professor de robótica do SESI e líder técnico da equipe.
O grupo de Valinhos desenvolveu um áudio ponto para o transporte público. O sistema inclui um chip instalado nos ônibus, um sensor colocado nos pontos que coletam as informações dos coletivos e informa, através de caixas de som, qual é a linha e o destino. "Há ainda, próximo a porta de embarque do veículo, um botão com um alto falante, que a pessoa pode apertar e ouvir o nome e o destino do ônibus", explicou Fagner.
Formada por oito alunos de 12 a 15 anos, um mentor e um técnico, a equipe SESI/Valinhos foi surpreendida pelo sucesso. "O mais incrível de tudo é que nossa equipe é estreante neste tipo de torneio e estamos vivendo uma experiência grandiosa desde a etapa Regional", revelou Fagner. Segundo o professor, com esse trabalho os alunos aprendem noções de programação, de engenharia mecânica nas montagens do robô, trabalho em equipe, e ainda se divertem muito.
Robô contra a depressão
Prevenir a depressão, problemas físicos e a solidão coletiva nos asilos. Essa é a função de Lampião, um simpático robô articulado desenvolvido pelo grupo Apoio Bot, do Colégio Apoio de Recife. Premiados em quarto lugar no Torneio FLL, a equipe liderada pelo técnico Pedro Jorge Lima da Silva, 16 anos, visitou o asilo Pousada Casa Amarela Deus é Amor, próximo ao colégio, para conhecer esses problemas. "Vimos nesse asilo idosos reunidos em um mesmo espaço, mas que não se relacionavam - a chamada solidão coletiva. Tivemos a ideia do Lampião para incentivar os idosos a realizar atividades em grupo, pois assim ganhariam massa muscular e óssea, fortalecendo o corpo e ajudando a prevenir quedas e outros problemas físicos", contou Pedro. Mas ainda restava uma questão a ser respondida: como prevenir a depressão?
De acordo com Pedro, a solução veio com a instalação de um tabletno abdômen do robô com um aplicativo que ajuda a lembrar os horários dos remédios, mas também toca música e conta histórias. "Criamos esse aplicativo com atividades úteis e prazerosas, para promover o bem-estar. Nossa proposta é que os idosos façam essas atividades no coletivo, essa é a principal inovação: os idosos terão que se encontrar e se relacionar para fazer as atividades, promovendo assim a aproximação entre eles", anima-se Pedro.
Quando o robô ficou pronto o grupo fez questão de levá-lo ao asilo para testar a interação com os idosos. "Foi incrível ver como realmente o Lampião funcionou e como ele poderia melhorar de verdade a vida daqueles idosos e de outros de qualquer asilo. Independente de qualquer prêmio, já somos vencedores por poder proporcionar essa experiência aos idosos", orgulha-se o jovem.
No Torneio FLL, o grupo foi premiado com a participação no Open European Championship (OEC) realizado na Alemanha, em maio. No entanto, os sonhos vão mais longe. "Foi uma grande alegria ter vivido essa experiência junto aos idosos. Nossa meta agora é tornar viável a chegada de robôs como Lampião nos muitos asilos e casas de repouso do Brasil e do mundo. Sonhamos com rostos mais felizes e pessoas mais saudáveis nesses ambientes", planeja Pedro Jorge.
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