Portugal é o sexto país da Europa que mais gasta com os Acidentes Vasculares Cerebrais, responsáveis por cerca de 2,5 mil milhões de euros em custos anuais, revela um relatório do grupo de trabalho para a prevenção do AVC, avança a agência Lusa.
Divulgado no âmbito do Dia Nacional do Doente com AVC, que se assinala no domingo, o relatório refere que um em cada cinco acidentes vasculares cerebrais está associado à fibrilhação auricular (FA), uma arritmia cardíaca que se estima afectar 140 mil portugueses com 40 ou mais anos.
“Sabendo-se que a FA aumenta em cinco vezes o risco de AVC e é responsável por 15 a 20% dos acidentes vasculares cerebrais, este aumento de incidência aponta igualmente para um agravamento dos números de AVC”, que são a segunda causa de morte por doença cardíaca na Europa e a primeira em Portugal, em pessoas com 65 ou mais anos.
Os custos anuais associados ao AVC na Europa, que vitima cerca de 1,3 milhões de europeus anualmente, somam cerca de 64 mil milhões de euros.
“Portugal é sexto país da Europa que mais gasta com o AVC em termos absolutos (cerca de 2,5 mil milhões de euros) e o segundo com custos per capita mais elevados (cerca de 240 euros)”, adianta o Grupo de Trabalho para a Prevenção do AVC, por FA.
Os doentes com FA têm uma probabilidade 50% mais elevada de morrer durante o ano seguinte (face a 27% dos doentes sem esta arritmia) e de ficar com incapacidade permanente.
Estes doentes constituem “um dos mais importantes grupos para reduzir o peso global, humano e económico dos AVC”.
Frequentemente a FA não apresente sintomas claros para um rápido diagnóstico, estimando-se que um terço dos doentes desconheça a sua condição, o que os afasta de qualquer terapêutica preventiva.
A verificação da pulsação irregular e um electrocardiograma podem ter um “papel crucial na melhoria da detecção de FA”. Já a terapia anticoagulante pode diminuir o risco de AVC, em cerca de dois terços destes doentes.
“Mesmo quando o diagnóstico existe, muitas vezes falha a prevenção ou a forma como é feita”. Estudos realizados em Itália, Alemanha e Espanha referem que apenas entre 25% a 57% destes doentes estavam sob terapêutica anticoagulante.
O cardiologista João Morais disse à Lusa que estes dados “não surpreendem”, espelhando uma realidade conhecida, principalmente dos médicos que lidam com as doenças cerebrovasculares, que “têm um peso brutal nas doenças do aparelho circulatório”.
João Morais salientou a importância da prevenção e do tratamento, para “minimizar os danos” desta doença.
“Na fase da prevenção, temos dois problemas centrais em Portugal que condicionam os elevadíssimos números que temos de AVC, a hipertensão arterial e a FA”, frisou.
João Morais adiantou que “é fundamental” que o doente que sofre um AVC ou que tem a percepção de que está a sofrer um ataque contacte rapidamente o 112.
Isto deve ser feito quando a pessoa sentir subitamente uma perda de força num braço ou numa mão, ter alterações de sensibilidade, ou os familiares referirem ter a boca ao lado, explicou.
O relatório define “nove linhas de acção indispensáveis” para evitar que “o AVC se transforme numa ainda mais alarmante crise de saúde”, entre as quais uma “maior e melhor informação” sobre a FA e o seu impacto na doença, a educação dos doentes, a sensibilização e educação dos médicos e o desenvolvimento de estratégias coordenadas para o diagnóstico precoce da doença.
O grupo de trabalho europeu é constituído por mais de três dezenas de académicos, clínicos e associações de doentes.
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