A mudança demográfica é uma realidade em todo o mundo. Estudando na França, a nutricionista e mestranda em alimentação, a gaúcha Fabiana Carrão, explica que o envelhecimento é um tema muito abordado na Europa, tendo em vista que a população com mais de 65 anos aumentou gradativamente, de 13,7% em 1990 para 17,4% em 2010 no continente. Segundo as previsões, em 2060, aproximadamente 30% dos europeus terá mais de 65 anos. O aumento do número das pessoas com idade mais avançada (aquelas com mais de 80 anos) é também acentuado. As previsões para esta faixa de idade é de quadruplicar até 2060.
Em Passo Fundo, conforme dados do IBGE, a população com mais de 60 anos é de aproximadamente 25 mil pessoas, sendo que as mulheres representam cerca de 60% do total. “Por ser um pólo regional, a cidade ainda é essencialmente jovem. Cerca de 80% da população é de pessoas de 0 a 59 anos. Mas uma característica que também tem chamado a atenção é a longevidade, que vem crescendo significativamente. Nesse quadro, as mulheres vivem mais, chegando em média aos 77 anos, enquanto os homens chegam aos 70”, esclarece o responsável pela Agência do IBGE local, Jorge Benhur Bilhar.
Envelhecimento ativo
Tantas mudanças demográficas têm repercussões sociais, econômicas e orçamentárias. O alto nível destes índices prejudica a manutenção dos sistemas de aposentadoria, dos serviços de saúde e de outros serviços públicos necessários aos idosos, de uma forma geral. Apesar de ser mais avançada no quesito serviços públicos, os modelos econômicos e sociais da Europa, ainda não são ideais.
(Apesar de ser uma cidade essencialmente jovem,o aumento da longevidade é notável no município, seguindo uma tendência mundial / FOTO SIRLEI PAZINATO)
Porém, lá a preocupação nesse sentido é grande. Por isso, várias ações estão sendo desenvolvidas e realizadas antes que os efeitos completos da aposentadoria da geração baby-boom (pessoas que nasceram entre 1946 e 1975) cheguem.
Muitos destes programas estão voltados para a promoção do envelhecimento ativo e saudável. O conceito de "envelhecimento ativo" refere-se ao fato de envelhecer com uma boa saúde, conservando plenamente o seu lugar na sociedade, mantendo-se realizado na sua vida profissional, autônomo na vida cotidiana e engajado como cidadão. Independentemente da idade: todos têm um papel a desempenhar na sociedade e têm o direito a uma melhor qualidade de vida. O desafio é maximizar o potencial individual, mesmo em idade avançada.
Nesse contexto, conforme Bilhar, o Brasil não tem se preparado adequadamente. “Houve melhoras de uma forma geral sim, prova disso é o aumento na expectativa de vida. Mas questões como saúde pública e acessibilidade para esse crescente número de idosos ainda são ineficientes e precisam ser corrigidas o quanto antes”, alerta.
Problemas previdenciários fazem o governo brasileiro pensar inclusive em aumentar de 60 para 65 a idade em que a pessoa é oficialmente considerada idosa, podendo elevar assim a idade em que o indivíduo venha a se aposentar, por exemplo.
(Dados do IBGE demonstram o aumento na longevidade / FOTO SIRLEI PAZINATO)
Mercado de trabalho
“Temos outro problema que transcende as questões políticas: A juventude brasileira não tem se preparado para envelhecer. Isso tanto quando o assunto é saúde quanto em relação a estabilidade financeira, pois muitos jovens encaram o trabalho sem o comprometimento necessário”, alerta Bilhar.
Juliana lembra que o aumento do número de idosos ativos e com boa saúde é considerado como um recurso valioso em países europeus e essa percepção têm ganhado espaço também no nosso país. “Aqui, cada vez mais a experiência tem sido considerada e isso leva a uma realidade que não se via antigamente: Muitas pessoas depois dos 45 anos sentadas em bancos de faculdade, por exemplo, e o aumento de vagas de trabalho abertas para essas faixas etárias”, explica Bilhar.
Planejamento
A estratégia Europa 2020 (estratégia do crescimento da União Europeia para o período de 2010-2020) pretende atingir uma taxa de emprego de 75% para as pessoas entre 20 e 64 anos de idade, e retirar pelo menos 20 milhões de pessoas da pobreza e da exclusão social até 2020.
Essas são questões que precisam, sem dúvida, serem abordadas por aqui, tanto pelo governo, que deve adequar os serviços públicos para atender essa nova demanda, quanto pela população em geral, que necessita aprender a respeitar e aceitar o idoso com parte atuante na sociedade.
Exemplo Francês
Por conta de uma taxa de natalidade maior, a França sente menos os efeitos do envelhecimento da população em comparação ao restante dos países da Europa. Mesmo assim, o número é bastante representativo, gerando preocupações. O Plano da França destinado à problemática do envelhecimento se chama “Envelhecer Bem” que apresenta como objetivo propor os passos de um caminho para um "envelhecimento bem sucedido" do ponto de vista da saúde individual, assim como das relações sociais, valorizando a organização e implementação de ações preventivas apropriadas. As cidades que atendem as orientações recebem a certificação "Envelhecer Bem, Viver Juntos".
Sequência
Nas próximas edições, com a colaboração da nutricionista Fabiana Carrão, traremos mais histórias e exemplos que vem da Europa. Na terça-feira, 2 de abril, acompanhe a história de um casal francês que trabalha ativamente, já na terceira idade.
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