Brasil - A expectativa de vida no Brasil aumentou 26,7 anos em sete décadas. Na média entre homens e mulheres, um brasileiro que nascia em 1940 tinha uma esperança de vida de 45,6 anos. Quem nasceu 70 anos mais tarde, em 2010, tem a expectativa de vida de 72,3 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para 2020, a projeção é ainda mais positiva: 77,9 anos.
Trata-se de um aspecto a se comemorar. Porém, ao mesmo tempo, quais os impactos que o aumento da longevidade do brasileiro causam para setores como a saúde e previdência social? E o mais importante: o País está devidamente preparado? "A sociedade não está organizada para receber este grande contingente de idosos que vem chegando. Não faltam leis e programas que, infelizmente, não são postos em prática", opina o geriatra João Senger.
Apenas os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com consultas, exames e internação hospitalar podem atingir, em 2030, R$ 63,5 bilhões, uma elevação de quase 149% em relação aos R$ 25,5 bilhões necessários em 2010, conforme estimativa divulgada em novembro passado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (Iess). Em termos de previdência, há a mesma preocupação com o acelerado salto dos gastos, pois o percentual de idosos deve passar dos atuais 12% para 35% em 2030.
"A população do Brasil está envelhecendo rapidamente, o que vai exigir toda uma infraestrutura nas grandes cidades. Se nos anos 70 o País precisava de muitos consultórios pediátricos, hoje a demanda é pelas clínicas geriátricas", compara o gerente de Projeto Componente da Dinâmica Demográfica do IBGE, Fernando Albuquerque.
Ele lembra que as estimativas em relação à expectativa de vida são feitas desde a década de 1940 e seu cálculo leva em conta a relação entre a taxa de mortalidade e a população total. As tábuas são usadas pela Previdência Social como um dos parâmetros para determinar o fator previdenciário no cálculo das aposentadorias do Regime Geral de Previdência Social. "Até 1940, a mortalidade infanto-juvenil era muito alta mas, após a Segunda Guerra, os programas sociais e os medicamentos existentes nos países desenvolvidos foram trazidos ao Brasil. Inicialmente, os ganhos principais foram para as crianças, com as campanhas de vacinação, mas foram estendidos a todos os grupos de idade’’, explica.
Falta estrutura para atender aos idosos
"Os países desenvolvidos envelheceram devagar e tiveram tempo para se preparar, mas o Brasil está dando saltos muito grandes e tem uma organização insuficiente para dar conta deste contingente de idosos", afirma a professora Geraldine Alves dos Santos, titular do curso de Psicologia, pesquisadora e orientadora do curso de mestrado em Inclusão Social e Acessibilidade da Feevale.
Segundo ela, à medida que a idade avança também aumentam as doenças crônico-degenerativas e, consequentemente, as internações e o uso de medicamentos, sobrecarregando o sistema de saúde. "Ainda não temos um número suficiente de instituições e cuidadores de idosos para atender à crescente demanda. Além disso, como são caros, poucas pessoas têm acesso a esses serviços", salienta. Na sua ótica, faltam grupos que realizem ações de prevenção aos idosos. "O número de idosos está aumentando, mas os atendimentos não. As políticas públicas são iniciadas, mas acabam descontinuadas, sobrecarregando as famílias. No Rio Grande do Sul, felizmente, as pessoas mais velhas recebem um bom suporte dos seus familiares", conclui ela, autora do estudo Síndrome da Fragilidade do Idoso, realizado ao longo de cinco anos e que mostra até que ponto é possível envelhecer com qualidade de vida.
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