Os problemas financeiros e laborais da unidade de cuidados continuados Atalaia Living Care, na Madeira, estão a levar à retirada de cerca de 120 utentes, que se sentem "despejados" nas vésperas de Natal.
A Secretaria dos Assuntos Sociais madeirense decidiu transferir os utentes para outros estabelecimentos da região uma vez que a direção do Atalaia Living Care informou que não está em condições de garantir "com segurança e qualidade" os cuidados a prestar aos idosos.
Os responsáveis da unidade referiram ainda que a partir de sexta-feira os trabalhadores administrativos e enfermeiros decidiram fazer cessar os seus contratos de trabalho devido aos ordenados em atraso.
Virgílio Fernandes é um dos utentes que foi transferido e manifestou à agência Lusa a sua tristeza pela situação.
"Para mim será um dos piores [natais], estávamos acostumados aqui e vamos embora", lamentou.
"Dá pena o pessoal que fica sem trabalho outra vez", disse, acrescentando que se "sentia bem, dava-se [bem] com toda a gente e era bem tratado".
Outro utente, Inácio Silva, que ali residia há nove meses também elogia as condições e o pessoal que trabalha na instituição, manifestando revolta pela situação.
"Sinto-me bem aqui tanto com as enfermeiras como com as auxiliares. Com as chefes não digo o mesmo...", admitiu.
"Eu vejo esta situação muito mal, isto não é arrumar gado dentro de um palheiro, ainda ontem [terça-feira] carregaram gente sempre à pressa, parecia que estavam carregando vacas e isso não é admissível com seres humanos", observou.
Inácio Silva referiu que ainda não sabe para onde será encaminhado, mas declarou que quer ficar na zona do Funchal: "para fora ninguém me leve, que eu não vou, armo guerra".
Apesar das exigências de alguns, o transporte dos utentes não para. Uns estão resignados, outros gritam e ainda alguns choram entre braços e beijos aos que lhes vinham prestando os cuidados diários. Enquanto isso, os seus pertences são colocados em sacos de plástico para serem levados para as outras instituições.
Os familiares tentam acompanhar o processo, como é o caso de José Abel Freitas, que tem um tio da mulher no Atalaia, que com os olhos lacrimejantes, declarou: "Sinto-me triste, estava contente porque ele estava num lugar bom mas, agora, não sei para onde é que eles o vão mandar".
"Ele estava cá desde o início e é triste fazer isto às pessoas idosas porque muitos não têm nem familiares que os venham ver, nem nada, era bem tratado, não tínhamos razões de queixa", constatou.
Outro familiar apreensivo é Armando Carreira, que também tem o sogro no estabelecimento e não escondeu que sente "um pouco de revolta" com esta situação.
"Quem está a sofrer são os utentes e os familiares", afirmou, referindo que o Governo devia tentar resolver o problema, reavaliando a questão.
Para Armando Carreira, a deslocação dos utentes para os concelhos de S.Vicente e Porto Moniz, no norte da ilha, vai "desenraizar" os utentes e colocar problemas aos familiares que ali os visitavam.
O presidente do Governo Regional e o secretário dos Assuntos Sociais admitiram esta semana que esta pode ser uma situação temporária, tendo Alberto João Jardim afirmado que o Atalaia pode voltar a funcionar depois de "expurgado dos espíritos malignos", pessoas que, considerou, "se intrometeram no caminho, pensando que iam ganhar dinheiro".
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