Brasileiros estão mais velhos e mais ativos


Expectativa de vida aumenta e idosos estão mais saudáveis. Baianos estão entre os que mais vivem mais. Elísia Lisboa nasceu em 1922. Teve oito filhos e voltou recentemente de uma viagem à Europa. Duas vezes por semana faz hidroginástica e ver os amigos. Do alto dos seus 90 anos, diz que não aborrece os filhos com suas necessidades pessoais. “Sou madeira de dar em doido, minha filha, mas resolvo tudo na minha vida”, afirma convicta, lembrando que tristeza não paga dívida.

Jandira Portela tem 84 anos e há 20 anos pratica ioga. Com três filhos, seis netos e dois bisnetos, diz que nunca fumou ou bebeu, mas que sempre gostou de namorar e de dançar. “A vida é maravilhosa, mas é preciso saber levar e viver sem remorso”, ensina.

De acordo com dados divulgados no último mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o brasileiro está vivendo mais. Para o médico Adriano Gordilho, que há 35 anos atua com geriatria, além de viver mais, o brasileiro está, aos poucos, quebrando um modelo antigo que associa envelhecimento com doença, perda de autonomia e independência.

“Envelhecer é uma etapa biológica, todos envelhecerão se tiverem sorte, no entanto, é preciso definir se o processo será bom ou não”, alerta o médico. “Muita gente tem medo desse processo porque está mal preparado para o envelhecimento”, completa.

Ele lembra que para se preparar para envelhecer não há grandes segredos, mas é preciso buscar uma vida mais equilibrada em todos os sentidos.

Segundo o especialista, envelhece bem quem ao longo da vida investe em prevenção através de vacinas, por exemplo, cuida da alimentação, pratica atividade física, evita comportamentos de risco (como fumar, beber e dirigir), mantém atividade intelectual e se mantém reconciliado consigo mesmo e motivado. “A genética influencia em 20% a longevidade do indivíduo, 60% são o estilo de vida e 20% são os fatores ambientais”, explica.

Quando questionado sobre casos como o do arquiteto Oscar Niemayer, que viveu 105 anos, lúcido, produtivo, mas sem grandes preocupações com uma vida muito regrada ou com o tabagismo, Gordilho salienta que essa elite biológica não é a regra na vida, mas uma privilegiada exceção genética que se aplica a pouquíssimos seres humanos.

Em atividade Há cerca de dez anos, os fisioterapeutas Artur Magnavita e Pablo Couto, do Espaço Cali, trabalham com a reabilitação de idosos, especialmente aqueles com problemas neurológicos e ortopédicos, e afirmam que nos últimos anos houve uma mudança significativa e positiva no comportamento das pessoas que querem envelhecer bem.

“Os pacientes idosos que buscam a atividade física reconhecem a importância dessa prática para permanecer funcional e independente, garantindo o equilíbrio e a superação de problemas comuns nos idosos, como as quedas, por exemplo”, esclarece Magnavita.
Pablo Couto ressalta que mais que se manter ativo e bem condicionado, a atividade física ainda possibilita que o idoso estabeleça as relações sociais que, muitas vezes, o afasta da depressão.
“Nos momentos de encontro, eles contam com a possibilidade de manter outros vínculos além do familiar, isso é importante porque enriquece suas rotinas”, pontua. O fisioterapeuta ressalta ainda que como o grupo é visto com uma frequência maior que os médicos, muitas vezes, é possível antecipar um problema maior de saúde.
Para os fisioterapeutas, é fundamental que o idoso se mantenha em atividade e ativo. “Por isso, além de incentivarmos a atividade física regular, lembramos aos familiares que é importante que eles continuem tendo o domínio do espaço domiciliar, mesmo que para isso algumas mudanças precisem ser executadas como o aumento da iluminação, a retirada de tapetes e a colocação de barras de apoio”, pontua Couto, ressaltando que essas medidas simples oferecem mais segurança.

Geração Z
O neurocientista e geneticista italiano Edoardo Boncinelli, autor do livro “Carta a um menino que viverá 100 anos – como a ciência nos fará (quase) imortais”, publicado pela editora Guarda-Chuva, afirma que 50% da geração nascida na segunda metade da década de 90, conhecida como geração Z, chegará aos 100 anos.

“A sociedade está mudando e a ciência, a técnica e a medicina deram e continuam a dar passos de gigante, com efeitos antes impensáveis: vivemos mais tempo, envelhecemos melhor e mais lentamente”, afirma categoricamente.

Para ele, esse cenário de quase ficção científica se deve, sobretudo, aos avanços da Medicina, especialmente, as recentes descobertas da genética e da Medicina Regenerativa, aliados à pesquisa sobre os genes, que permitirá um envelhecimento mais brando ou um retardo do processo de degeneração celular que caracteriza o envelhecimento.

Especialista em reprodução humana, a médica e cientista Bela Zauszner confirma a teoria do colega italiano e lembra que hoje, a ciência permitiu que as pessoas, independente da idade ou do estado de saúde, possam fazer planos sobre sua vida e seus herdeiros.

Ela cita, por exemplo, que as mulheres conseguiram driblar etapas do envelhecimento natural, como a menopausa, optando pela maternidade com idades nunca pensadas anteriormente. “As mulheres congelam seus óvulos e decidem quando e como serão mães sem grandes preocupações com o relógio biológico”, diz a médica.

Ela pontua ainda que a possibilidade de congelamento de esperma, óvulos, a terapia celular e os tratamentos com células tronco, cordões umbilicais deixaram de ser algo dado apenas para uma elite financeira e se tornaram acessíveis, inclusive, com a possibilidade legal de ter esses custos cobertos pelos planos de saúde.

“Essas mudanças não impactam apenas na longevidade, mas determinam transformações significativas na própria estrutura social, que hoje vê crescer novos modelos de família, com casais formados por dois homens ou duas

mulheres, ou ainda casais onde há uma mulher madura e homem mais jovem ou homens maduros e mulheres jovens, que apostam numa vida plena e com filhos”, completa.
Apesar da violência, baianos vivem bastante

Segundo o geriatra Adriano Gordilho, a Medicina ainda não consegue explicar o motivo da longevidade baiana, uma vez que as condições ambientais e a qualidade de vida estejam longe de serem consideradas ideais, mas o fator hereditário poderia ser um determinante.
Os dados estatísticos mostram também que as mulheres têm mais chances de alcançar o centenário. Isso porque além do componente genético, os homens são as maiores vítimas da violência.

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