Novos conhecimentos vêm acompanhados de socialização e manutenção do nível de atividade
"O computador abre os horizontes para o mundo moderno. Os cursos me deram uma atualização", diz José Mário Motta, de 76 anos
O vovô e a vovó voltaram para a escola. E eles passaram a ter e-mail e a trocar mensagens e fotos por computador com seus filhos e netos. Na carteira de sala de aula, eles aprendem inglês, espanhol, filosofia, história e psicologia, além de curso de memória, teatro, artes, tai-chi, novas tecnologias, sexologia na terceira idade e canto, entre outros. As universidades privadas, antes focadas em jovens que acabaram de deixar o ensino médio, estão descobrindo um novo e promissor filão: os alunos da chamada melhor idade. Os alegres estudantes grisalhos passaram a dividir o espaço com os jovens nos horários da tarde das escolas, que muitas vezes é ocioso.
Em Belo Horizonte, Estácio de Sá, Fumec e Uni-BH têm centenas de alunos idosos em seus cursos de extensão, com mensalidades que vão de R$ 80 a R$ 250 por mês. A quinta reportagem da série “Vida nova”, publicada pelo Estado de Minas desde domingo, mostra o mercado da educação para a terceira idade.
Na Uni-BH, a Escola da Maturidade foi criada em 2010, com uma turma de 20 alunos, e hoje se divide duas turmas, com 70 estudantes no total. No próximo semestre, a escola se prepara para abrir nova unidade, em Lourdes. São oito matérias curriculares e duas optativas escolhidas a cada seis meses pelos alunos. “Além de melhorar a autoestima dos estudantes, o curso ajuda a estimular o organismo e prevenir doenças”, afirma a psicóloga Ana Paula Dias Ladeira, coordenadora da Escola da Maturidade da instituição.
O Programa da Maturidade da Faculdade Estácio BH também começou tímido. Em 2004, eram 30 alunos. Hoje são 350. “A terceira idade quer consumir, viajar, ser respeitada”, diz Marlon Wallace Simões, coordenador do curso. Segundo ele, o objetivo da faculdade para quem já se aposentou é reunir conhecimento, cultura e relacionamento. “É um projeto que se sustenta. A terceira idade tem recursos para investir em educação”, afirma. Por semestre, o valor do curso é de aproximadamente R$ 1,2 mil.
"Aprendo muitas coisas na faculdade e estudo também em casa. O investimento compensa muito", afima Cecy Hazan, 84 anos
O Núcleo de Estudos Escola da Terceira Idade da Fumec já chegou a receber alunos com até 90 anos. “Alguns alunos chegam aqui em processo até meio depressivo, mas logo se soltam. O curso ajuda a melhorar a qualidade de vida, interação e socialização. Os idosos passam a ter uma atividade que é só deles, além de cuidar de neto e da casa”, avalia Rosália Moreira Coenza, coordenadora do curso.
Elegantemente vestida, com brincos de pérola, colar, anel e blusa de renda, Cecy Hazan assiste à aula de estética e bem-estar. Ela completou 84 anos e desde janeiro vai à escola. Estuda línguas, faz aulas que abordam de nutrição a história. Mãe de cinco filhos, de quem fez questão de cuidar sem a ajuda de babás, e avó de oito netos, Cecy conta que não consegue ficar parada. “Estou sempre procurando algo para fazer. Por isso decidi estudar. Venho às aulas três vezes por semana e tenho aprendido muito.”
O e-mail passou a fazer parte da vida de Maria Elizabeth Atheniense, de 70 anos. Ela também conheceu há pouco tempo os benefícios da ioga. Ela acaba de entrar para a Escola da Terceira Idade, na Uni-BH. “Eu me aposentei, mas ainda tinha muita vontade de aprender”, diz. Depois de vender a loja de condimentos no Mercado Central, onde atuou por toda a vida, Maria Aparecida de Oliveira, de 75 anos, decidiu fazer alguma coisa fora de casa. Ela é casada, tem cinco filhos, 13 netos e dois bisnetos. Maria Aparecida conta que acertou em cheio ao voltar a estudar. “Eu fiquei mais extrovertida. A gente já cresce só com o fato de sair de casa, se arrumar e ir para a escola”, afirma.
"Aprendo línguas, e, com a turma da faculdade, fiz intercâmbio de três semanas em Londres. Foi ótimo!", diz José Francisco Ruchkys, 67 anos
INTERCÂMBIO Ele se aposentou na área de treinamento da Petrobras, é ceramista no tempo livre e, antes de encontrar seu grande amor na juventude, acumulou cultura e conhecimento no seminário. A faculdade que começou a frequentar no ano passado foi ideia da filha, professora universitária. José Francisco Ruchkys, 67 anos, acaba de chegar de intercâmbio de Londres. Ele viajou com a turma da faculdade aprimorar o inglês na Inglaterra. Na viagem, a esposa, que também é aluna da faculdade, aproveitou para comprar produtos como um iPad e iPhone. José Francisco domina bem o computador e no próximo semestre vai investir no curso de novas tecnologias.
José Mário Motta, de 76 anos, trocou o quadro negro pela cadeira de escola. Ele é advogado criminalista aposentado e foi professor universitário por 23 anos. Agora, faz diversos cursos de extensão nas escolas. “Arranjei uma espécie de lazer”, diz. Ele é um dos poucos homens do curso para idosos da Uni-BH, que tem hoje 67 mulheres e somente três alunos do sexo masculino. A decisão de voltar para a escola aconteceu depois que teve um infarto, em 1998, quando precisou se submeter a duas cirurgias. “Eu pesava 93 quilos e não fazia atividade física. Hoje estou com 65 quilos, faço exercícios diariamente e cavalgo no fim de semana. É por isso que estou bonito e elegante assim”, afirma.
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