O Dia do Idoso, que foi comemorado ontem, não teve motivo para muitas celebrações na região. Esses consumidores, em grande parte aposentados, na maioria das vezes deixam de lado seus desejos para contribuir com a sobrevivência dos seus familiares. Poucos são aqueles que desfrutam na totalidade de sua remuneração. Isso porque a cada dez domicílios no Grande ABC, em sete pelo menos 25% da renda vem dos integrantes com 60 anos ou mais.
A situação se torna mais grave quando agregado o maior custo de vida dos mais velhos. Eles, pelos anos já enfrentados, são obrigados a desembolsar boa quantia do orçamento com consultas médicas, exames, medicamentos e alimentação especial. Motivos que enfatizam a necessidade de utilizarem suas rendas na integralidade.
As informações são recorte da última pesquisa socioeconômica da região e foram concedidas pelo coordenador do Inpes/USCS (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano), Leandro Prearo. O estudo não aponta quantas pessoas realmente gastam suas aposentadorias com despesas do domicílio. "Temos que considerar os ganhos psicológicos para eles. Muitas vezes as famílias acolhem e dão assistência a eles", pontuou Prearo.
Mesmo assim, basta conversar com o público da terceira idade que alguns valores vem à tona. Este é o caso do andreense Isaias Urbano da Cunha, 72 anos. Atualmente ele contribui com a família, sem se lastimar, pagando os planos de saúde da filha, neta e bisneta. Se orgulha por ajudar seus parentes queridos, mas reclama da situação atual dos colegas. "Só consigo fazer isso porque conto com mais de uma fonte de renda, não só como aposentado. Se dependesse apenas da aposentadoria, não teria dinheiro para o meu próprio convênio médico", disse.
Se considerar o número de pessoas nas famílias, aumenta a possibilidade de que a renda do idoso no Grande ABC não vá, na totalidade, para ele, calcula o especialista em finanças pessoais da MoneyFit André Massaro. "Se 70% das famílias têm no mínimo 25% da renda proveniente dos idosos, significa que esse dinheiro, grosso modo, pode ser um quarto das despesas do domicílio. E famílias com idosos, geralmente, têm mais de quatro pessoas." Portanto, os integrantes da terceira idade ficam com fatia menor do que a sua contribuição. Em média, os domicílios com idosos que não são chefes de família têm 4,41 moradores, aponta o recorte do Inpes/USCS.
Em contato com um grupo gigante da terceira idade, o assessor da diretoria da Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, Ewander César de Moraes, conta que já viu de tudo com associados. "Os filhos e parentes sempre querem mais deles. Muitas vezes nem a renda dos idosos e aposentados é o suficiente para os familiares. Estou acostumado a vê-los emprestando o nome para que os filhos peguem empréstimos consignados."
Para combater esse tipo de atitude, que pode prejudicar a vida financeira e o acesso ao consumo do idoso, Moraes conta que a associação realiza trabalho de orientação sobre consignado e atua como correspondente da Caixa Econômica Federal para liberar crédito aos associados. "Temos funcionários treinados para apurar se o aposentado precisa, realmente, do dinheiro, ou se é para outra pessoa. Se constatamos que é para um filho, por exemplo, passamos orientações. Mas não podemos impedir que emprestem."
Residência com chefe aposentado tem maior renda
A renda média mensal das famílias cujos chefes são pessoas com 60 anos ou mais, de R$ 3.870 - valor referente a março -, é 7% superior aos domicílios nos quais os idosos são apenas integrantes, revela recorte da pesquisa socioeconômica do Inpes/USCS (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano).
Coordenador do instituto, Leandro Preado explicou que essa discrepância pode ser explicada pela diferença da remuneração de cada um dos grupos.
"Onde o idoso só participa da renda, provavelmente ele é um agregado a mais dentro daquela família. Esse domicílio deve ter indivíduos ativos e ele vem para somar com o rendimento", esclareceu o especialista do instituto.
Por outro lado, quando o idoso é o chefe da família, normalmente, ele já está inativo e tem remuneração das transferências do governo federal, com aposentadorias ou anistias.
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