Depois de lutar contra bulimia e depressão, a atriz americana chega aos 74 anos celebrando a passagem do tempo. No fim de outubro, vem ao Brasil lançar “O Melhor Momento”, livro em que conta como chegou lá
JUVENTUDE: A ATRIZ NOS ANOS 60
É compreensível que Jane Fonda não estivesse preparada para envelhecer. Símbolo sexual desde os anos 60, quando interpretou a astronauta sexy de "Barbarella", a atriz sempre deu à estética um dos papéis principais de sua vida. A busca pelo corpo perfeito a levou a produzir uma série de vídeos com exercícios aeróbicos. Entre gravações e livros de ginástica, foram mais de 17 milhões de cópias vendidas e uma obsessão que lhe saiu caro: quase 20 anos de luta contra a bulimia. Hoje, aos 74, ela jura saber lidar com os limites da idade e escreve sobre o que aprendeu com as próprias mazelas em “O Melhor Momento” (Companhia das Letras, 348 págs., R$39,90), que chega este mês às livrarias do Brasil.
A obra reúne passagens importantes de sua vida, como o suicídio da mãe, a socialite Frances Ford Seymour, a luta contra um câncer de mama e os quatro casamentos – com o cineasta francês Roger Vadim, o ativista político Tom Hayden, o magnata Ted Turner e o produtor musical Richard Perry, com quem está há três anos. O livro ainda dá receitas de exercícios físicos para o que ela chama de “terceiro ato” e fala sobre sexo, masturbação e o amor depois dos 70. De Los Angeles, Jane falou à Marie Claire. Aqui, os melhores trechos da conversa.
A IDADE DO "DANE-SE"
“Quando fiz 70 anos, percebi que nunca havia sido tão feliz como sou hoje. Minha juventude não foi fácil.Venho de uma família com um histórico de depressão profunda (a mãe, o pai, o avô paterno e primos sofriam da doença). Para entender esses ‘porquês’, resolvi escrever um livro sobre a velhice, incluindo o fato de eu mesma me sentir mais feliz agora. Descobri que pessoas acima dos 50 são mais plenas, sejam elas homens ou mulheres, casadas ou divorciadas. Cometi muitos erros, atravessei grandes crises pessoais e profissionais e sobrevivi. Por isso digo que os 50 são os anos do foda-se. Entramos menos no jogo de marketing. Não vou aceitar mais qualquer merda que me prometa felicidade, entende? Sei o que preciso para ser feliz. Desde que fiz 50 anos, parei de estar perto de quem não gosto para estar realmente perto de quem eu amo.”
MEDO DA MORTE
“Nunca pensei que eu fosse mesmo envelhecer (risos). Achava que morreria antes disso. Mas nunca tive medo da morte. Tinha medo de envelhecer com remorsos e arrependimentos, de chegar à velhice com uma lista de coisas que eu gostaria de ter feito e que, por algum motivo, não consegui. Antes de morrer quero ir mergulhar nas ilhas Fiji. Amo a sensação de estar no mar.”
COMPAIXÃO COM OS HOMENS
“Antes, quando um homem brochava, eu achava que era minha culpa. Com o tempo, vi que não é bem assim. Dormi mais de dez vezes com o meu primeiro marido (o cineasta francês Roger Vadim) até que ele tivesse a primeira ereção. Acabamos nos casando. Há muitas coisas deliciosas para fazer mesmo quando o homem não está com o pênis duro. É importante entendermos que a ereção, ou a falta dela, tem milhares de motivos que nada tem a ver com a gente. Compaixão é a melhor palavra para enfrentar a impotência sexual masculina em qualquer idade. E mais: qual o problema em perder o desejo? Não vejo nada de ruim nisso. Eu continuo ativa e gosto de sexo. Mas isso não quer dizer que todos sejam assim. Muitas dizem que já viveram seus grandes amores e simplesmente não querem mais isso.”
À ESQUERDA, JANE FONDA COM SEU ATUAL MARIDO RICHARD PERRY. NA FOTO AO LADO, O NOVO LIVRO OMELHOR MOMENTO
UM MARIDO OU TRÊS
“No livro cito o comentário de uma amiga que diz que a mulher precisa de três maridos na vida: um na juventude, outro para constituir família e outro para a maturidade. Infelizmente, encontrar um homem que consiga nos acompanhar nos três estágios da vida não é fácil. Invejo as pessoas que conseguiram. Gostaria de ser uma delas e ter tido apenas um marido durante toda a vida.”
CUIDADOS COM O CORPO
“O mais importante na terceira idade é fazer o tipo de exercício que você sempre gostou, mas em um ritmo diferente. Se jovem gostava de correr, ao envelhecer, o melhor é caminhar rápido. A dança também é um exercício excelente para todas as idades.Durante as pesquisas que fiz para escrever o livro, fiquei tão impressionada com os benefícios do exercício físico que voltei ao mercado de fitness, do qual havia saído há 15 anos. Hoje faço DVDs com séries de ginástica como antes, mas voltados para as pessoas mais velhas.Virou um best-seller.”
A MÃE
“Quando escrevi meu livro de memórias ("Minha Vida Até Agora", 644 págs., R$62,90, Ed. Record), me dei conta do que eu havia me tornado. Minha história não teria sido tão boa se não tivesse vivido as coisas que vivi. Mas foi só ao escrever essa ‘revisão da vida’ que consegui ir mais a fundo no porquê sou como sou. Um dos momentos mais importantes dessa revisão foi quando descobri que minha mãe (a socialite Frances Ford Seymour) havia sido abusada sexualmente aos oito anos de idade pelo afinador de pianos (um dos poucos homens que frequentava a casa dos Fonda, porque o avô materno de Jane era esquizofrênico paranoico). O outro, foi quando revivi o suicídio dela, que já estava internada numa clínica quando se matou. Eu tinha apenas 12 anos na época e senti muita culpa até o momento em que escrevi minha história. Foi aí que me dei conta de que o suicídio dela não tinha nada que ver comigo. Não conhecia minha mãe muito bem: ela sofria de depressão. Superei meus traumas de infância com essa volta ao passado.”
O PAI
“Meu pai (o ator Henry Fonda) era um homem maravilhoso. Sinto muito sua falta. Ele me ensinou muitas coisas. Mas não era um homem que sabia como expressar seu amor, era crítico demais. Sempre me fez sentir uma gorda. Me fazia acreditar que, se eu não fosse perfeita, não seria amada. Isso teve um impacto gigantesco em mim. Sofri de bulimia por anos. Mas ninguém é perfeito, não é mesmo?”
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