A velhice e a doença destas pessoas se tornaram um “fardo” para parentes que as abandonam em hospitais e asilos à mercê de sua sorte. Por incrível que possa parecer, muitas vezes são os próprios filhos que não prestam a assistência que deveriam prestar aos pais.
De acordo com a Assessoria de Comunicação Social do Hospital Santo Antônio, das Obras Sociais de Irmã Dulce (Osid), a maioria dos casos é de pessoas que foram abandonadas pela família “no mundo” ou abandonaram suas famílias para viver na rua (brigas, drogas, álcool, etc.) e, por algum motivo, vieram parar no hospital, muitas vezes sem referência ou documentos.
E também quando trazidas pelas famílias para algum tratamento e acabaram ficando mais do que deveriam porque a instituição ainda tem a imagem fortemente atrelada ao perfil de abrigo, ou por alguma impossibilidade alegada pelas famílias para recebê-las de volta.
A assistente social Joseli das Neves Santos conta que recentemente houve o caso de uma paciente internada na Clínica Médica do Hospital Santo Antônio, com distúrbio psiquiátrico (esquizofrenia). “Ela passou mais de um mês internada, entre agosto e setembro passados. Veio transferida do Hospital São Jorge, onde deu entrada pela emergência. Não tinha documentação e não conseguia dar referências de familiares nem de endereço”, narrou.
Neves prossegue na história: “O serviço social acabou descobrindo, depois de um tempo, que essa senhora morava com uma irmã. A família contou que tinha medo de ela se jogar da laje e, num dia em que essa senhora estava muito agitada, deixaram-na sair para se acalmar, acreditando que ela retornaria. Resultado: ela ´sumiu no mundo´, passou a perambular pelas ruas e acabou recolhida ao Hospital São Jorge e transferida para cá”, afirmou.
Há outro caso na clínica médica da Osid de um morador de rua que, conforme informou a assistente social, “chegou à instituição completamente desorientado e sem documentos, no dia 7 de setembro, também transferido do São Jorge. Ele havia sido recolhido por uma equipe de abordagem de rua do Cras (Centro de Referência em Assistência Social), ligado à Sedes. Como não tem referência familiar, deverá ser encaminhado para um abrigo da prefeitura assim que tiver alta”, sinalizou.
Localização familiar
Já no CMSalp (Centro Médico Social Dr. Augusto Lopes Pontes), núcleo da Osid com 140 leitos que atende a pacientes crônicos (longa permanência) com perfil de problema social, atualmente há 15 pacientes internados que já poderiam ter ido para casa, mas que permanecem por conta da dificuldade de encaminhamento (ou localização) para as famílias ou para algum albergue ou abrigo.
Há um caso, por exemplo, da senhora que vivia com uma família desde os seus 14 anos. Criou os filhos, netos e bisnetos dessa família. Agora, pela terceira vez internada (há dois anos na instituição, por conta de uma úlcera na perna), ela já tem alta médica, mas está sendo rejeitada pelas pessoas com quem viveu todos esses anos.
A assistente social Joseli Santos disse que “quando liguei para a família para comunicar que a senhora já poderia ir pra casa, a pessoa do outro lado da linha se esquivou: mas ela não é minha parente”, informou, acrescentando que no caso dos paciente esquecidos, o hospital tenta a localização e a reaproximação com a família ou encaminhamento a albergues. Quando idosos, aciona-se o Ministério Público, com o intuito de garantir-lhes o benefício social.
30% dos idosos não recebem visita
O Abrigo Dom Pedro II, administrado pela Prefeitura Municipal de Salvador através da Secretaria Municipal do Trabalho, Assistência Social e Direitos do Cidadão (Setad), abriga 70 idosos, na faixa de 60 a 98 anos. De acordo com informação da Coordenadora de Proteção Social e Especial, da Setad, Daniela Cova, “30% dos idosos têm relação completamente rompida ou chegou sem nenhuma família. Há casos em que a pessoa nunca se casou, não tem filhos e os irmãos já morreram”, explicou.
A coordenadora disse que a situação é muito delicada, mas quando a família leva o idoso, deixa o contato e constantemente o pessoal da assistência social liga e no caso das pessoas recolhidas nas ruas “a gente faz um trabalho, faz uma busca.” Para ela, o mais importante é a questão da afetividade, porque no caso do abandono se pode levar ao Ministério Público, no entanto "mas no caso da afetividade a gente não pode obrigar a nada porque há casos de idosos abandonados dentro de uma casa, sem carinho dos familiares", lamentou.
Mas em meio a todas as perdas destas pessoas, há finais felizes como contou Daniela Cova. “Um senhor que estava em situação de rua, afastado da família há muito tempo, trouxemos para cá. Os familiares eram do Maranhão e após o nosso trabalho de busca, localizamos a família, que veio buscá-lo”.
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