A descoberta de novas drogas e a evolução de técnicas médicas têm mudado o perfil dos pacientes que recebem transplante de medula óssea de doador - aparentado ou não. Há 15 anos, por conta dos riscos, pessoas com mais de 55 anos não eram submetidas ao procedimento. Hoje, hospitais particulares e universitários já fazem o transplante naqueles com mais de 70 anos. A mudança no perfil do transplantado foi um dos temas do 16.º Congresso da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO), em agosto.
Dois estudos recentes dão esperanças às pessoas com mais de 70 anos que precisam de transplante de medula óssea de um doador, os chamados transplantes alogênicos. Um deles foi o levantamento feito pelo Registro Internacional de Transplante de Medula Óssea (CIBMTR, na sigla em inglês), com base em outras pesquisas, que encontrou resultados similares em pacientes jovens e idosos para o chamado transplante não-mieloablativo - isso quer dizer que a medula óssea do paciente não precisou ser bombardeada por altas doses de radioterapia ou químio.
"Os médicos chegaram à conclusão de que nem sempre é necessário. Pode-se dar menor dose de químio ou de rádio, só para permitir que a célula do doador seja enxertada no paciente. Essa célula é capaz de fazer algumas reações imunológicas e lutar contra a doença, como, por exemplo, a leucemia", explica Nelson Hamershlack, hemoterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein e sócio fundador da SBMTO.
Essa é uma das técnicas utilizadas no Hospital Universitário da Unicamp. "Ela reduz de maneira importante a toxicidade do procedimento. É uma técnica consolidada no mundo inteiro e no Brasil e permitiu que pessoas mais combalidas fizessem o transplante", afirma o onco-hematologista Carmino Antonio de Souza, presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).
Outro estudo foi feito em parceria pelo MD Anderson Cancer Center, no Texas, e o Einstein. Nesse caso, foram analisados 79 pacientes, com idades entre 55 e 76 anos, que tiveram a medula suprimida (transplante mieloablativo) com medicamentos mais modernos e menos tóxicos. "Esse estudo mostrou que em pacientes sem doenças associadas, como diabetes, hipertensão, cardiopatias, os resultados também foram semelhantes aos dos mais jovens", aponta Hamershlack. Dos pacientes, 71% tiveram remissão completa.
Para o médico, os dois estudos "documentam" que o transplante alogênico é possível em pacientes mais velhos, dependendo do tipo de doença e a condição física. "Nosso pleito ao Ministério da Saúde é de expandir a idade dos pacientes. Há um envelhecimento da população por causa da melhor qualidade de vida. Nessa idade mais avançada, doenças como leucemia e síndrome mielodisplásica são mais prevalentes", afirma o médico. "A SBTMO já chegou a um consenso. Há possibilidade de expandir a idade do paciente, em vez de privá-lo dessa solução terapêutica importante."
Hoje, a portaria ministerial estabelece que o Sistema Único de Saúde (SUS) reembolsa gastos com transplantes autólogos (em que são usadas as células-tronco do próprio paciente) em pessoas com até 75 anos; transplante de doador aparentado, com supressão da medula, para aqueles com até 65, e até 60 anos para transplante com doador não aparentado. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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