Apesar de portadores do vírus HIV terem qualidade de vida superior em relação à década de 1980, quando foram diagnosticados os primeiros casos, ainda são registrada 11 mil mortes por ano no país. A falta de tratamento leva à condição de debilidade extrema e é causa para o alto número de mortes.
Mas ao contrário do que se pensa, o chamado “grupo de risco”, em Mato Grosso, não está entre aqueles que se prostituem e seus clientes, muito menos entre homossexuais. A terceira idade representa 60% dos casos registrados nos últimos seis anos.
De acordo com o médico Ivens Cuiabano Scaff, o cenário no estado é um pouco diverso do resto do país. Ele conta que a epidemia ainda não foi controlada e encaminhou para a terceira idade. “De cada dez pacientes portadores do vírus que atendo, seis são esposas, heterossexuais, que foram contaminadas por seus parceiros”, conta. O aspecto mais preocupante desse novo comportamento social é o fato de que o vírus potencializa doenças cardiovasculares, mesmo quando ele está mais controlado.
Ou seja, se até o momento a tecnologia de medicamentos diminuiu em até 90% os riscos de transmissão e melhorou a qualidade de vida de soro positivos, é preciso voltar os olhos para os idosos. “Esse é o desafio mais moderno, pois é muito mais difícil diagnosticar esses casos devido às condições da idade, e acabamos descobrindo só quando um dos parceiros adoece”, explica Scaff.
O médico ainda recomenda que o exame de HIV deva fazer parte da rotina, já que quanto antes o diagnóstico é apresentado, menores serão os riscos de que o paciente desenvolva outros tipos de doenças das quais ele está vulnerável. Isso acontece porque portadores da Aids estão sujeitos a se contaminarem, uma vez que o vírus age diminuindo as defesas do organismo. Se não tratado, o paciente pode chegar a óbito por uma simples gripe.
No caso de idosos ainda tem o agravante de doenças
características à idade, como é o caso de anomalias relacionadas ao coração e ao sistema circulatório como um todo.
“Como não podemos sempre pedir exame, porque pela lei brasileira o ato pode ser considerado discriminação, é mais complicado, mas eu sempre recomendo aos meus pacientes que façam”, diz o médico. Uma das curiosidades nesse novo perfil é que as mulheres, geralmente, aceitam melhor que os homens e assumem as responsabilidades da casa. Quanto possíveis crises no relacionamento, Ivens conta que, pelos casos que tem acompanhado, não são frequentes. “Se a situação é essa, agora é daqui para frente”, conta ao médico uma das mulheres que contraiu o vírus do marido.
Para Ivens Scaff, faltam políticas públicas para esse público considerando a abordagem adequada. “O HIV não escolhe idade e, no caso do idoso, é um organismo mais sensível e propenso a desenvolver as patologias relacionadas ao vírus”, analisa. Outro ponto fundamental e que merece atenção por parte de órgãos públicos é o fato de que medicamentos usados no tratamento de doenças cardíacas entram em conflito com o coquetel antiaids.
Camisinha não - Na rede pública de saúde da Capital, palestras sobre o tema são realizadas nas reuniões de grupos de idosos. De acordo com a coordenadora do grupo de idosos da Policlínica do Planalto, Alice Magalhães, as palestras orientam esse público quanto às doenças sexualmente transmissíveis (DST). Ela conta que quando detectado algum caso, o paciente é encaminhado ao SAE. “Mas é difícil mudar a cultura e os costumes de um idoso, fazer com que eles usem camisinha é uma tarefa complicada”, conta.
“Nem sempre os parceiros querem usar, mas se não quer a gente vai mesmo assim”, conta uma senhora que participa do grupo da terceira idade. A equipe de reportagem do Circuito Mato Grosso esteve em um local onde é realizado baile para esse público e, de acordo com relatos, ali começam os namoros. “Depois daqui a gente vai pra casa”, conta ela, admitindo ter amigas que já contraíram doenças sexualmente transmissíveis. “Mas ninguém fala muito disso, fica na intimidade da pessoa”, conclui.
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