Ela viu a construção do Açude de Bodocongó (1917), a inauguração do Mercado Público de Campina Grande (1925), que depois se transformou em Feira da Prata, além da inauguração do edifício dos Correios (1933), e principalmente viu de perto o crescimento da Liverpool brasileira, quando Campina Grande ganhou status como a segunda maior produtora de algodão mundo. Assim foi o início da vida de dona Maria Celestina dos Santos, agricultora que nasceu em 1910 e passou toda sua vida acompanhando o crescimento da riqueza oriunda da terra.
Tal época, a do ouro branco, iniciada na década de 1940 e eternizada nos livros de história de Campina Grande, assim como fatos que marcaram o surgimento da Rainha da Borborema, hoje são apenas lembranças distantes na cabeça dessa senhora de 101 anos, que faz parte de um seleto número de paraibanos que romperam a fronteira de um século de experiência e ainda servem de inspiração para a vida de muita gente.
De acordo com o senso realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 757 paraibanos completaram cem anos, ou superaram essa marca deixando para a trás a média de expectativa de vida do brasileiro que, também segundo o IBGE, é de 73 anos. Desse total, 234 são homens e 523 são mulheres que confirmam que elas têm mais tempo na terra que eles. Só em João Pessoa são 22 senhores e 90 senhoras nessa faixa etária, enquanto que em Campina Grande, 19 vovôs e 58 vovós completavam o grupo que pode ter aumentado um pouco, ou ainda hoje estar desfalcado. Os demais vivem em outras cidades paraibanas.
Próxima a completar 102 anos, no próximo dia 5 de julho, as marcas do tempo são muitas. Sem enxergar há cinco anos, após ser vítima de glaucoma, e com dificuldades para escutar em um dos ouvidos, dona Maria Celestina encontra nos sete filhos, 25 netos, 15 bisnetos e oito tataranetos seu combustível para viver.
Apesar de atualmente não estar próxima de todos, ela diz ainda se recordar de quando sentiu o calor da presença de todos na casa de uma de suas filhas, Maria José Fernandes, 60 anos, moradora do distrito de São José da Mata.
“Foi na minha missa”, limitou-se a agricultura aposentada se referindo à festa centenária de aniversário que foi relembrada pela filha como um dos momentos mais emocionantes da história da família. “A gente conseguiu reunir todo mundo aqui e foi celebrada uma missa para comemorar os 100 anos de mamãe.
Foi muito bonito. Ela é um exemplo de vida para todos nós”, contou Maria José, que garantiu que a mãe ainda vai todas as semanas à igreja e nunca mudou o cardápio por conta da idade e saúde.
“Ela tem uma saúde de ferro. Só gosta de comer comida que dá força. Ela pede pra fazer pirão de mocotó, feijão preto, come farinha. Acho que é isso que dá força a ela para passar o dia acordada com a gente e ir pra igreja toda semana. Lá já tem o lugarzinho dela”, contou Maria José.
Perguntada sobre o lado bom de viver muito, a tataravó demorou a responder, mas não deixou de surpreender até quem convive com ela. “Eu gosto de viver com minha família”, apontou, que com mais facilidade foi direta em falar se há um lado ruim de ultrapassar os cem anos. “Sinto saudade das minhas amigas.
Todas já morreram”, disse cruzando os braços e reclamando com mais frequência do frio que sente diariamente.
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