O ortopedista Dr. Marcelo G. Cavalheiro lista e esclarece as principais dúvidas sobre o assunto. Os quadris são articulações muito estáveis que conectam as pernas ao tronco. Eles têm como função sustentar todo o peso do corpo, possuindo uma grande capacidade de carga. Apresentam uma anatomia precisa e única, resultando em uma biomecânica que consegue conciliar “força” com grande capacidade de amplitude de movimento. Porém, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre situações que podem colocar a articulação em risco.
Para ajudar a esclarecê-las, o ortopedista Dr. Marcelo G. Cavalheiro, integrante do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e coordenador da divisão de Artroscopia do Quadril da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), listou 10 mitos e verdades sobre lesões nos quadris. Seguem abaixo:
1. Fratura do quadril em idosos pode levar à morte.
Verdade. Pesquisas mostram que a fratura do quadril é a lesão ortopédica que mais resulta em morte devido às suas consequências diretas e indiretas. De todas as fraturas associadas à osteoporose, as que apresentam maiores consequências para a qualidade de vida do indivíduo são as da extremidade proximal do fêmur, com um índice médio de mortalidade de 30% nos primeiros seis meses após o trauma e perda da autonomia em 50% dos casos. Dificilmente as pessoas conseguem recuperar inteiramente o nível de independência que possuíam antes da fratura.
2. A osteoporose é a principal causa das fraturas em idosos.
Verdade. As fraturas do fêmur proximal são mais comuns em idosos, principalmente mulheres, porque o esqueleto do ser humano acumula massa óssea até a faixa dos 30 anos. A partir de então, perde-se 0,3% ao ano. A mulher tem uma perda maior nos 10 primeiros anos pós-menopausa, podendo chegar a 3% ao ano, principalmente se ela for sedentária. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 1/3 das mulheres brancas acima dos 65 anos são portadoras de osteoporose. Por isso, estima-se que 50% das mulheres com mais de 75 anos venham a ter alguma fratura osteoporótica. Em homens, esse índice cai para 25%.
3. Jovens não têm artrose de quadril.
Mito. A artrose é um desgaste, uma degeneração da articulação. Pode ser provocada por diversas causas e a sua incidência aumenta com idade. Em idosos, é comum. Em jovens, a sua incidência é muito baixa, mas é possível.
4. A artrose do quadril não tem solução.
Verdade. A artrose é o desgaste da articulação e não há como recuperar o que já foi perdido. Os tratamentos e as orientações médicas são para prevenir o aparecimento e a progressão da artrose ou então para aliviar os sintomas, quando já existentes. Em um estado muito grave ou avançado de artrose do quadril, a pessoa tem muita dor e limitação funcional, atrapalhando muito o seu dia-a-dia. Nessa situação, indica-se uma cirurgia ortopédica que se chama artroplastia ou prótese de quadril. Essa cirurgia consiste na substituição da superfície articular, ou seja, troca a superfície gasta por outra sintética. É uma cirurgia grande, geralmente feita em idosos, cuja satisfação é muito grande devido à sua eficiência. O objetivo é a pessoa voltar a ter uma rotina de vida sem dor no quadril e com uma função muito boa, podendo, inclusive, praticar diversas atividades físicas. Na medicina, a prótese de quadril é a segunda cirurgia de maior satisfação para o paciente, ficando atrás apenas da cirurgia oftalmológica de tratamento da catarata.
5. Prática de esporte podem gerar lesões.
Verdade. Os esportes que oferecem mais riscos são aqueles que exigem maior amplitude e movimento do quadril, rotações ou aqueles com ‘ações explosivas’, ou seja, ações que exigem aceleração e desaceleração bruscas, como futebol, tênis, golfe, artes marciais, danças, ballet, ginástica olímpica e atletismo. A prática inadequada dos exercícios é a principal causa dos problemas. Entre as lesões mais frequentes, estão os estiramentos musculares e as tendinites que, geralmente, ocorrem por sobrecarga, esforço excessivo, entorse, contusão ou erro de treinamento. No meio esportivo, existem também muitos casos de síndrome do impacto femoroacetabular. Cerca de 10% da população têm predisposição a desenvolver o problema, mas ele é mais diagnosticado em atletas profissionais, porque há uma solicitação diária maior da região que está com a biomecânica comprometida.
6. O impacto provocado pela corrida gasta o quadril.
Mito. O quadril é uma articulação de carga, ou seja, uma articulação que sustenta todo o nosso peso. Portanto, apresenta uma estrutura forte e compatível com a sua função. Quando corremos, a carga que passa pela articulação pode chegar a 8 ou 10 vezes o nosso peso corporal. Mesmo com toda essa demanda, o quadril apresenta apenas um consumo fisiológico, ou seja, um pequeno desgaste durante a nossa vida, como qualquer outra articulação. Uma situação atípica é quando a pessoa apresenta alguma predisposição às lesões, como o impacto femoroacetabular (traumatismo de repetição entre a cabeça do fêmur e a cavidade da bacia) ou a lesão do labrum. Nessas situações, a pessoa está com o quadril em risco e, dependendo da solicitação e da exigência, pode levar ao desgaste exagerado da articulação, ou seja, à artrose.
7. Na musculação, é preciso fazer os exercícios utilizando toda a amplitude de movimento do quadril para conseguir o resultado desejado.
Mito. Para cada objetivo, há uma maneira correta de fazer os exercícios. Porém, de um modo geral, não há a necessidade de fazer toda a amplitude de movimento do quadril, ou seja, de chegar ao limite dos movimentos. Isso não potencializa o resultado e favorece as lesões por exigir muito das suas estruturas articulares, como a cartilagem.
8. Quem sofreu uma lesão no quadril nunca mais voltará a praticar esporte.
Mito. Há 10 anos, quando o mecanismo e a fisiopatologia da lesão labral não eram compreendidos, o resultado do tratamento era muito ruim. Sendo assim, a lesão comprometia o rendimento do atleta e o tratamento não era eficiente. Hoje, existem novos procedimentos específicos para essa lesão e, quando realizados, o atleta retorna à sua rotina de treinos e de competição, apto a exercer todo o seu potencial.
9. O tratamento do impacto do quadril é cirúrgico.
Verdade. A única forma de corrigir a anatomia para que a biomecânica do quadril não seja comprometida, levando à artrose do quadril, é por meio de cirurgia. A medicina avançou muito nos últimos anos e a técnica mais indicada, atualmente, para realização do procedimento é a artroscopia, uma cirurgia minimamente invasiva, realizada com uma câmera, uma ótica de 4 mm e outros instrumentos cirúrgicos finos e estreitos, introduzidos por dois pequenos “furos” na região dos quadris. O acompanhamento da operação, que dura cerca de duas horas, é feito por meio de um monitor de vídeo. É uma opção de tratamento eficiente com pequena agressão. Isso se traduz em uma internação mais rápida, geralmente com alta no mesmo dia, menores taxas de complicações e riscos, menos dor, reabilitação mais rápida e melhor, retorno precoce à rotina social, profissional e ao esporte. Os objetivos da utilização da técnica nos quadris são: tirar a dor, restaurar a função da região em sua plenitude, permitir que o paciente volte a fazer todas as atividades que queira e goste, inclusive esportes, e dar um prognóstico melhor para a articulação. Com isso, evita-se que o quadro clínico progrida para uma degeneração, ou seja, para uma artrose. O pós-operatório dependerá do tratamento e dos procedimentos que foram feitos durante a artroscopia. O retorno às atividades diárias e ao esporte depende da lesão que foi tratada.
10. A prevenção é sempre a melhor forma de evitar as lesões dos quadris em idosos.
Verdade. Há um conjunto de ações recomendadas para ter uma boa saúde e evitar lesões: praticar esporte com acompanhamento profissional, promover o fortalecimento da musculatura da região dos quadris, além de evitar sedativos, consumo de cafeína, cigarro e álcool, pois essas substâncias contribuem para a osteoporose, entre outros cuidados.
Comentários
Postar um comentário
Comentarios e Sugestões