Nos últimos anos, a terapia de reposição hormonal para as mulheres e os tratamentos para que homens possam prolongar a ereção possibilitaram aos idosos manter a vida sexual ativa.
Para o ginecologista Celso Galhardo, coordenador do Programa Municipal DST/Aids, de São Paulo, é preciso quebrar o preconceito de que o idoso sexualmente ativo é anormal. Segundo ele, não existe uma idade limite para a atividade sexual, já que isso depende do físico do idoso, das condições de saúde, da libido e do erotismo. “Sexo é sinal de saúde”, argumenta.
Mas o uso das drogas que facilitam a ereção requer muita atenção e cuidado. Antes de tomar o medicamento, o idoso precisa procurar um urologista ou clínico geral para fazer uma avaliação, pois esses medicamentos agem no sistema cardiovascular. Qualquer problema nesse sentido pode inviabilizar o uso do remédio.
Além da maior frequência de sexo nessa faixa etária, outro problema tornou-se preocupante, o aumento do número de infectados pelo HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis, gonorréia e clamídia. O vírus do HIV ataca as células de defesa do corpo e o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças. Se descoberto cedo, o tratamento adequado feito com os anti-retrovirais possibilita uma vida normal.
De acordo com o Boletim Epidemiológico do Departamento de DST e Aids, do Ministério da Saúde, de 1980 até junho de 2011, foram notificados 16.838 casos de Aids em pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Em 2000, foram registrados 702 casos nesta faixa etária.
Para a gerontologista e coordenadora nacional da Saúde do Idoso, do Ministério da Saúde, Luiza Machado, o profissional de saúde muitas vezes esquece de perguntar se idoso tem atividade sexual e de pedir o teste. Assim, ocorre muito erro de diagnóstico. “Hoje o idoso vive mais, namora mais, então temos de preconizar uma campanha de prevenção da DST/Aids.”
Segundo a especialista, cada vez mais mulheres idosas são infectadas com HIV e outras DSTs durante o casamento. Muitos homens que fazem uso de medicações contra a disfunção erétil procuram relações extraconjugais e não usam camisinha. “É preciso estimular o uso do preservativo, a própria mulher pode usar e está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde)”, enfatiza.
Galhardo considera que o aumento da incidência de HIV entre idosos está ligado a uma questão cultural. “O idoso viveu numa época na juventude dele que o uso de preservativo não era difundido, é difícil explicar a ele que pode pegar o HIV em qualquer faixa etária. O idoso acha que o prazer será menor, mas o sexo pode ser tão bom ou até melhor com camisinha”, explica.
A geriatra Fabíola Borges diz que o HIV na terceira idade é uma questão delicada. “Se é difícil convencer uma geração jovem que teve educação sexual e, mesmo assim, não usa camisinha, imagine convencer um idoso que nunca usou preservativo”, afirma.
E enumera outros fatores que contribuem para a disseminação do vírus em idosos: faixa etária que não se preocupa com a prevenção de gravidez (considerada um estímulo à prevenção dos jovens), o preconceito do próprio idoso e da sociedade que o vê como população de não-risco e falta de informação.
Durante a janela imunológica – período entre a infecção pelo vírus da AIDS e a produção de anticorpos anti-HIV no sangue – o paciente não apresenta sintomas. Mas muitas vezes, o idoso só procura ajuda médica no estágio mais avançado da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, quando seus sintomas já estão se manifestando. Nessas situações, qualquer doença oportunista, como gripe ou pneumonia, pode ser muito grave e até fatal. “O idoso também precisa tomar a iniciativa e fazer o teste. Quanto mais cedo tiver esse diagnóstico, pode ser direcionado ao serviço público de saúde e ter o tratamento correto”, afirma Galhardo.
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