O amor não tem prazo de validade




Em uma época de culto à beleza, especialmente à da juventude, ninguém estranha quando cenas de amor e sexo invadem as novelas. Histórias de romance e desejo, quando ilustradas por personagens jovens e bonitos, são vistas com naturalidade e têm o consentimento da grande massa. Mas será que, quando a paixão envolve a terceira idade, o olhar da sociedade sobre o assunto muda?

É isso que Walcyr Carrasco quer mostrar em Amor à Vida, ao retratar o preconceito que Bernarda (Nathalia Timberg) e Lutero (Ary Fontoura) vão sofrer quando decidirem consumar o amor que os uniu a uma altura avançada da vida.


Diário Gaúcho pegou carona na polêmica que vai agitar os próximos capítulos da novela das nove e conversou com um casal que redescobriu o amor na maturidade. Especialistas em tratamentos de idosos atestam: o amor e o desejo não têm prazo de validade e fazem, sim, muito bem a esta turminha que aproveita a tão famosa "melhor
idade"!

Com lente de aumento

Em cenas que devem ir ao ar no dia 22, Lutero pedirá à mãe de Pilar (Susana Vieira) que eles durmam juntos. Ela aceitará e, na manhã seguinte, ao chegar em casa, será
interrogada por Pilar e por Félix (Mateus Solano).

- Se querem saber, eu transei, sim. E para encerrar as especulações, funcionou! Funciona e deve funcionar outras vezes - responderá Bernarda.
Mas Pilar não aceitará a situação.
- Precisava ter sexo, mamãe? Eu acho um pouco inconveniente. Na sua idade? Eu não
me conformo!
Psicóloga e doutoranda do Instituto de Geriatria e Gerontologia da Puc (IGG), Claudia
Adriana Lufiego aponta as razões que levam a família a rejeitar a possibilidade de ver
seus idosos relacionando-se amorosamente.
- O preconceito está atrelado à ideia de final da vida. É difícil para as pessoas entenderem como, nessa etapa, alguém pense nisso. Tem muito de egoísmo também. Eles entendem que, aos idosos, só é permitido o amor pelos netos e pela família - explica a especialista.


● Sociedade já está mais aberta
Para o professor adjunto do IGG e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia no Estado, Ângelo José Gonçalves Bós, a novela trata o assunto com lente de aumento, uma vez que, na realidade, alguns paradigmas já mudaram.
- Da década passada pra cá, a sociedade está mais aberta a entender que o idoso é um ser humano como todos os outros, que tem necessidades físicas e emocionais -
avalia.

Idade não diminui o desejo sexual
Milton Joaquim da Silva, 73, é viúvo há quatro anos. Vera Alcione, 65, divorciou-se depois de 38 anos de casamento. Há um ano, os dois conheceram-se em uma excursão promovida pelo tradicional Baile da Lourdes, que acontece semanalmente, no Clube Teresópolis, em Porto Alegre. Não demorou para que a amizade virasse namoro!
- É um estímulo para a vida, e não existe idade para amar - garante Vera.
- Eu me sinto muito mais feliz, estou sempre alegre. Chego ao baile cheio de alegria e de prazer. Ela é bem mais jovem do que eu e me faz sentir assim também - completa ele, apaixonado.
Vera tem três filhos, e Milton, uma única filha. Eles garantem que não sofreram nenhum tipo de discriminação em família. Mas Vera conta que a curiosidade das pessoas beira o preconceito.
- Me perguntam se ele funciona, se rola tudo normalmente. E eu digo: "é claro que sim!".
- O desejo é natural, a idade não te faz perder isso - confidencia Milton.
Coração ocupado, corpo e mentes felizes
Para Claudia Adriana Lufiego, os relacionamentos na terceira idade são fortes aliados no combate aos males da mente.
- Um dos motivos que levam à depressão é o isolamento social do idoso. Cerca de 15% dos que estão inseridos num contexto familiar e amoroso sofrem de depressão. No caso dos que vivem sozinhos e sem parceiros, este número dobra. Nada melhor para a saúde mental do idoso do que se relacionar - alerta Claudia.
Ângelo Bós destaca:
- O sexo acontece com muita frequência na terceira idade. Teoricamente, nada contraindica a atividade sexual nesta idade.

● Prevenção em qualquer tempo
O médico geriatra ressalta que o lado negativo desta libertação é um aumento significativo dos casos de aids nesta faixa etária.
- No tempo em que ele era sexualmente ativo, a falta de proteção não era um problema
tão sério. São pessoas que não foram acostumadas com a prevenção.

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