Em novo livro, Mirian Goldenberg ensina caminho para a 'bela velhice'

Autora propõe uma nova forma de encarar a velhice: "com beleza e liberdade"

Livro busca mostrar, a cada capítulo, o segredo para ter uma velhice mais bela Foto: Divulgação
Livro busca mostrar, a cada capítulo, o segredo para ter uma velhice mais bela
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É difícil acreditar que, em pleno século 21, ainda existam mulheres que não gostem de falar sua idade. Felizmente, esse não é o caso de Mirian Goldenberg, que enche a boca e dispara: “tenho 56. E mal posso esperar para falar que tenho 65”.
No Brasil, o medo de envelhecer está dentro e fora da mídia, em efeito cascata: muitas celebridades sustentam o mito da juventude eterna; diversas mulheres entendem o recado como o “padrão ideal” e acabam em uma cansativa e eterna luta contra a própria imagem.

Mirian é antropóloga, pesquisadora e autora de diversos livros sobre comportamento humano, e afirma que não passou ilesa a este medo. Mas foi a partir do seu novo livro, A Bela Velhice, da Editora Record, que ela acabou mudando de opinião sobre essa fase da vida. “Antes eu adorava quando falavam para mim ‘nossa, você parece bem mais nova’. Mas quando você fica mais velha, tem uma urgência tão grande de viver, que não quer desperdiçar seu tempo com bobagem”, observa.
O livro, que será lançado nesta quarta-feira (16) na Fnac Pinheiros, em São Paulo, já vendeu 5 mil exemplares e está indo para a segunda tiragem. De acordo com a autora, o que mais a surpreendeu foi a grande adesão dos homens, que historicamente demonstram sofrer menos com a chegada da idade do que as mulheres. “Acho que eles gostaram da ideia de que a velhice não é um ponto final”, analisa.
No Brasil, o corpo é um capital para as mulheres. Por isso existe o medo. Em outros países, aos 60 anos as mulheres simplesmente não estão falando sobre a velhice. Aqui, com 30, já estão comprando creme antiidade

Mirian abre o livro com o texto “A bela velhice”, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, para o qual escreve uma coluna quinzenal. Nele, ela enumera exemplos de “belos velhos” que inspiram as novas gerações no Brasil. “Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Marieta Severo, Rita Lee, entre outros”, enumera. “Duvido que alguém consiga enxergar neles, que já chegaram ou estão chegando aos 70 anos, um retrato negativo do envelhecimento. São típicos exemplos de pessoas chamadas ‘ageless’, ou ‘sem idade’”, provoca.

Para a autora, eles fazem parte de uma geração que não aceita rótulos e que enxergam na velhice outro significado; que nada tem a ver com aquele papel do ‘vovozinho’ deslocado e alheio às transformações sociais.

De acordo com a autora, no Brasil o estigma da velhice ainda é grande pois está intimamente ligado à imagem Foto: Divulgação
De acordo com a autora, no Brasil o estigma da velhice ainda é grande pois está intimamente ligado à imagem
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Mirian também é autora de outros dois livros sobre o tema, Coroas (2007); e Corpo, Envelhecimento e Felicidade (2011). Segundo ela, A Bela Velhice é um livro completamente diferente dos outros dois porque faz uma análise mais profunda sobre a diferença na forma como homens e mulheres enxergam essa etapa da vida.

Para entender melhor esse padrão de comportamento, ela realizou uma pesquisa com 1700 pessoas, de 18 a 90 anos, de ambos os sexos. Com base no estudo, ela dá dicas ao longo das páginas sobre como alcançar uma velhice mais bela. “Cada capítulo explora o que de mais importante foi pesquisado sobre construir a velhice com beleza e liberdade”.

Grisalhos x Coroas
Que as mulheres sofrem mais com a ação do tempo não é novidade; os hormônios mexem não só com o corpo, mas também com a cabeça delas. Mas de onde vem tanto medo?

Segundo Mirian, este sentimento está associado à valorização exagerada da imagem. “No Brasil, o corpo é um capital para as mulheres. Por isso existe o medo. Em outros países, aos 60 anos as mulheres simplesmente não estão falando sobre a velhice. Aqui, com 30, já estão comprando creme anti-idade”, pontua.

O homem não enfrenta tanto preconceito porque ele foi valorizado por outros atributos além do corpo, ele nunca foi ‘o corpo jovem’. Sempre foi associado a outros valores, como prestígio, poder, conversa e maturidade

Isso se reflete também na vida afetiva. Mirian observa que as mulheres que assumem uma relação com um homem muito mais novo têm que enfrentar uma série de julgamentos. Quando a situação se inverte, e um homem mais velho começa a namorar uma menina mais nova, as pessoas tendem a ser menos duras. “O homem não enfrenta tanto preconceito porque ele foi valorizado por outros atributos além do corpo, ele nunca foi ‘o corpo jovem’. Sempre foi associado a outros valores, como prestígio, poder, conversa e maturidade”, analisa.

O senso comum, no entanto, indica que essas mulheres estão tentando negar a idade. Mirian discorda. “Namorar um homem bem mais novo é só uma escolha, elas não estão negando nada, pelo contrário, são mulheres extremamente felizes. Estes relacionamentos geralmente dão muito certo, porque não estão focados nessa questão do corpo, e sim da maturidade, do companheirismo.”

Mirian já planeja escrever sobre essa questão no seu próximo livro, explorando também as conquistas femininas nesse sentido. “Os homens sempre tiveram essa escolha, e agora elas também conseguiram romper este tabu e fazer suas escolhas também”, conclui.

Velho, eu?
O interesse masculino pelo tema envelhecimento, manifestado por e-mails e comentários de leitores no Facebook, surpreendeu a autora. Isso porque, nos livros anteriores, colunas e outros trabalhos da autora a interação vinha principalmente das mulheres. “Toquei em um ponto central para mostrar que a velhice não é só uma coisa negativa. É uma fase dá vida em que dá para se viver bem, ter prazer, quebrar os estereótipos”.

Mirian descobriu em sua pesquisa que as mulheres passam a vida toda com medo da velhice; no entanto, quando 'chegam lá', a encaram como sinônimo de liberdade  Foto: Divulgação
Mirian descobriu em sua pesquisa que as mulheres passam a vida toda com medo da velhice; no entanto, quando 'chegam lá', a encaram como sinônimo de liberdade 
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Outra surpresa foi a forma positiva como as mulheres, que vivem à sombra do tal medo de envelhecer, descrevem de fato esta etapa. “As mulheres têm muito mais medo de envelhecer, mas, de certa forma, se preparam desde cedo para isso. Quando 'chegam lá', passam a enxergar de outra forma”.

A pesquisa trouxe muitas respostas positivas e acabaram servindo de combustível para ela mesma vislumbrar os próximos anos com mais tranquilidade. “Elas dizem que essa é a melhor fase da vida, que podem ser livres, ser elas mesmas. Quase todas disseram que estão na melhor fase da vida”.

A plenitude, segundo ela, tem a ver com diversos fatores: entre eles, a sensação de ‘dever cumprido’, ao ver que os compromissos sociais como casamento e filhos já foram encaminhados; e, sobretudo, uma menor cobrança com a autoimagem.

Para ela, a mulher entende a velhice como uma verdadeira revolução, a partir do momento que a percebe como sinônimo de liberdade. “O homem não passa por essa ruptura, porque ele sempre foi livre. Então ele entende mais como uma continuidade”. Enquanto elas passam a valorizar mais a vida livre e as amizades, eles passam a dar maior valor à família durante a velhice.

A pesquisa que deu origem ao livro, para Mirian, também indica uma esperança sobre uma quebra de paradigma no Brasil. “Vivemos com conceitos de velhice do século passado, mas melhorou muito. Hoje as pessoas têm muito mais qualidade de vida, envelhecem bem e com 90 anos estão fazendo muita coisa. É uma nova realidade”, finaliza

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