A nova "Terceira Idade" brasileira







O Brasil está cada vez mais “experiente”. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2060 o número de idosos no país irá quadruplicar. Atualmente são 14,9 milhões, com previsão de 58,4 milhões em 50 anos. E com o avanço da medicina, da tecnologia, mudanças culturais e de hábitos voltados à promoção da saúde, a expectativa de vida do brasileiro ultrapassa 73 anos de idade.

Não se trata de pessoas velhas, cansadas e doentes. Ao contrário! Considerando os dados do IBGE, de que as pessoas que estão ingressando no mercado de trabalho agora viverão, em média, até os 81 anos de idade, os idosos do futuro irão se aposentar, mas não irão parar. Já é notório que muitos deles têm aproveitado esta fase da vida para viajar e curtir, mas muitos outros têm voltado às salas de aula e após o “término” da carreira, partem para a realização de antigos sonhos, como o de ter um negócio próprio, por exemplo.

Assim, mais de 4,5 milhões de aposentados continuam no mercado de trabalho. Dentre os principais motivos, destacam-se: a necessidade de complementação da renda familiar, em que a maioria dos chefes de família é idosa; a satisfação no que faz; o desejo de ser útil e sentir-se produtivo. Neste contexto, as empresas brasileiras já começam a abrir espaço para este “novo trabalhador”, seja pela escassez da mão-de-obra jovem em alguns segmentos ou mesmo pelo perfil paciencioso e pela maturidade da terceira idade em determinadas funções, como o atendimento ao público, ou ainda em atividades cuja ascensão é morosa ou inexistente.

As organizações que mais têm contratado idosos são àquelas que oferecem serviços administrativos (escritórios), supermercados, call centers e outros, que demandam atendimento ao público ou atividades auxiliares que não exigem muito esforço físico. Uma pesquisa da Fecomércio MG, em Belo Horizonte, ouviu empresários de vários segmentos do comércio e concluiu que os supermercados e hipermercados são as empresas que mais empregam pessoas acima dos 65 anos de idade, representando 28,6%. Na sequência estão as óticas, lojas de calçados, vestuário e o segmento de cama, mesa e banho, somando 14,3% das respostas.

Para o consultor empresarial Wellington Moreira, diferente dos profissionais mais maduros, que permanecem em seus cargos, os mais novos têm o ímpeto de buscar outras oportunidades, o que lhes leva a trocar de empresa com mais facilidade. Outra característica que evidencia a mudança de valores e de comportamento dessas gerações é a lealdade: “os mais velhos são muito ligados às instituições em que trabalham e às funções que exercem”, diz ele.

Segundo Moreira, não é recomendado que o profissional aposentado mantenha o mesmo ritmo dos anos anteriores, entretanto, é válido conservar uma mínima rotina de trabalho que o permita consolidar seu legado e o sustento ativo. Como o desafio para o futuro não é “viver mais”, mas sim “viver melhor”, com saúde e qualidade, inúmeros estudos indicam que a ociosidade contribui para o surgimento de doenças, sobretudo às emocionais, o que comprova mais uma vez os benefícios de permanecer no mercado de trabalho, tomados os devidos cuidados.

As empresas podem e devem aproveitar as vantagens desta nova realidade, como fez a Bosch. “A subsidiária brasileira da empresa alemã criou uma firma de consultoria na qual seus profissionais aposentados são convidados a prestar serviços para a própria companhia em projetos pontuais, a fim de compartilharem o conhecimento que acumularam. Uma ideia já implantada com sucesso em países europeus e que tem tudo para dar certo também por aqui", explica o consultor. Ele acredita que na sociedade do conhecimento, da qual somos parte, cada vez menos encontraremos pessoas que aposentarão suas carreiras, mas em vez disto, quando chegarem à maturidade, adotarão novos modelos para a entrega de suas competências.

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