Idosos autônomos são maioria


Cerca de metade dos aposentados do Grande ABC não manteve o mesmo patamar de qualidade de vida e voltou à ativa. Segundo o INSS (Instituto Nacionaldo Seguro Social), dos 260.239 beneficiários do Ministério da Previdência Social que residem na região, 130 mil trabalham para complementar a renda mensal. Grande parte desse grupo é formada por pessoas com menos de 60 anos. Mas isso não significa que os idosos não atuem no mercado. Atualmente 17,8% deles trabalham.

A verdade é que o mercado de trabalho está cada vez mais fechado para os mais velhos, destaca o diretor de políticas sociais da Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, Luís Antonio Ferreira Rodrigues. E a consequência disso é que a maioria dos idosos da região que voltaram à ativa, 63,4%, atuam como autônomo.

Empresas são responsáveis pela contratação de 33,1% dos moradores das sete cidades com 60 anos ou mais que voltaram ao batente. E apenas 3,3% dos idosos ocupam função de empregadores.

As informações fazem parte de estudo desenvolvido pelo Inpes-USCS (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano). Para chegar aos resultados, foram analisados dados da pesquisa socioeconômica, da própria instituição de ensino, em conjunto com dados da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

VENDAS

A aposentada andreense Noemia De Assis, 63 anos, está no grupo de autônomos da terceira idade. Ela é segurada da Previdência Social desde 1973. “Fui aposentada por invalidez”, conta. Na época, teve problemas de saúde por atuar como instaladora de chicote em uma montadora. De lá para cá, a situação financeira foi apertada.

“Ah! Se eu pudesse, na verdade eu e meu marido voltaríamos ao trabalho. Ter um emprego em uma empresa seria muito bom”, desabafa Noemia, que mora de aluguel com seu companheiro, que também é aposentado. Como o mercado não abre as portas, ela tomou a iniciativa. Há três meses, para complementar o seu benefício de um salário-mínimo e melhorar a qualidade de vida do casal, Noemia decidiu vender produtos de beleza, higiene e limpeza. “Está indo muito bem. Eu vendo R$ 180, R$ 200 por mês. Ajuda bastante”, diz a aposentada.

Como a Noemia já presenciou, poucas empresas estão dispostas a contratar o pessoal com mais experiência. E isso é explicado pela busca por renovação do ambiente do trabalho dos últimos anos, destaca a professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie especialista em gestão de carreiras, coaching, desenvolvimento humano e diretora da Mbianchini Consult, Margareth Bianchini. “Com a chegada da geração Y (jovens com até 35 anos), as empresas perderam o interesse por trabalhadores com mais de 40 anos.”

JOVENS

Proficiências como garra, conhecimento de novas tecnologias e ganância por resultados e ascensão na carreira garantem a preferência pelos jovens. Mas Margareth pontua que, há dois anos, esse cenário está mudando. “Os mais novos são independentes com a fidelidade. Eles correm atrás de salários. Por R$ 100 a mais, eles vão embora da companhia”, garante Margareth.

ESPAÇO ABERTO

Por esse motivo, explica a especialista, uma brecha foi aberta para os profissionais com mais experiência. “Os empresários começaram a mudar o foco para os mais velhos. Pelo lado mais maduro, a maturidade em decisões e a fidelidade pela marca da empresa. Quando esse profissional entra, ele tem prazer em trabalhar”, explica Margareth.

O aposentado andreense Leozino Cardoso da Silva, 73, sentiu na pele a necessidade de complementar a renda, que passou de sete salários-mínimos, quando se aposentou em 1996 da função de cromador, para quase quatro atualmente. Na época, ele foi aceito como corretor de imóveis em uma imobiliária.

Da vida de metalúrgico a vendedor de imóveis, Silva percebeu que o seu ganha-pão já tinha lhe proporcionado boa qualidade de vida. Mas ele não parou. Em 2005, passou do posto de trabalhador vinculado a uma empresa para o menor grupo de moradores da região da terceira idade que atuam no mercado de trabalho. Ele decidiu abrir uma imobiliária e se tornou empregador.

“Hoje eu trabalho com dois funcionários. Um é mais jovem. O outro é um amigo que trabalhou ao meu lado na época de metalúrgico. Ele também está aposentado (com 59 anos)”, revelou Silva.

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