Maratonistas sexagenários desafiam o tempo em prol da qualidade de vida



Equipe do professor Matias reunida na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)

Perigoso, contraditório, incomum? Esses são os primeiros pensamentos quando se associa as palavras corrida e idoso. Mas se engana quem pensa que os mais velhos não devam correr, a prática retarda o envelhecimento e tem sido cada vez mais difundida na terceira idade.

Em busca de uma melhor qualidade de vida, um grupo de 15 maratonistas sexagenários encontrou nos antigos jardins imperiais da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, o habitat ideal para a corrida de rua. Criada em 2006 pelo professor Matias, a equipe tem como lema o esporte por lazer. O objetivo é sempre completar o percurso.

Uma peculiaridade do grupo é que a grande a maioria começou a correr apenas depois dos 50 anos. E não são irresponsáveis: sabem que fazem parte de um grupo especial, que exige algumas precauções no treinamento, e um tempo de recuperação maior.
Enquanto um jovem de 20 anos precisa de 8h a 24h para se recuperar e um adulto na faixa etária em torno dos 40 demora cerca de 48h, um idoso acima de 60 anos requer pelo menos 72h."professor Matias

- Todos os que fazem parte do grupo são vencedores. A nossa diferença para os outros maratonistas é que corremos por prazer. Prazer de completar a corrida e praticar o esporte pela saúde e qualidade de vida. Antes de passar a rotina de treinos, realizo um teste de 10 km de corrida. Peço para eles correrem até o limite e depois estabeleço as metas de cada um.

O ideal é praticar a atividade física três vezes por semana. E se houver competições, precisamos de 12 semanas de preparação, sempre pensando no tempo de recuperação. Enquanto um jovem de 20 anos precisa de 8h a 24h para se recuperar e um adulto na faixa etária em torno dos 40 demora cerca de 48h, um idoso acima de 60 anos requer pelo menos 72h. O descanso é fundamental, caso contrário, a pessoa vai viver cheia de lesões - destacou o treinador.

A pediatra Ana Maria Leal, de 63 anos, já sentiu na pele as consequências de um treino sem orientação técnica. Ela começou a frequentar a Quinta da Boa Vista para tratar dos animais que lá vivem, em especial, os gatos. Ao olhar as pessoas praticando corrida, ciclismo e tai chi chuan, resolveu se exercitar por conta própria. Passava a vida tratando lesões e não se sentia motivada a seguir em frente. Há cerca de um ano, conheceu a equipe do professor Matias e resolveu arriscar. A sua meta é disputar a primeira corrida da vida, que já tem data marcada: no dia 18 agosto, na Meia Maratona Internacional do Rio.

- Decidi começar a correr, mas vivia cansada, dava três voltas na Quinta e parecia uma maluca. Me alimentava mal, não bebia água... Vivia machucada, com todos os tipos de lesão que você pode imaginar. Hoje, além da corrida, faço academia com o auxílio de um personal. Me sinto como uma garota de 20 anos - disse uma das últimas a reforçar a equipe.

Luis Roberto de Assunção é um dos recordistas em maratonas na equipe, com 61 no currículo. Aos 62 anos, o aposentado está nas pistas há quase 40 e mostra um vigor físico de dar inveja a qualquer garoto.

Décadas de dedicação às corridas de ruas podem parecer uma missão quase impossível para muitos que passam dos 60, mas não para o aposentado, que vê a corrida como um "passatempo", capaz de unir saúde e diversão.

- Eu fazia caratê e resolvi começar a correr em 1975. Desde então, nunca mais parei. Já ganhei muitos troféus, mas o que importa é a diversão. É bom unir o útil ao agradável. Ser saudável e conhecer novos lugares e pessoas. A corrida passa a ser um mero detalhe.
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"A nossa diferença para os outros maratonistas é que corremos por prazer" (Foto: Carol Fontes)

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