Gerontologia, a ciência que o ajuda a envelhecer com prazer



A população mundial está a envelhecer e Portugal não é exceção. A «velhice» é para muitos um «fardo». Mas não tem que ser assim. Há muito que as respostas, sobre o como lidar com o envelhecer do corpo e a proximidade da morte, existem. Portugal, mais uma vez, não é exceção e também aqui há caminhos para que o envelhecimento possa ser vivido com «prazer».

A gerontologia é a ciência que encontra as respostas e estuda o processo de envelhecimento nas suas dimensões biológica, psicológica, social, económica, política e espiritual. A cidade do Porto acolheu nos últimos dias o X Congresso Nacional de Gerontologia. Joaquim Parra Marujo, Professor na Escola Superior de Educação João de Deus e um dos principais especialistas portugueses em gerontologia, explica-nos que «um idoso depois da reforma sente que vai para um depósito, que já não é útil. Entra numa espiral negativa que o pode levar à depressão e à morte».

O isolamento, criado pelo sentimento de inutilidade na sociedade, é mais um dos factores que agrava a «velhice». A estes junta-se ainda uma espiral física em que o idoso «se sente mais cansado, com mais dor, menos energia e acaba por se afundar. Acaba-se numa espiral pessimista em que a morte é preferível à vida».

Portugal é um dos países onde a taxa de suicídio nos idosos é mais elevada e onde o envelhecimento da população cresce a olhos vistos: «Atualmente, Portugal já tem 110 velhos para 100 jovens», alerta o professor. Esta é uma realidade que pode ser invertida com assistência de gerontólogos (Portugal tem já três licenciaturas e mestrados na área), a formação de técnicos, assistentes sociais, terapeutas, psicólogos, médicos e enfermeiros.

O caminho para a saída dos ciclos de negatividade começa pelo desenhar de um plano de um mês para resolver os problemas do idoso. Na fase seguinte o plano é a seis meses. «Ao fim de algum tempo temos alguém que não via razões para viver e não conseguia fazer planos para a sua vida a projectar para 10 ou 15 anos», explica Joaquim Parra Marujo.


«É preciso invocar no idoso momentos de contentamento, de orgulho, de serenidade, de gratidão. Todas as emoções devem ser trabalhadas com prazer, envolvimento e sentido. É importante transformar o negativo em positivo, trabalhar os prazeres da vida e criar os prazeres da vida», explica ainda o professor. As formas de trabalho com os idosos incluem várias dinâmicas de grupo e podem ir desde a escrita, ao teatro, à dança, ao exercício físico. «Contar a história da sua vida às crianças é uma forma de um idoso sentir que é útil para os outros».

A ajuda aos mais velhos entra muitas vezes no campo prático do dia-a-dia. «É preciso dar autonomia ao idoso. Se necessário mudar o meio-ambiente, ou seja, alterar a estrutura de entrada em casa, solicitar às câmaras que modifiquem passeios ou paragens de autocarro», explica, adiantando que nos casos mais complicados é possível ir a casa de um idoso ou a uma cama de hospital e, por exemplo, «discutir um recorte de jornal».

As intervenções junto de idosos decorrem em consultas hospitalares, alguns lares e também já algumas autarquias começam a olhar para a problemática, como é o caso de Odivelas. «Há três anos isto não acontecia em Portugal». Todos os anos são realizados uma média de 40 congressos sobre o tema. Seoul recebe em breve um congresso global onde estão agendadas mais de cinco mil intervenções de especialistas. Quatro portugueses, incluindo Joaquim Parra Marujo, marcam presença.

A crise e austeridade surgem cada vez mais como entraves às soluções de envelhecimentos com qualidade de vida. «Hoje temos os velhos ping-pong, hoje em casa de um filho, amanhã de outro, depois de um neto. As respostas precisam de vir também de um Estado que tem como um dos seus pilares fundamentais, a solidariedade. Uma função da qual não se pode demitir», lembra.

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