Degeneração muscular dos idosos na mira da investigação portuguesa

Ana Pereira, bolseira na UTAD, cria modelos que permitem melhorar performance muscular da população sénior feminina


Ana Pereira, bolseira na Universidade de Trás-os-Montes e Alto DouroA partir da observação de problemas de debilidade da massa muscular em idosos, a investigadora Ana Pereira, do Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano, em parceria com o Instituto de Biotecnologia e Bioengenharias, Centro de Genómica e Biotecnologia da UTAD, desenvolveu uma investigação inovadora na população sénior feminina.
O estudo, recentemente publicado na «AGE», demonstra de que forma o exercício e as análises genotípicas podem, na prática, contribuir para a identificação e consequente prevenção e tratamento de problemas ligados degeneração da massa muscular, como a sarcopenia.
Na sua investigação, coordenada por Mário Marques e António Silva, que já deu origem a três artigos científicos, tentou perceber em que medida sujeitos com diferentes variantes genéticas respondem a um mesmo programa de treino. “Já existiam alguns estudos que associavam a performance muscular a factores genéticos, principalmente em atletas de elite”, diz a investigadora em conversa com o «Ciência Hoje».
Mas o interesse da investigadora foi fazê-lo com mulheres idosas. Isto porque estas “são as mais debilitadas em termos de massa muscular devido à menopausa”. Por isso, acrescenta, “é mais pertinente e é um maior contributo para a ciência estudar esta população”.
No entanto, não é fácil trabalhar com idosos, pois existe um conjunto de limitações: “se pedirmos a um idoso para dar o máximo num exercício, não dá; existe um período de adaptação e só após um programa de treino é que as diferenças podem ser visíveis”.
Um grupo de mulheres, com uma média de idades de 65 anos, cumpriu durante 12 semanas, três vezes por semana, um programa de treino “completamente diferente do que já existia neste âmbito”.
“O primeiro estudo foi para perceber se o programa era efectivo. E foi uma das mais-valias porque ainda não havia nada feito. Um dos autores recomendou que pusemos um nome diferente ao programa de treino, pois estava muito bem definido”.
O programa incluía exercícios básicos de força, saltos e o lançamento de bolas medicinais, sendo estes últimos novidades. Outra novidade é que “as senhoras tinham de realizar uma execução máxima, ou seja, realizar o exercício com uma velocidade de execução rápida. O volume de treino podia ser menor, mas mantinha-se a intensidade”.
Adaptação e genética
Surgiu, então, a necessidade de tentar explicar como é que as intervenientes no estudo se adaptavam, “pois era visível que umas adaptavam-se melhor do que outras. Tentámos avaliar de que forma as componentes genéticas (nomeadamente dos genes ECA e ACTN3) estariam por trás destas adaptações induzidas pelo treino”.
No início, não foram detectadas diferenças. “Os sujeitos que estavam mais ligados às características de potência não mostraram diferença em relação aos outros. Quando se trata de idosos que nunca viram uma máquina à frente, é preciso haver sempre uma adaptação”. Só depois foram visíveis essas apetências genéticas.
“Só após as 12 semanas, pudemos dizer que há sujeitos que podem apresentar maior debilidade ao nível da função muscular devido à idade. Não é com um teste inicial que se vai verificar qualquer diferença”.
A partir daqui, pode-se actuar, indentificando claramente os sujeitos que podem estar sob uma debilidade ou um declínio maior da função muscular e, então, aplicar um programa de treino mais adequado. “Tal como há programas para melhorar a qualidade de vida de pessoas com diabetes ou hipertensão, parece que a nível músculo-esquelético é também possível fazer progressos e promover a independências dos mais idosos”, conclui.

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