PROJETO DE PESQUISA PODE AJUDAR A MELHORAR QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS DO RN

PROJETO ESTUDA ABRIGOS E CONDIÇÕES DE VIDA DE IDOSOS PARA INDICAR MELHORIAS E APRIMORAMENTO NO TRATAMENTO A ESTE GRUPO DE PESSOAS.

Resultados da pesquisa ajudarão abrigos a oferecer melhores condições aos idososUm projeto de pesquisa desenvolvido desde o ano passado em Natal pode mudar a realidade dos idosos que vivem em todo o estado. A iniciativa é vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e teve o aporte financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado (Fapern). A previsão é de que em 2014, após ser concluído o diagnóstico completo das instituições da capital e das pessoas, seja iniciado um trabalho voltado principalmente para a qualificação dos espaços e capacitação dos profissionais.
“Envelhecimento humano e Saúde: A realidade dos idosos institucionalizados em Natal” faz parte de uma linha que vêm ganhando espaço entre os projetos e atende a uma lacuna ainda esquecida: a população que vive nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs).

“Representa uma parcela muito pequena da população, mas é uma parcela que está fora, aleijada do sistema de saúde de um modo geral. Muitas delas (instituições) funcionam sem fins lucrativos e os voluntários vão lá atender esses idosos sem a qualificação correta”, afirmou o coordenador da pesquisa Kenio Costa Lima.
O estudo teve um financiamento da Fapern no valor de R$ 300 mil e irá avaliar de maneira criteriosa as condições de saúde dos idosos institucionalizados de Natal. O projeto será concluído somente em 2014. Até o momento já há uma caracterização de todas as instituições de capital potiguar. Foram identificadas 14 liberadas pela vigilância sanitária, o que totaliza um publico alvo de 420 idosos. Uma instituição não quis participar.
Costa explicou que a situação mais preocupante hoje é observada nas instituições sem fins lucrativos, seis das 13 pesquisadas. Isso porque há muitas exigências que estas instituições não conseguem cumprir porque o custo do idoso é muito alto. Há às vezes apenas uma co-participação do Estado, mas elas vivem principalmente de doação. O corpo de profissionais, ressaltou, principalmente também tem vários problemas que precisam melhorar. “Não é um quadro calamitoso, mas é uma situação preocupante que precisa de mais atenção”.
Das instituições sem fins lucrativos acompanhadas pela instituição está o Espaço Solidário, em Mãe Luíza, o Juvino Barreto, em Barro Vermelho, Lar da Vovozinha, em Dix-Sept Rosado e Jesus Misericordioso, a única da Zona Norte.
O projeto é interdisciplinar e conta com uma equipe de mais de 20 profissionais de vários setores. Há educador físico, médico, nutricionista, fonoaudiólogo e fisioterapeuta. Kenio coordena a iniciativa junto com o George Azevedo, professor do curso de Medicina, e Lucia Pedrosa, da Nutrição. Ainda tem os parceiros na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte e vários alunos de mestrado e doutorado que estão desenvolvendo seus projetos juntos a esse grande projeto estruturante que foi financiado pela Fapern.
O projeto avalia de maneira minuciosa as condições da instituição. Observa, por exemplo, se ela possui escadas nas áreas públicas, se possui corrimão em banheiros, se tem refeitório, qual o corpo de profissionais específico daquela instituição, se tem profissionais contratados (sem contar com os voluntários), quantos cuidadores há por idosos e se eles têm alguma formação para a função. Uma preocupação ressaltou Costa, é que hoje é muito comum ter um técnico de enfermagem cuidando do idoso sem formação nenhuma.
“Então o projeto é um grande diagnóstico destas condições das instituições e também um grande diagnóstico das questões de saúde deste idoso”, acrescentou Kenio. È avaliado ainda e este idoso possui algum provimento, se tem visitas familiares, apoio social, se costumam passear, além do tempo e o motivo que motivou a institucionalização.
Na área específica da saúde é observada a funcionalidade, que trata-se de uma análise se o idoso tem algum comprometimentos de suas funções. Ainda são vistas questões fonoaudiológicas, a saúde bucal e nutricional e a perda de peso dos últimos três meses. O projeto oferece também uma bateria de exames completa.
Com parte dos recursos obtidos na Fapern, o pesquisador está investindo também em equipamentos. Foi adquirida uma cama-balança, considerada fundamental para avaliar a perda de peso dos idoso que não podem deixar o leito. Também foi feita a aquisição de todo o material necessário para fazer avaliação da condição cardiorrespiratória desses idosos.

Avaliação é só o começo
Todo o diagnóstico é apenas um ponta-pé inicial. A partir dele, o projeto entra em um trabalho de intervenções nas instituições. O primeiro passo será a confecção de um informe em saúde para cada espaço vistoriado. Cada entidade vai receber um relatório com a condição de saúde de seu idoso, para que ela própria tome alguma iniciativa.

Nos asilos com fins lucrativos, em que o idoso paga cerca de R$ 3 mil mensais, a intervenção não pode ser direta. Já para as sem fins lucrativos, vai tentar qualificar os profissionais; e para isso a coordenação do projeto já está em contato com o Estado, através da Saúde do Idoso. E a idéia é capacitar estes profissionais em todo o Estado, não só em Natal. Isso se dará em forma de módulos incluindo a discussão da institucionalização. “Nós precisamos deflagrar este processo de discussão, que no estado é zero”, afirmou. No momento, já estão sendo preparados cursos de cuidadores. Está sendo montada também uma especialização em saúde do idoso. Há, de acordo com o pesquisador, várias idéias sendo deflagradas em função deste projeto.

Lógica das famílias mudou
Muitas famílias hoje não têm condições de cuidar de seus idosos. O pesquisador Kenio Costa explica esta tendência a partir da taxa de fecundidade que é hoje de apenas 1,8. “Mudou completamente a lógica da família no Brasil. Têm famílias que tem pais, tios e não têm filhos para cuidar deles”, apontou. A saída diante disso, revelou, é levar para estas pessoas Instituições de Longa Permanência, “O que não é uma coisa ruim”.

Ele disse que essa imagem negativa foi construída até pela literatura, como se estas instituições fossem “depósitos de velhos”. “Então nós estamos tentando contribuir para a qualificação de algo que vai ser completamente necessário para a saúde e assistência social de nossa cidade”, destacou.

O pesquisador disse ainda que o objetivo é qualificar o serviço para romper com o estigma de que estas instituições tratam-se de lugares em que os idoso vão para esperar a morte. Costa explica que é possível oferecer um serviço de qualidade e que isso contribui para reduzir os gastos do sistema de saúde. “Se não cuidar bem dos idosos, isso pode gerar uma hospitalização. E com a quantidade de pessoas que estão chegando a esta idade, o Sistema de saúde vai quebrar”, atestou.

Kenio Costa explicou que as pessoas estão ficando longevas. Ultrapassar os 90 anos é cada vez mais fácil. O Nordeste, afirmou, das regiões brasileiras, é a que tem o maior índice de longevidade. “Não é o que tem o maior percentual de idosos, mas é o que tem o maior percentual de logevos. Se você passa dos 60,70 anos você estende a sua vida”, afirmou lembrando, porém que este desempenho não tem nenhuma relação direta com qualidade de vida. “Estão longevos, mas sem qualidade. Por isso a necessidade de capacitar pessoas para atendê-los”, finalizou.

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