PORTUGAL: Crise aumenta risco de violência contra os idosos


Famílias vão buscá-los aos lares porque não têm dinheiro, mas nem sempre têm as melhores condições para tratar deles.Uma especialista na área social alerta para os riscos do aumento da violência contra os idosos, principalmente sobre os que são retirados dos lares por razões económicas.
Lisboa - Reuters/Rafael Marchante
Maria Irene de Carvalho, que exerceu funções de assistente social em instituições particulares de solidariedade social, na segurança social e no serviço social hospitalar, considera que este é um reflexo da crise em Portugal, cujos efeitos são ainda desconhecidos, mas que preocupam os especialistas.

«Houve um período em que as respostas complementavam as funções da família, mas, neste momento, a família está a ir buscar os idosos e dependentes para cuidar deles, porque precisam deste rendimento para a sua subsistência e nós não sabemos como estão a cuidar deles», disse à Lusa.

Segundo Maria Irene Carvalho, isto está a surgir «com muita frequência, sobretudo nos lares, porque têm mensalidades substantivas».

A especialista alerta para estudos internacionais que dão conta de um aumento da violência sobre idosos devido à «dependência [económica] dos seus cuidadores».

A antiga assistente social, autora do livro «Serviço social na saúde», que é lançado na próxima quarta-feira, reconhece a premência de «repensar a intervenção social», principalmente tendo em conta as mudanças a que a crise tem conduzido.

«Nos últimos 15 anos tivemos uma configuração das políticas sociais, uma melhoria dos sistemas de saúde, dos cuidados primários, continuados e paliativos, da rede de saúde mental, mas o que se passa hoje é uma estagnação destas respostas, num contexto de aumento de necessidades», disse.

Para Maria Irene Carvalho, as famílias deparam-se hoje com «um dilema»: «A escassez de rendimento, de informação e de recursos» que tentam resolver com «uma maior solicitação de apoio».

Esta maior solicitação dá-se, contudo, numa altura em que as instituições de solidariedade social também têm cada vez mais dificuldade em dar respostas, avançou.

Questionada sobre o tipo de pedidos com que os assistentes sociais hoje se deparam, Maria Irene Carvalho lembrou que «à saúde chega tudo».

«Hoje em dia há um grupo, de classe média e média baixa, que veem as suas expectativas frustradas, e estão a passar por muitas dificuldades», disse.

Os pedidos que chegam aos serviços sociais passam não só por uma ajuda na alimentação, mas também para o pagamento de água, eletricidade ou rendas em atraso.

«São questões muito problemáticas que implicam uma intervenção em rede, com as autarquias, as instituições de solidariedade e os grupos de voluntários que conhecem os casos e muitas vezes tentam responder a estas situações que são dilemáticas», disse.
O impacto negativo que o aspeto económico tem na saúde passa por uma maior probabilidade de doenças mentais (depressões) e físicas.




Comentários