Idosos de Timon são alvo de violência e descaso e pedem políticas públicas


Idosos de Timon são alvo de violência e descaso e pedem políticas públicas

Em Timon, o número de idosos cresceu quase 50% de 2000 a 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

A expectativa de vida do brasileiro tem crescido nos últimos anos e tais transformações exigem políticas públicas que ofereçam a esse público melhor qualidade de vida. Em Timon, o número de idosos cresceu quase 50% de 2000 a 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Dados divulgados recentemente pelo IBGE mostram que, dos 217 municípios maranhenses, 82%, ou 178 cidades, possuem políticas públicas e/ou programas voltados para a pessoa idosa.

De acordo com a secretária de Desenvolvimento Econômico e Assistência Social de Timon, Florisa Batista, o poder público municipal tem estimulado as atividades para idosos dentro dos Centros de Referência de Assistência Social, os CRAS.
“Um dos principais objetivos desses núcleos é estar contribuindo com a interação do idoso e a sociedade, tanto como o convívio entre eles. Para isso, temos o Centro de Convivência que possui um coordenador geral e cada núcleo tem coordenador. A equipe dos CRAS, em cada setor tem educador físico, assistente social, pessoal de apoio e uma equipe geral que dá cobertura”, explica.

No entanto, enquanto a promoção à saúde e o enfrentamento à violência aparecem em mais de 50% nos municípios, como é o caso de Timon, quando se trata de políticas públicas voltadas para a garantia de acessibilidade a espaços públicos de esporte e lazer, acessibilidade de transporte público e capacitação do cuidador, esses índices caem drasticamente.

Os programas de capacitação de idosos são os mais alarmantes. Apenas 16 municípios possuem capacitação de cuidador, o que representa 0,4% dos municípios maranhenses.

Os cuidadores são pessoas que cuidam de idosos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura e recreação da pessoa atendida.

A capacitação dessas pessoas se torna item fundamental principalmente quando se fala em promoção à saúde e ação preventiva, numa forma de evitar internações e o asilamento.
Em Timon, embora o acompanhamento de idosos já aconteça nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), os profissionais envolvidos não tem capacitação específica, voltada para a terceira idade.

O curso de capacitação para cuidador de idosos, por exemplo, passou a ser oferecido através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec) apenas no mês passado.

O curso inserido no Programa Mulheres Mil, do Governo Federal, que acontece no campus do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), em Timon, tem duração de três meses e ajudará na qualidade do tratamento com idosos, mas também é a garantia profissional dessas mulheres, uma vez que a área tem exigido maior qualificação.

E quando se fala em acessibilidade para o transporte público outro problema se evidencia. O levantamento do IBGE aponta que apenas 23 dos 217 municípios maranhenses possuem acessibilidade. E esse dado tem reflexo em Timon.

Isto porque, nesta cidade, há apenas uma empresa responsável pelo transporte público e que disponibiliza poucos ônibus com porta para cadeirantes. Grande parte da frota é antiga, muitas vezes, até bastante elevados, dificultando a subida.

Geralmente, com mobilidade reduzida, idosos acabam optando por outras opções de transporte como táxi e mototáxi. A solução para muitos, é valer-se das vans que, mais baixas, chegam a oferecer até mais conforto que os ônibus coletivos.

“É o jeito gastar com táxi, ou pegar van, porque ônibus é uma dificuldade. O acesso da gente já é difícil e ter que pegar ônibus alto e que às vezes nem param”, diz Conceição do Nascimento.

Atividades fora de casa estimulam idosos a ter vida mais saudável
Com o passar dos anos é natural a perda de massa muscular, flexibilidade, força, equilíbrio, massa óssea, além de aumentar a gordura corporal. Há uma série de modificações nos diferentes sistemas do organismo, mas o cuidado com a saúde pode retardar as consequências do envelhecimento.

Trabalhos manuais, atividades de dança, educação física e outros exercícios se tornam essenciais e podem trazer bons resultados para os idosos.

Embora os exercícios sejam de maneira moderada, até mesmo pela idade, a atividade física é fundamental para dar mais força e vitalidade. Da mesma forma acontece com os trabalhos que incentivem o desenvolvimento mental.

A pedagoga Ivete Martins afirma que essas atividades contribuem para uma melhora significativa na qualidade de vida. Inserir apenas uma dessas atividades já traz resultados, mas um conjunto de atividades podem trazer melhoras mais visíveis. “Mudam na interação. Eles ficam mais alegres. Fazem o que gostam”, diz.

Maria José dos Santos têm 83 anos, mas com espírito jovem. Contudo, deixou de participar das atividades por problemas de saúde. Quando estava no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) próximo ao bairro onde mora, as coisas eram diferentes.

“Lá estudávamos, fazíamos trabalhos, dançávamos quadrilha, fazíamos ginástica, era muita coisa boa. Eu me arrumava, me produzia toda para ir. Pintava o cabelo, fazia até escovinha”, conta.

De acordo com a pedagoga Ivete Martins, terapias lúdicas, de resgate à infância e a interação dos idosos com os jovens também fazem com que eles desenvolvam mais a mente, estimulando o reforço da memória.

“O resgate cognitivo tem resultado muito bom. Pois começam a rever conceitos, têm um choque de gerações, interagem com adolescentes.
Eles, parados em frente à TV, só estão vendo e ouvindo, sem interagir com ninguém. Quando eles começam a falar da sua história, afloram as ideias. Tudo isso faz com que rejuvenesçam”, explica.

Unidade do Cras deixa de oferecer atividades e idosos sentem falta
Desde a abertura do Centro de Convivência Júlia Almeida, localizada no Bairro Cidade Nova, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do Bairro São Marcos deixou de oferecer atividades para a pessoa idosa.

Segundo a diretora do CRAS, Ivete Martins, os alunos foram transferidos para o Centro de Convivência onde têm mais opções de lazer. Mas por conta disso, alguns idosos que moram próximo ao CRAS sentem falta e falam das dificuldades de ir até o novo espaço.

Timon possui, ao todo, cinco centros de referência como esses e realizam as mais variadas atividades que estimulam a mente e exercitam o corpo. No CRAS do Bairro São Marcos, até mesmo aulas que ensinam a maneira correta de cair eram disponibilizadas aos idosos.
Maria José dos Santos, de 83 anos, era uma das 35 idosas que frequentavam o CRAS do bairro São Marcos. Mas há quase dois anos, ela teve problemas no pé direito e desde então deixou de frequentar.

Depois da transferência dos alunos para o novo espaço, ela afirma que agora não tem mais condições de ir. “Eu ando de cadeiras de rodas. E pra ir pra lá a gente precisa ir de ônibus.
Antes pra eu ir ao CRAS era a pé mesmo, não era nem dez minutos. Basta só a caminhada pra me exercitar. Para lá, a gente tem que ir de ônibus mesmo, é uma dificuldade”, conta.
Antônia dos Santos, que já trabalhou com os idosos no CRAS, lembra o quanto as atividades eram boas para eles.

“Eles ficavam muito à vontade. Esqueciam os problemas de casa. Era muito bom”.

Para Maria José, o fato de estar em cadeira de rodas não impede de fazer as atividades. O problema, segundo ela, é só a distância. “É tão ruim ficar o dia todo dentro de casa. Se voltasse a ter no CRAS eu iria.

Porque estou sem poder andar, mas as mãos ainda podem trabalhar e eu ainda enxergo muito bem. Consigo ler sem precisar de óculos. E eram tão boas as atividades lá, fazíamos tanta coisa, me sentia muito bem”, lamenta.


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