Terceira idade: Diabete e hipertensão, uma combinação fatal


Cresce o número de idosos que têm simultaneamente as duas doenças que mais atingem quem já passou dos 60 anos: a hipertensão e o diabete do tipo 2. De acordo com estatísticas do Vigitel 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) do Mi­nistério da Saúde, 21,6% dos brasileiros nessa faixa etária têm diabete, e 59,7% têm hipertensão. Quando se analisam os dados de quem tem as duas doenças, o porcentual costuma atingir mais de 30% dessa população.


Esse fenômeno – hipertensão e diabete juntas – é típico de duas situações muito conhecidas dos brasileiros: o envelhecimento da população (já são 14 milhões de idosos no país) e o sedentarismo (49,2% dos brasileiros são inativos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde). No primeiro caso, o passar dos anos gera um impacto sobre o corpo, que já não tem a capacidade de se recuperar tão bem das agressões ambientais. O resultado é uma falência progressiva de órgãos e tecidos.

Com isso, surgem doenças como a arteriosclerose senil (alterações das fibras elásticas da artéria, que geram a atrofia das células musculares e sua substituição por um tecido fibroso e enrijecido) e a perda da capacidade do pâncreas de produzir a insulina, hormônio que reduz o nível de glicose no sangue. São processos inevitáveis, embora também dependam da genética, da alimentação e dos hábitos de vida.

O sedentarismo tem papel tão ou mais importante para o surgimento dessas doenças, que já são consideradas uma epidemia pela OMS. No caso do diabete do tipo 2, a falta de atividade física tem papel-chave, uma vez que o ganho de peso e a obesidade estão relacionados à doença, em especial a gordura central, que se localiza na barriga. O tecido gorduroso produz substâncias que são capazes de destruir as células pancreáticas que produzem insulina.

De acordo com a endocri­nologista do Hospital Nossa Senhora das Graças de Cu­ri­tiba Luciana Pechmann, com exercícios físicos, o músculo responsável por captar a glicose do sangue e transformá-la em energia para suas células também se fortalece e minimiza os efeitos do envelhecimento. “A atividade física dá força a esse músculo para trabalhar e retirar o açúcar do sangue, evitando o aparecimento da diabete.”

A diabete, uma vez instalada, pode causar a hipertensão. Por ser uma doença do metabolismo, a diabete causa o aumento do nível de colesterol ruim (LDL), até pelo ganho de peso associado. “Ao ser oxidado, o LDL é capturado pela parede das artérias e, após ser digerido pelas células, gera arteriosclerose, que é uma ferrugem do tecido biológico, causando a hipertensão”, esclarece o cardiologista do Hospital Costantini, em Curitiba, Everton Dombeck.

Tal binômio, de acordo com os especialistas, é causador da maioria dos casos de enfarte do miocárdio e AVC (acidente vascular cerebral), o que exige mudança de hábitos. O primeiro mandamento é se exercitar, preferencialmente com atividades aeróbicas, que aumentam a oxigenação, além de abandonar as dietas calóricas e gordurosas e o fumo.

Riscos
Cuidado com a gordura da barriga
Não é apenas uma questão de estética. A gordura localizada ou central, mais conhecida como barriguinha (às vezes, barrigão), é extremamente prejudicial para a saúde. Como ela está localizada muito perto do fígado, é quase certa a sua “migração” para o sistema hepático, de acordo com a médica endocrinologista e chefe do Setor de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Evangélico, Mirnaluci Ribeiro Gama. Ela tem até uma brincadeira que ajuda os pacientes a se lembrarem dos riscos dessa gordurinha. “A gordura periférica, localizada nas pernas, braços e bumbum, é como uma prisão de segurança máxima, ficam lá. Já a gordura visceral, da barriga, é como uma prisão de segurança mínima. Com o mínimo descuido, fogem para o sistema hepático.” Para evitar essa fuga em massa, a médica recomenda muito exercício, em especial caminhadas, que ajudam a dissipar a energia inútil acumulada na barriga e evitam a morte celular.

Brasileiros desconhecem sintomas
A hipertensão ainda é desconhecida para grande parte da população brasileira. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita em oito capitais – São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre – com 7 mil pessoas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em conjunto com o laboratório farmacêutico Bayer. Em 70% dos casos, os entrevistados não relacionaram a doença ao aumento da pressão arterial, seu principal sintoma.

Os fatores de risco também são ignorados pela maioria. Somente 18% responderam “obesidade”, e outros 18%, o fator “sedentarismo”; 12% lembraram do “estresse” e 10%, da “ingestão de sal em excesso”. Para 5%, o fator lembrado foi o “hereditário”. Já 14% não souberam associar a nenhuma das opções e 23% escolheram outros fatores.
Em relação às complicações, 20% consideraram o AVC. Outros fatores também fo­­ram citados: obesidade (14%), morte súbita (13%) e enfarte do miocárdio (12%). Outros 17% não souberam responder. Para a SBC, a pesquisa evidencia a necessidade de mais campanhas de conscientização da população por parte de órgãos oficiais e não oficiais sobre o problema, que atinge 70% dos idosos com mais de 70 anos.

Menopausa
Mulheres na menopausa devem tomar cuidado, pois as mudanças hormonais pelas quais passa o corpo feminino potencializam os riscos. O estrogênio diminui drasticamente, o que faz com que a mulher adquira um corpo mais parecido com o masculino. Com isso, a tendência é que a gordura abdominal apareça também, elevando o risco de diabete e de hipertensão.

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