Avós foram necessárias para evolução da longevidade humana


RIO - Simulações em computador acrescentaram um suporte matemático à chamada “hipótese das avós”, uma teoria famosa de que os humanos evoluíram para terem uma vida adulta mais longa porque elas ajudam a alimentar os netos. Os cálculos indicam que mesmo com uma breve contribuição das avós na criação dos filhotes – e sem levar em conta fatores como o tamanho do cérebro - animais como os chimpanzés acabam atingindo a longevidade dos seres humanos em um período de menos de 60 mil anos. As fêmeas dos chimpanzés raramente vivem além do auge de sua fase reprodutiva, geralmente até os 30 anos, podendo chegar ao início dos 40, enquanto as mulheres normalmente vivem por décadas depois de não poderem ter mais filhos.
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A hipótese das avós diz que quando elas ajudam a alimentar os filhotes depois que eles deixam de mamar, suas filhas podem produzir mais crias em intervalos de tempo menores. Além disso, a idade de desmame diminuí, as crianças demoram mais tempo para conseguirem se alimentar sozinhas e para atingir a maturidade. Mas ao permitir que suas filhas tenham mais filhos, algumas de nossas ancestrais que viveram o bastante para virar avós puderam passar os genes de sua longevidade para mais descendentes, que como resultado tiveram uma vida adulta mais longa.

- A ajuda das avós na criação foi o primeiro passo que nos tornou o que somos – defende Kristen Hawkes, professora de antropologia da Universidade de Utah, nos EUA, e principal autora do estudo, publicado hoje no periódico científico “ Proceedings of the Royal Society B”.

Hawkes e os também antropólogos James O'Connell, da Universidade de Utah, e Nicholas Blurton Jones, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, formalmente apresentaram a hipótese das avós em 1997, gerando grande debate na comunidade científica. Uma das principais críticas era de que a teoria não tinha uma base matemática, o que ela agora tenta suprir com o novo estudo. A hipótese surgiu de observações feitas por Hawkes e O'Connell nos anos 80, quando viveram com uma tribo de caçadores-coletores da Tanzânia, os Hazda. Eles viram como as mulheres mais velhas da tribo passavam o dia coletando tubérculos e outros alimentos para os netos.

À exceção dos humanos, todos outros primatas e mamíferos são responsáveis por buscar a própria comida depois que deixam de mamar. Mas à medida que os ancestrais dos humanos evoluíam na África anos longo dos últimos 2 milhões de anos, o clima e o ambiente também mudavam, ficando mais seco, com savanas mais amplas e menos florestas onde os filhotes recém desmamados podiam facilmente encontrar alimentos por conta própria.
- Assim, as mães tinham duas escolhas: ou podiam seguir o recuo das florestas, onde o alimento estava disponível para seus filhotes coletarem, ou continuavam a alimentar suas crias depois do desmame – explica Hawkes. - A segunda opção é um problema para as mães, pois significa que elas não podem ter um outro filho enquanto estiverem ocupadas com o primeiro.

Segundo a antropóloga, o dilema abriu caminho para que as poucas fêmeas que estavam deixando a fase reprodutiva – as avós – entrassem em ação e ajudassem a cavar tubérculos ou quebrar as duras cascas de nozes, tarefas em um ambiente cada vez mais árido que os recém desmamados ancestrais de humanos e outros primatas não eram capazes de realizar. Assim, os primatas que escolheram seguir o recuo das florestas onde seus filhotes poderiam se alimentar facilmente evoluíram para se tornarem nossos grandes primos como os gorilas.

- Já os que começaram a explorar os recursos que os pequenos filhotes não conseguiam alcançar abriram esta janela para as avós e eventualmente evoluíram para os seres humanos – diz Hawkes.

No estudo, os cientistas simularam um animal que como os chimpanzés vivesse 25 anos após atingir a maturidade sexual, mas com as avós ajudando a criar os filhotes. Dependendo de outras variáveis, após 24 mil a 60 mil anos a expectativa de vida adulta destas criaturas quase que dobrou, atingindo 49 anos.

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