Expectativa de Vida


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) concluiu a avaliação sobre os números contidos no Censo Demográ-fico de 2010 e chegou a conclusão que a expectativa de vida do brasileiro aumentou em 25,4 anos entre 1960 a 2010. Significa dizer que há 50 anos uma pessoa vivia, em média, 48 anos no Brasil e hoje a média de vida da população chegou a 73,4 anos. Ao mesmo tempo em que envelhece mais, também cresce a participação de idosos na população, que saltou de 2,7% para 7,4% do total de habitantes.
Outro número chama a atenção: em apenas cinco anos, a expectativa de vida do brasileiro subiu de 71 anos e três meses para 73 anos e quatro meses. Pela lógica, a expectativa de vida de uma Nação deveria ser medida pelas con-dições de sobrevivência do seu povo e todos sabem que mais de 20 milhões de brasileiros ainda vivem abaixo da linha da misé-ria, enquanto outros 10 milhões em idade economicamente ativa estão desempregados ou vivendo no subemprego. Mas estes dados parecem não ter influenciado a pesquisa do IBGE.
A revelação sobre o aumento da expectativa de vida do brasileiro chama a atenção para dois fatores: 1 – viver mais tempo no Brasil, infelizmente, não significa viver melhor e é patente a falta de políticas públicas para a terceira idade em todas as esferas do poder público, já que os idosos sofrem com problemas que vão desde a falta de médicos geriatras na rede pública e, consequentemente, com a falta de medicamento, lazer, transporte.
2 – num país onde é cada vez maior o volume de jovens que morrem de forma violenta antes de completar 25 anos de idade, chega a ser surpreendente uma pesquisa apontar que o aumento na longevidade do brasileiro. O instituto do governo não explica como, se desde 1980, as mortes entre jovens, principalmente do sexo masculino, associadas à violência cresceram e passaram a ter um efeito desfavorável sobre as taxas de longevidade, pode aumentar a expectativa de vida do resto da população? É uma conta que, aparentemente, não bate e que deveria ser me-lhor esclarecida pelos pesquisadores do IBGE. De qualquer forma, o brasileiro está envelhecendo mais sem que, contudo, os governos proporcionem condições para que a velhice seja saudável.
Basta atentar para o fato que 90% dos aposentados e pensionistas da Previdência Social sobrevivem com um salário mínimo de R$ 622, dinheiro insuficiente até mesmo para cobrir os gastos dos medicamentos de uso contínuo. Em virtude disto, os idosos são obrigados a criar fontes alternativas de renda mesmo após a aposentadoria e muitos que trabalharam por 35, 40 e as vezes 50 anos, acabam se humilhando por uns trocados a mais. É triste, mas, infelizmente, é assim. Se na média a expectativa de vida fica acima dos 73 anos, esse número despenca consideravelmente quando o estudo é feito por sexo e con-sidera apenas os homens que nasceram no ano passado. Nesta faixa etária, a expectativa de vida cai para 68 anos e quatro me-ses no sexo masculino e salta para 78 anos e cinco meses no feminino. Isso ocorre porque, tradicionalmente, as mulheres se envolvem menos com o crime e são mais precavidas no trânsito.
Ademais, a escassez de segurança pública, sobretudo nos grandes centros urbanos, acaba comprometendo qualquer estudo sobre expectativa de vida do brasileiro. Combater a violência com eficácia seria o primeiro passo para colocar o Brasil num patamar melhor quando se fala em viver mais e com qualidade. Comparada a países como o Japão, por exemplo, a expectativa de vida do brasileiro deixa muito a desejar, já que os japoneses vivem, em média, 83,6 anos. Esse patamar só deve ser atingido pelo brasileiro em 2040, mesmo assim se os governos fizerem o dever de casa.
Hoje, entre 192 países pesquisados, o Brasil figura em 78º lugar no ranking da expectativa de vida, o que revela que muita coisa ainda precisa ser feita para que o brasileiro possa viver mais e melhor. O governo pode começar garantindo a cidadania a todos que tiveram a felicidade de chegar à terceira idade, a começar pelo desenvolvimento de políticas públicas voltadas para essa camada da sociedade. Como uma Nação pode falar em longevidade se são raros os municípios que se preocupam em oferecer condições dignas de vida aos seus velhi-nhos e, mais grave, o mesmo país que atinge uma expectativa de vida de 73,4 anos não assume a responsabilidade pelos abrigos ou asilos para aqueles que, ao envelhecer, acabam abandonados por suas famílias.


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