Depressão no idoso


"Perdas recentes de alguém amado, limitações ocasionadas por outras doenças e problemas de sono aumentam o risco para depressão nessa faixa etária". O envelhecimento bem sucedido é uma meta que almejamos e podemos construir durante toda a nossa existência. Depende de bons hábitos, como: exercício físico; boa dieta (diferente da dieta ocidental, caracterizada por um excesso de carboidratos e gordura); leitura; suporte social; e ausências de tabagismo e excesso de bebidas alcoólicas. De modo relevante, um estudo coordenado pelo renomado psiquiatra estadunidense George Vaillant demonstrou que características de personalidade mais maduras ao longo da vida - como a capacidade de perceber o lado bom do sofrimento - estão muito fortemente associadas ao envelhecimento com qualidade de vida.
Entretanto, aproximadamente 10% dos idosos têm depressão. Esse transtorno mental complexo é em parte genético. Contudo, nosso material genético não determina nosso destino. Perdas recentes de alguém amado, limitações ocasionadas por outras doenças e problemas de sono aumentam o risco para depressão nessa faixa etária. Os idosos do sexo feminino têm mais depressão.
Outro fato importante é que a maioria da população associa depressão com tristeza (humor deprimido) prolongada. Esse sintoma pode até se relacionar com a depressão do adulto. Mas na terceira idade, a depressão comumente se manifesta distintamente. O idoso deprimido muitas vezes não relata tristeza. O quadro se caracteriza por perda de prazer e de interesse, distúrbios do sono, isolamento social, falta de energia, perda de peso e de apetite.
Um sintoma especialmente comum no idoso deprimido é a presença de dores físicas. São dores em diversas partes do corpo que não estão relacionadas diretamente a outras doenças médicas, como, por exemplo, a artrite. A depressão pode diminuir o número e a qualidade dos anos de vida em idosos. Além do mais, a depressão passa muito tempo sem ser diagnosticada. É um inimigo silencioso que aumenta a mortalidade causada por muitas doenças mais comuns nessa faixa etária, como diabetes, enfisema pulmonar, doenças vasculares cardíacas e insuficiência renal crônica.
O lado bom, nesse caso, é que há esperança e tratamento. Precisamos educar nossos estudantes de medicina e colegas médicos a reconhecer esse quadro em idosos. Os estudos mostram que os médicos muitas vezes não diagnosticam corretamente esse quadro clínico. Também a população precisa ser esclarecida. O preconceito precisa ser superado. Depressão é uma patologia séria e crônica. Não é uma consequência natural do envelhecimento. Precisa ser tratada e o tratamento pode ser muito efetivo.
Na maioria das vezes, consiste de drogas antidepressivas que estão cada vez mais bem toleradas em termos de efeitos colaterais. Além do mais, a psicoterapia pode ser um aliado importante também nessa faixa etária. O exercício físico tem efeito antidepressivo. Além do mais, todo idoso, independente de ter ou não depressão, deve ter seu suporte social assegurado. Finalmente, se houver suspeita de que algum idoso tenha depressão, procure um médico capacitado em tratar tais transtornos. Não permitamos que este transtorno psiquiátrico continue a subtrair o brilho e a saúde dos anos vividos na MELHOR idade...
André Férrer Carvalho é psiquiatra e professor-adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Realiza pesquisas em psiquiatria e neuropsicofarmacologia.

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