Adolescentes podem ter o organismo de sessentões, e há senhores que driblamfacilmente o envelhecimento, dando um banho de saúde em muitos jovens. Uma lista extensa de perguntas sobre o histórico alimentar, comportamental, familiar, psicológico e emocional promete chegar perto da idade biológica de uma pessoa. Mais simples seria um rápido exame de sangue. Como aqueles testes que medem a glicose ou os níveis de colesterol, bastaria uma espetadinha num dedo para saber a quantas anda a saúde dos órgãos vitais. Essa é a proposta de pesquisadores britânicos. Eles descobriram que há uma substância reguladora do envelhecimento humano no sangue que pode ser medida antes mesmo de a pessoa nascer, durante sua gestação.
A equipe liderada por Cristina Menni, do Departamento de Pesquisa em Gêmeos e Epidemiologia Genética da King’s College de Londres, identificou um painel de 22 metabólitos que, combinados, estão fortemente associados ao envelhecimento e aos traços clínicos relacionados à idade. Um deles, o C-glicosil triptofano, foi apontado como o principal indicador, pois estaria envolvido em conhecidas determinantes do envelhecimento saudável, como a densidade óssea do esqueleto, o colesterol, a pressão sanguínea, a função pulmonar e o peso ao nascer.
Um metabólito é o produto do metabolismo de moléculas, células ou substâncias, sendo capaz de atuar como uma “impressão digital” química, que deixa pistas sobre as alterações moleculares do organismo. Essas modificações ocorrem durante o ciclo de vida e são motivadas também por fatores ambientais e comportamentais, como o tabagismo, a exposição à poluição e a obesidade. A recente metabolômica, relacionada ao estudo dos metabólitos, poderia descobrir o elo molecular entre a interferência do meio ambiente e as alterações genéticas provocadas por elas.
Para chegar a essa descoberta, relatada na edição deste mês do International Journal of Epidemiology, o grupo de pesquisadores analisou amostras de sangue de 3 mil pares de gêmeos, sendo metade deles idênticos. Os voluntários tinham entre 17 e 85 anos, e foram acompanhados, durante décadas, no grupo de estudos de gêmeos da King’s College. Os cientistas usaram uma técnica de perfilamento metabolômico, na qual foram analisados 280 metabólitos sanguíneos. Os 22 produtos do metabolismo identificados puderam ser diretamente relacionados à idade cronológica dos participantes, sendo que as concentrações desses metabólitos foram maiores em pessoas mais velhas.
Influências diversas
SAIBA MAIS...
Segundo a pesquisadora Ana Valdes, participante do estudo, o envelhecimento humano é um processo influenciado pela genética, pelo estilo de vida e por fatores ambientais. Os genes explicariam apenas uma parte da história. As alterações moleculares que influenciam como será o envelhecimento ao longo do tempo são desencadeadas por alterações epigenéticas. Esse estudo, pela primeira vez, utilizou a análise de sangue e alterações epigenéticas para identificar um novo metabólito, o C-glicosil triptofano, que tem ligação entre o peso que pessoa tem ao nascer e o índice de envelhecimento.
No estudo, esse único metabólito apresentou-se diferente em gêmeos geneticamente idênticos, mas que nasceram com peso muito diferente. “Isso nos mostra que o peso ao nascer afeta um mecanismo molecular que altera esse metabólito. A descoberta pode nos ajudar a entender como a nutrição menor no ventre altera vias moleculares que resultam em rápido envelhecimento e em um maior risco de doenças relacionadas com a idade 50 anos mais tarde”, relata Ana Valdes ao Estado de Minas.
É sabido há algum tempo que o peso de uma pessoa no momento do nascimento é um importante determinante da saúde na meia e na terceira idades, e que as pessoas com baixo peso são mais suscetíveis a doenças relacionadas com a idade. “Até agora, os mecanismos moleculares que ligam esse baixo peso à saúde ou à doença na velhice haviam permanecido uma incógnita, mas essa descoberta revelou uma das vias moleculares envolvidas.” Segundo os pesquisadores, os resultados mostram que é possível que esses marcadores do envelhecimento possam ser identificados com exames de sangue simples, o que poderá fornecer novas pistas sobre o processo de envelhecimento, abrindo caminho para o desenvolvimento de terapias para tratar doenças relacionadas à idade. “Agora, podemos calcular a idade real de uma amostra de sangue com bastante precisão e, no futuro, isso pode ser refinado para identificar potencialmente o rápido envelhecimento biológico nos indivíduos”, diz Ana
Efeito coletivo
Para a professora Carmen Carolina Romero Saavedra, do Departamento de Genética do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, os resultados ainda precisam ser replicados para que haja alguma aplicação clínica. Mas ela os considera bastante animadores para a busca por marcadores do envelhecimento saudável. Saavedra acredita que essa necessidade de prever como será o envelhecimento de uma pessoa se torna cada dia mais importante à medida que a população mundial envelhece e os custos de saúde aumentam. “Quanto mais é possível prever se determinada população terá idosos muito doentes ou em melhores condições de saúde, melhores podem ser as respostas em termos de saúde pública e de prevenção”, explica.
A busca pela fonte da juventude e a curiosidade humana sobre o tempo que resta de vida também são fatores que têm motivado esse tipo de pesquisa. “Hoje em dia, existem clínicas no exterior que se propõem a medir os telômeros, as extremidades dos cromossomos (veja Saiba mais), em busca de saber quanto tempo eles vão viver”, conta Carmen. Ela alerta que essas tentativas podem ser infrutíferas, já que o envelhecimento sempre será uma condição multifatorial dos sistemas biológicos de qualquer organismo. “Depende tanto de fatores do ambiente quanto de fatores estritamente biológicos, isso é, genéticos. Dentro das duas características, muitos outros fatores atuam para produzir esse processo. É uma questão muito complexa, que jamais vai depender só de um fator.”
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