Falar sobre sexo na velhice ainda é motivo de vergonha e constrangimento para muitos, o que dificulta a busca de informação e a superação de obstáculos para ter uma vida sexual ativa na terceira idade.
"O sexo é muito útil para a autoestima e para diminuir a ansiedade dos idosos", afirma o geriatra Salo Buksman, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
"O sexo é muito útil para a autoestima e para diminuir a ansiedade dos idosos", afirma o geriatra Salo Buksman, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
É possível ter uma vida sexual de qualidade na velhice. Segundo a psicóloga Ana Teresa de Abreu Ramos Cerqueira, no final do século 20, vimos uma revolução no conceito da sexualidade, e essas mudanças repercutiram na vida sexual do idoso.
"Não se concebe hoje a sexualidade ligada apenas à função reprodutiva, mas como fonte de prazer e de realização em todas as idades", diz Ana, que é professora do departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria e da Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unesp.
"Há limitações para se viver plenamente a sexualidade na velhice, o que pode haver em todas as idades, mas é preciso tentar superá-las ou minimizá-las", afirma Ana Teresa.
"Há limitações para se viver plenamente a sexualidade na velhice, o que pode haver em todas as idades, mas é preciso tentar superá-las ou minimizá-las", afirma Ana Teresa.
A redução da atividade sexual é notória entre os idosos, principalmente entre as mulheres, segundo a psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade da USP).
"Muitas mulheres não param de fazer sexo porque desistem, mas, sim, porque enviúvam ou se separam e não voltam a se casar. Mas, claro, há aquelas que desistem de transar com os maridos", diz Carmita.
"Muitas mulheres não param de fazer sexo porque desistem, mas, sim, porque enviúvam ou se separam e não voltam a se casar. Mas, claro, há aquelas que desistem de transar com os maridos", diz Carmita.
Os dados da pesquisa Mosaico Brasil, que contou com mais de 8 mil entrevistados e foi coordenada por Carmita em 2008, mostram que, na faixa entre 18 e 25 anos, 90,4% dos homens e 83,3% têm vida sexual ativa.
Dos 26 aos 40, 95,4% dos homens e 93,3% das mulheres se dizem sexualmente ativos. Dos 41 aos 50 anos, o número passa para 94,4% dos homens e 85,1% das mulheres. Dos 51 aos 60, 93,5% dos homens e 76,6% das mulheres dizem ser ativos sexualmente. Já acima dos 61, o número cai para 87,1% dos homens e 51,2% das mulheres.
Dos 26 aos 40, 95,4% dos homens e 93,3% das mulheres se dizem sexualmente ativos. Dos 41 aos 50 anos, o número passa para 94,4% dos homens e 85,1% das mulheres. Dos 51 aos 60, 93,5% dos homens e 76,6% das mulheres dizem ser ativos sexualmente. Já acima dos 61, o número cai para 87,1% dos homens e 51,2% das mulheres.
Obstáculos físicos
Segundo Buksman, um dos motivos que levam à redução da atividade sexual entre os idosos é a perda de libido, que pode ocorrer devido à diminuição da produção hormonal masculina e feminina.
As mudanças nos órgãos sexuais também afetam homens e mulheres, segundo o geriatra Alexandre Leopold Busse, do Serviço de Gerontologia do Hospital Sírio-Libanês. "O homem pode demorar mais para se excitar, ter ereção e orgasmo. Já a mulher sofre com a diminuição da elasticidade, o ressecamento vaginal e sente dor durante a penetração".
Segundo ele, alguns medicamentos também podem dificultar a ereção e o desejo, como aqueles indicados para hipertensão ou antidepressivos. "Nesses casos, um ajuste na dosagem ou na medicação pode melhorar o quadro", afirma Busse.
Segundo ele, alguns medicamentos também podem dificultar a ereção e o desejo, como aqueles indicados para hipertensão ou antidepressivos. "Nesses casos, um ajuste na dosagem ou na medicação pode melhorar o quadro", afirma Busse.
A dificuldade de ter e manter a ereção pode levar à falta de vontade de transar. "O homem vê uma relação muito forte do sexo com o pênis. Quando nota uma falha, a autoconfiança e o desejo de praticar sexo diminuem muito", afirma Buskman. Remédios para disfunção erétil como o Viagra podem ajudar na ereção, desde que usados sempre sob orientação médica.
"Muitas vezes o idoso compra na farmácia e não sabe usá-lo corretamente. A automedicação é perigosa", diz Busse.
"Muitas vezes o idoso compra na farmácia e não sabe usá-lo corretamente. A automedicação é perigosa", diz Busse.
Para as mulheres, lubrificantes à base de água diminuem a dor da penetração e, em alguns casos, pode ser recomendada a reposição hormonal. "O climatério pode levar à diminuição do desejo para algumas. Às vezes, é indicada a reposição, desde que tenha orientação correta", afirma Busse. Para saber qual a melhor maneira de superar as barreiras físicas, as mulheres devem consultar um ginecologista e um geriatra.
No caso de transtornos de ansiedade ou depressão, que também causam queda da libido, é importante procurar um psicólogo ou psiquiatra, segundo Busse.
Outros obstáculos impedem uma vida sexual plena para homens e mulheres, como a artrite, que leva à dificuldades para se movimentar devido à dor. Segundo estudo recente realizado nos Estados Unidos, implantes no quadril melhoraram a frequência sexual de 81% dos 147 pacientes submetidos à cirurgia.
A avaliação médica é fundamental para driblar esses problemas e para controlar doenças crônicas. Para Buksman, mesmo os casos de doenças reumáticas, cardíacas e pulmonares, que impedem atividades físicas, têm solução. "Pode-se praticar sexo de várias maneiras, pois sexualidade não é sinônimo de penetração. Um carinho, um beijo, uma dança mostram que a sensualidade e a sexualidade estão presentes".
Barreiras culturais e psicológicas
Os múltiplos estereótipos e preconceitos interferem muito na vida sexual. "A sociedade ainda vê a sexualidade na velhice como um tabu, algo reservado aos mais jovens. Há a exigência de que os homens não podem falhar e as mulheres têm de ter beleza e juventude como fontes únicas de atratividade. Tudo isso causa a diminuição do sexo", afirma Ana Teresa. Para Buksman, os próprios idosos se discriminam em relação à aparência. "Cultuamos o jovem, o esguio; há uma depreciação do aspecto físico do idoso", afirma.
Segundo ele, a sociedade incutia na cabeça das pessoas que o sexo na terceira idade seria algo profundamente inadequado, e isso coloca uma barreira psicológica principalmente para a mulher idosa. "Ela pensa que já passou dessa fase, que é uma avó e tem que se dar ao respeito", afirma.
A forma como a pessoa viveu o sexo ao longo da vida também influencia como ele será na terceira idade. Uma pessoa que foi reprimida, não teve uma vida sexual feliz na fase adulta, tampouco a informação correta sobre o tema, certamente encontrará muitas barreiras, o que é mais comum entre as mulheres. "Muitas praticavam sexo como uma obrigação, para satisfazer o marido e reproduzir. Passado o período reprodutivo, essas mulheres que não tiveram prazer começam a negar o sexo", afirma Buksman.
O relacionamento com o parceiro também influencia na atividade sexual. Segundo o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr, diretor do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade), casais que ainda se amam e mantém o contato físico no dia a dia tendem a ter mais atividade sexual. "É importante fazer planos cotidianos a dois e ter cuidado com a saúde física e mental, o que beneficiará ambos", afirma.
Libertação na velhice
Para Ana Teresa, o sexo na terceira idade pode ser libertador e prazeroso, mas depende de como se encara a velhice e as modificações que ela causa em todos os aspectos da vida. "O idoso pode lidar com conformismo e rejeição ou levar a velhice com criatividade", afirma. "O avanço não é devolver ao velho a performance do jovem, mas conseguir novas formas de satisfação", diz Ana.
É possível conseguir atingir a plenitude sexual na velhice. "Tem gente que abre mais a cabeça e se conhece melhor com o passar da idade e o sexo se torna mais prazeroso", diz Busse.
Mas, em qualquer idade, o sexo exige proteção. "É preciso alertar para o aumento no índice de doenças sexualmente transmissíveis em idosos, incluindo o HIV. Os mais velhos raramente usam preservativos, mas também devem evitar o comportamento de risco, usando camisinha para evitar doenças sexualmente transmissíveis", afirma Busse.
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