Qualidade de vida estimula a permanência de idosos no meio rural


Uma das metas centrais do trabalho de assistência técnica e extensão rural é contribuir para a qualidade de vida no campo. Mais uma vez, ela é reafirmada como uma das principais motivações para a permanência no meio rural, em estudo realizado com idosos do interior de Tucunduva, no noroeste do Estado.

Formanda em Psicologia pela Sociedade Educacional Três de Maio (SETREM), Joice Laíse Fronza, de 22 anos, filha de agricultores familiares da localidade de Bela Harmonia, interior de Tucunduva, sentiu-se estimulada a pesquisar acerca do tema a partir de um estágio na área de Psicologia, realizado no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Três de Maio, onde prestou atendimento principalmente a idosos.

Com a proposta de compreender a perspectiva de envelhecimento de moradores do meio rural, a jovem pesquisadora buscou entender, em especial, as implicações do ambiente em que vivem no processo de envelhecer. Além disso, a pesquisa, que serviu como base para seu trabalho de conclusão de curso, resgatou alguns dos fatores que estimulam a permanência no meio rural. “É importante lembrar que o estudo é qualitativo, não cabe generalização. Ele contribui para pensar no panorama da agricultura familiar”, destaca a professora orientadora, psicóloga Rita de Cássia Maciazeki Gomes.

A atividade da universitária e o engajamento de alunos do curso de Psicologia da SETREM com as ações de extensão rural estão imersos em um projeto maior denominado de pesquisa desenvolvimento. A sistemática procura fugir da fragmentação e potencializar os diferentes conhecimentos, transformando em realidade o conhecimento transdisciplinar.
Nesta perspectiva, o assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, engenheiro agrônomo Ivar Kreutz, que avaliou o trabalho realizado pela universitária, destaca que entender o público é um dos importantes passos para refletir acerca do trabalho de extensão rural e das políticas públicas que chegam ao campo. “É fundamental conhecer melhor este público para poder trabalhar cenários com aqueles que ainda estão na ativa e assim projetar um futuro de perspectivas. São públicos da extensão, de forma direta ou indireta, com uma trajetória de vida que pode ajudar ou dificultar o trabalho com os sucessores”, observa.

Qualidade de vida sob olhar do idoso

No estudo realizado por Joice, foram ouvidos três agricultores familiares idosos, por meio de entrevista semi-estruturada, que relataram suas vidas, revelando importantes aspectos que motivam a permanência no meio rural, na contramão de altos índices de êxodo rural. O destaque especial foi para a qualidade de vida. “Os idosos entrevistados apontaram, como impulsionadores da qualidade de vida, diferentes fatores como tranquilidade, bem-estar, possibilidade de ter ocupações cotidianas e se sentir parte da vida comunitária”, esclarece Joice.

O sentimento de pertencer à comunidade e a construção de identidade vinculada ao local também contribuem para o bem-estar no meio rural e para a vontade de lá permanecer. O rural, para estes idosos, é o lugar onde podem contar com o apoio da vizinhança, de parentes próximos e do círculo de amizades formado por pessoas que vivem uma realidade semelhante a sua. Além disso, no meio rural, a vivência comunitária exerce importante papel, sendo que o idoso muitas vezes é visto como liderança, principalmente em espaços religiosos.

A vontade de se manter produtivo depois da aposentadoria é outro aspecto estimulante apontado pelos idosos. “Mesmo aposentados, eles conseguem produzir e adquirir mais renda. Isso permite um envelhecer mais tranquilo e menos conflituoso”, afirma a acadêmica. “A aposentadoria, portanto, não é um ato de ruptura entre ser um profissional em um dia e amanhecer sem trabalho no outro, sem a identidade formada”, completa Joice.

O trabalho após a aposentadoria possui caráter flexível, uma vez que a rotina é determinada pelo idoso e os horários são diferenciados. E, neste contexto, a companhia do marido e da esposa faz a diferença. “Há uma divisão de tarefas. O homem e a mulher contribuem no trabalho e ainda fazem companhia um ao outro”, comenta Joice.

Acesso a políticas públicas
Também há fatores que preocupam os idosos que permanecem no meio rural, em especial a dificuldade de acesso à saúde. “Pode-se perceber que a permanência no campo é favorecida onde há um agente de saúde por perto. Portanto, a política pública faz a diferença. Em alguns municípios, essa situação é melhor, em outros, menos favorável”, observa a professora Rita de Cássia Maciazeki.

“As políticas são fundamentais para garantir a acessibilidade a tudo que começa a apresentar fragilidade. É preciso acesso ao agente de saúde ou ao serviço médico hospitalar, estrada boa, água de qualidade, alguém que mora mais perto para ajudar nas horas de dificuldades, neste caso, e pode ser um filho ou um vizinho”, lembra Kreutz, ao acrescentar que “é frequente a demanda por um espaço para os ritos religiosos e comunitários que permitem vencer o isolamento e a sensação de abandono”.

Espaços que podem contribuir para a valorização das histórias e experiências de vida também se tornam aliados para o bem-estar no meio rural. “Ainda, o encontro periódico para que tenham espaço de lazer, esporte, música, canto, educação física, constitui uma das condições de um envelhecer com máximo de qualidade de vida”, afirma o engenheiro agrônomo Ivar Kreutz.

O idoso e a organização do meio rural
Ações complexas que levam em conta o agrícola, a pluriatividade e a multifuncionalidade do espaço rural também valorizam o idoso no campo.

Além disso, a presença do idoso no meio rural, além de somar para o bem-estar próprio, contribui como exemplo em diferentes situações sociais, desde a preservação do meio ambiente - conservação de mananciais de água, do solo, das estradas, das fontes intermitentes, de árvores – até a organização comunitária. “Com sua sabedoria e experiência, os idosos são capazes de contribuir com um bom exemplo no reflorestamento, no plantio de plantas frutíferas, flores e hortas. Em suma, ajudam a deixar o meio organizado, vivo e agradável, mostrando que tem morador que gosta do espaço, que o transforma em espaço de vida. Jamais está presente a visão do abandono, da tapera e do descaso com o meio ambiente”, reflete Kreutz.

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