Com um em cada quatro habitantes com mais de 60 anos, região gaúcha enfrenta envelhecimento da população e muda políticas públicas
Para José Rizzi, morador de Relvado com 69 anos, a dose diária de vinho é a fórmula da vida longa e saudável: “Mas tem que ser feito em casa”PEDRO KIRILOS / AGÊNCIA O GLOBO
COQUEIRO BAIXO, RELVADO E COLINAS (RS) – Coqueiro Baixo, cidade de 1.528 habitantes a 200 km de Porto Alegre, só celebrou dois casamentos neste ano. Mas foi palco de quinze bodas, como os aniversários de 50 anos de união. Coqueiro Baixo é a cidade que tem a população mais idosa do país: 29% têm mais de 60 anos, quase três vezes a média nacional (10,8%). O município e os vizinhos Santa Tereza, Relvado e Colinas estão no topo do ranking de população acima desta idade de acordo com o último Censo, com proporção acima de 25%, criando na região um verdadeiro “vale dos idosos”.
Esta realidade é percebida no cotidiano das pessoas, na economia da região e, principalmente, nas políticas públicas, mais focadas em saúde que em educação de crianças, por exemplo. Estas cidades vivem os desafios que surgem com o envelhecimento do Brasil, uma característica de nação desenvolvida, retratada na série de reportagens “País emergente, problemas de rico” que O GLOBO publica desde domingo.
Na única farmácia de Colinas (25,4% de idosos) há uma situação inusitada: são vendidos 70 pacotes de fraldas infantis por mês contra 160 pacotes de fraldas geriátricas. Na pequenina Relvado (26% de idosos), trabalhadores braçais como pedreiros, encanadores e pintores são contratados em outros locais. Em Coqueiro Baixo, enquanto a escola atende a todos os cem alunos em tempo integral, o Centro Social, com atividades recreativas e de saúde, chega a mais de 300 idosos por mês.
A cidade tem a alcunha “terra da canção italiana” e é famosa também entre os gaúchos por ser a “capital da mentira” e, nos meios gastronômicos, por ser a origem das famílias que fundaram as maiores churrascarias do país, como Fogo de Chão, Porcão, Estrela do Sul, Oásis e Vento Haragano.
A região, colonizada por italianos e alemães, tem uma numerosa população idosa por duas razões: forte êxodo de jovens e boa qualidade de vida. Como são cidades pequenas, fica mais evidente este envelhecimento que é sentido em todo o país — segundo o IBGE, o número de pessoas acima de 60 anos passou de 14,5 milhões, em 2000, para 20,6 milhões em 2010, uma alta 6 milhões que é representa a população de todo o estado de Goiás.
Nessas cidades, a maior parte dos idosos tem atividades de recreação, exercícios físicos e trabalhos braçais — como agricultura e jardinagem — que tornam a vida mais ativa. Erotildes Sbardelotto, de 65 anos, uma das primeiras a frequentar as aulas de dança e integrante do coral, é enfática:
— Quando eu venho dançar eu tomo menos remédio, fico mais feliz, penso menos em bobagens.
O segredo de Edi Ursulina Berté, de 78 anos, que mora em uma casa na zona rural de Coqueiro Baixo, é o trabalho. Ela mantém horta, jardim, pomar e parreira de dar inveja. As atividades sociais, como cuidar da igreja local e o encontro diário com as vizinhas, ajudam a garantir a qualidade de vida:
— Se pudesse, acordava todo dia tarde, por volta das 8 horas, mas perderia o chimarrão com as amigas, então levanto às 6h30. Aqui sempre falamos coisas boas, positivas, não temos tempo para tristeza.
Como a maioria ainda trabalha no campo ou em hortas, os custos de alimentação são menores e as despesas com remédios são mínimas — o governo dá a maior parte dos medicamentos e as consultas e exames. O resultado? Sobra tempo para o lazer.
—Dinheiro sempre sobra um pouquinho, a gente vai pras festas. Quem tem carro leva os outros pra passear, a gente não fica parado. Fui passar meu último domingo, por exemplo, em Putinga, uma cidade bonita aqui nas redondezas — conta Antônio Reginatto, de 67 anos, morador de Relvado.
José Rizzi, de 69 anos, todos os dias pega seu carro de boi e vai arar suas terras. Para ele, é inadmissível parar de trabalhar. Em sua opinião, a sua fórmula de longevidade é o vinho. Ele toma um litro da bebida por dia:
— Mas tem que ser vinho feito em casa, de colono, não pode ser vinho de cantina — diz, alegando que evitar agrotóxicos e coisas industrializadas ajuda na saúde da população local
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