Em média 7% dos internados em casas de repouso na Alemanha são dependentes de medicamentos, e entre 8% e 10%, de álcool. Problema é tabu entre idosos e tem como possíveis causas depressão e perda de amigos e familiares.
O copo a mais, o mal-estar, a ressaca no dia seguinte. Quando se é jovem, o álcool não é menos prejudicial do que na idade avançada, mas é mais aceito. O consumo e o uso abusivo da substância é menor nas faixas etárias mais elevadas, apontou um relatório do governo alemão de 2012. Mas, enquanto a população alemã envelhece – em 20 anos, 30% terá mais de 80 anos –, também se registra um aumento do consumo de bebidas alcoólicas no país.
"É de se esperar, somente por conta da trajetória demográfica, que o número de idosos com transtornos relacionados ao álcool aumente", aponta o relatório publicado em maio deste ano. Atualmente, cerca de um terço dos alemães em idade avançada dependentes da substância são indivíduos que já sofriam com o vício antes de chegar à terceira idade.
Também há quem tenha sido dependente em algum momento da vida, superado o problema e voltado a enfrentá-lo ao envelhecer. É o caso de Anna-Lisa, que após uma série de infortúnios, começou a beber novamente aos 70 anos.
Há alguns meses, a alemã de 76 anos está em tratamento na clínica de dependência Kamillushaus, na cidade de Essen. "As pessoas mais velhas sentem vergonha, porque se associa a bebida à culpa, ao fracasso", diz.
"Eu sabia que o primeiro copo significa a recaída, mas pensei que eu já poderia me dar ao luxo de viver como as outras pessoas. E, então, bebi. De início, foi maravilhoso, libertador", conta. Mas ela rapidamente perdeu o controle novamente, combinou o álcool com sedativos e acabou na unidade de terapia intensiva em Essen.
Um terço dos idosos alemães dependentes de álcool já sofria do mal na juventude
Há também idosos que se tornam dependentes por conta de circunstâncias da vida, como a perda de amigos e cônjuges. Outros sofrem de depressão e ansiedade por, de repente, não se sentirem mais tão interessantes e importantes para a sociedade.
A maioria dos idosos recorre, então, a comprimidos e ao álcool, indica o relatório do governo alemão. Números exatos não foram fornecidos, apenas estimativas. Em média 7% dos internados em casas de repouso são dependentes de medicamentos, e entre 8% e 10%, de álcool. Nas clínicas, o problema é mais discutido do que em casas de repouso ou residências particulares.
Mas a dependência alcoólica é um tabu entre a geração acima de 80, diz Hedi Blonzen, diretora de uma casa de repouso em Essen. O vício não é considerado pelos afetados como uma doença, mas como uma conduta pela qual se envergonham.
Além disso, consideram-se benéficos para a saúde produtos como o famoso Melissengeist alemão – medicamento indicado para distúrbios gastrointestinais, ansiedade e insônia, que pode ser comprado em qualquer drogaria e tem 79% de álcool em sua fórmula.
Trabalho conjunto - Cerca de 10% dos moradores da casa de repouso que Blonzen dirige são dependentes de álcool ou sedativos. O problema é identificado pelos funcionários quando "os idosos não os deixam mexer em seus armários, aceitam com ansiedade a bebida em eventos ou se constrangem com isso", diz a diretora.
Intervir é necessário, pois indivíduos viciados não representam apenas um perigo para si mesmos, mas também para os funcionários e outros moradores. Porém, é preciso agir com cuidado para que os idosos não se afastem, porque aqueles que abusam do álcool o fazem principalmente devido à solidão.
O organismo de um idoso não processa o álcool da mesma maneira que o de um jovem. O metabolismo fica mais lento e a quantidade de água – que dilui o álcool – no corpo diminui. Os dependentes idosos são agressivos, apresentam problemas de memória e caminham com instabilidade, aumentando o risco de queda. O álcool pode até danificar o cérebro e levar à demência alcoólica, a chamada síndrome de Korsakov.
"O vício na idade sempre foi um problema, mas nunca recebeu atenção", considera Blonzen. Isso deve mudar com projetos em que as assistências a idosos e a dependentes trabalham em conjunto. Em Essen, há um projeto do tipo, financiado pelo governo alemão e dirigido pelo psicólogo Arnulf Vosshagen.
"O alcoolismo é uma doença fácil de se tratar, mas em que a colaboração do indivíduo é fundamental. É difícil para os idosos enxergarem e aceitarem a dependência", afirma Vosshagen. No projeto desenvolvido em Essen, trabalhadores de auxílio a idosos e de auxílio a dependentes trocam informações constantemente, discutem casos e melhoram a formação da equipe de cuidados.
Contra o sedentarismo
Solidão e depressão são causas para o abuso de álcool entre idosos
Vosshagen sempre ouve dizer que não vale a pena tratar dependentes idosos. Segundo o psicólogo, de fato, apenas os que realmente desejam são ajudados. O tratamento é uma "medida de prolongamento da vida", e como os idosos não são mais trabalhadores remunerados, a sociedade não recebe nenhum "ganho monetário" ao tratar esses indivíduos.
"Mas a sociedade tem a ganhar quando o potencial desses indivíduos está à disposição. Quando, ao invés de sedados ou bêbados, idosos ativos andam por aí", defende Vosshagen.
Sua paciente Anna-Lisa concorda. "Na idade avançada, fica claro que se trata de uma doença mortal. Uma morte em parcelas, se costuma dizer, a qual é claramente perceptível em um idoso e apenas tratável quando se recebe ajuda profissional", diz. "Eu recomendaria a todos, de coração, que vivessem novamente sóbrios e com clareza, para poderem resolver seus problemas com a razão e não com a bebida."
Comentários
Postar um comentário
Comentarios e Sugestões