CFM mira tratamentos antienvelhecimento



O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou nesta segunda-feira um parecer condenando a prescrição de hormônios em tratamentos antienvelhecimento, por não haver evidências científicas de que a terapia seja eficiente. Dentro de até dois meses, uma resolução proibindo médicos de recomendar o uso desses produtos deverá ser editada. "O Código de Ética já mostra que médicos não podem indicar terapias não comprovadas cientificamente. O que vamos fazer é deixar mais clara a proibição da indicação de hormônios", afirmou o vice-presidente do CFM, Carlos Vital.
Nos últimos quatro anos, cinco médicos foram cassados por indicar tratamentos sem comprovação científica. No mesmo período, outros 10 profissionais foram condenados pelos mesmos motivos a penas de suspensão e censura pública. "Embora a medicina tenha avançado, a promessa de eterna juventude ainda está no campo das fábulas", disse Vital.
Entre os hormônios indicados por médicos que atuam em clínicas de envelhecimento estão a melatonina, o cortisol, o hormônio do crescimento, progesterona e testosterona. "Os trabalhos reunidos até o momento mostram que, em pessoas saudáveis, o uso dos hormônios aumenta o risco de uma série de doenças", afirmou a geriatra Maria do Carmo Lencastro, integrante da Câmara Técnica do CFM.

Recomendação -No caso do hormônio da tireoide, por exemplo, o uso em pessoas saudáveis pode levar ao hipertireoidismo. Já o hormônio de crescimento, quando em grandes quantidades no organismo, pode levar a problemas cardiovasculares. "O uso desses hormônios provoca uma sobrecarga no organismo, e, em consequência, um desajuste hormonal", contou Maria do Carmo. Esta é a segunda recomendação feita pelo CFM relacionada a terapias que prometem interromper ou retardar o processo de envelhecimento. Em 2010, uma resolução do colegiado proibiu a indicação de terapia ortomolecular, também por não haver eficácia comprovada.
O diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Salo Buskman, elogiou o parecer do CFM. "Era preocupante o crescimento da indicação das terapias ditas anti-aging", disse, citando o termo em inglês. Por várias razões, segundo ele: além de prometer algo que não há como ser alcançado, a interrupção do envelhecimento, a terapia aumenta o risco de efeitos colaterais, e passa a ilusão de que o paciente está comprando saúde - o que, por sua vez, o leva a deixar de adotar um estilo de vida saudável.
Casos -Buskman contou ter recebido em seu consultório pacientes com efeitos colaterais provocados por essas terapias. Mas ele ressalta que, muitas vezes, os próprios pacientes escondem o fato de terem adotado a terapêutica. "No fundo, eles sabem que o tratamento é condenado, que não há evidências de resultados. Mas o medo de envelhecer acaba falando mais alto". Ele diz que o controle dessas proibições pelo CFM não é fácil de ser realizada. "Dificilmente o paciente denuncia. Em primeiro lugar, porque pacientes se iludem com a promessa feita pelos médicos. Depois, porque não associam efeitos colaterais aos remédios".
O professor da Universidade Federal da Bahia, Elsimar Coutinho avalia que o CFM extrapolou suas competências. "O conselho é um órgão educativo, tem de fiscalizar a ética e não querer ensinar professores sobre o que indicar para pacientes", reagiu. O médico, conhecido pelo uso de hormônios para mulheres pararem de menstruar, afirma não fazer tratamento antienvelhecimento. "O que tem de ser feito é reposição hormonal. Hormônio nunca rejuvenesceu". Ele diz que não vai adotar nenhuma medida contra a decisão do CFM. "Isso não me afeta. Só uso hormônios com indicações precisas".
O parecer do CFM teve início depois de o médico Italo Rachid enviar para o colegiado um documento que reuniria uma série de estudos comprovando a eficácia do anti-aging. Dos mais de 5 mil trabalhos reunidos, no entanto, pouco mais de 1% trazia trabalhos sobre a análise do envelhecimento e nenhum deles apontava benefício dos hormônios. "A terapia antienvelhecimento não é especialidade médica. Nem no Brasil, nem na União Europeia, nem nos Estados Unidos", lembrou a geriatra.
De acordo com o parecer do CFM, no currículo o médico constava treinamento anti-aging. O parecer do CFM, no entanto, indica que essa ligação não foi comprovada. A reportagem não conseguiu entrar em contato com Rachid

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