Sem dietas especiais, centenário diz que o segredo da vida está no trabalho Para pesquisador, o mistério da vida longa pode estar escrito no material genético que existe dentro de cada célula. Aos olhos de quem experimenta a vida no século 21, dá para dizer que a existência no passado já foi muito mais breve. E nem precisa ir muito longe. A esperança de vida dos brasileiros que nasciam há cem anos era de 34 anos. Hoje vivemos mais que o dobro, com uma expectativa de exatos 72 anos e nove meses. Mas essa é uma só uma média. Pode ser mais. E pode ser menos. Será que o tempo de vida que nos é reservado já está decidido antes mesmo de nascermos? Ou será que tudo depende do estilo de vida que cada um de nós decide levar?
Cientistas dos Estados Unidos estão tentando encontrar uma resposta para essa pergunta. E um dos caminhos para ela pode ser o caminho que leva à casa de Louis Charpentier. Quem olha esse simpático senhor, faceiro, alegre, nem imagina que está diante de uma quase testemunha da história. Louis Charpentier nasceu em 1910, antes da Primeira Guerra Mundial e dois anos antes do naufrágio do Titanic. Aos 99 anos de idade, a pouco mais de um mês e meio de completar um século de vida, ele é uma das várias pessoas que estão sendo acompanhadas por cientistas da Universidade de Boston em uma pesquisa que tenta descobrir porque algumas pessoas vivem bem mais do que outras. Como será a dieta e a rotina de alguém que já viveu tanto tempo? Nada de muito especial, mostra Mr. Louis. No dia da entrevista, o almoço foi uma quentinha com almôndega, macarrão e cenourinhas. E, de vez em quando, pausa para ver TV, comprada como a última novidade nos anos 60. Mas o que nunca falta na rotina dele é o trabalho na oficina, que fica dentro de casa. Ele sobe e desce os degraus pelo menos quatro vezes ao dia. No porão, descobre-se um mundo à parte, um lugar onde Mr. Louis se recusa a parar no tempo. Olhos atentos, movimentos precisos, mãos firmes. Trabalhando sem parar, registrando em madeira lembranças de uma vida longa. Uma escultura foi feita há 70 anos. Perguntado sobre o que faz de diferente das outras pessoas, Mr. Louis responde, com a simplicidade e a sabedoria de uma vida centenária: “A minha força vem do meu trabalho. Apenas sigo em frente”. Mas, para o chefe das pesquisas sobre longevidade da Universidade de Boston, o mistério da vida longa pode estar escrito no material genético que existe dentro de cada célula e que é diferente em cada um de nós. Um estudo feito com 1.000 idosos com mais de 90 anos de idade revelou a existência de 150 combinações genéticas. Elas aparecem no DNA de sete de cada dez pessoas pesquisadas. Outras 19 sequências específicas de genes estavam presentes em nove em cada dez idosos pesquisados. Trata-se do primeiro mapa genético da longevidade revelado pela ciência. É a primeira tentativa científica de prever quanto tempo uma pessoa poderá viver. “É claro que não basta só ter os genes certos”, diz o doutor Thomas Pearls. “O estilo de vida de cada um também é determinante. As pesquisas mostraram que, se você tiver os genes certos e uma vida saudável, tem mais chances de viver muito”. Esse “mapa genético da longevidade” é inédito. Mas tem mais: o mesmo estudo identificou uma outra raríssima combinação de genes. Ela aparece apenas nas pessoas com chances de viver mais de 110 anos, os chamados supercentenários americanos. Dona Anna Ferris, de 110 anos, uma das pessoas mais velhas do mundo, chegou lá. Mas, nessa altura da vida, a natureza cobra seu preço. A bisneta dela avisa: ela vai esquecer que a equipe de reportagem esteve no local logo depois que todos forem embora. Mesmo assim, estar frente a frente com alguém que já passou há tanto tempo a barreira dos cem é fascinante. Anna Ferris é alegre, brincalhona e sábia. Sem pestanejar, ela revela o que aprendeu de mais importante em toda a sua longa vida: fazer o bem para os outros. Falou a voz da experiência. Fonte:http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2010/08/sem-dietas-especiais-centenario-diz-que-o-segredo-da-vida-esta-no-trabalho.html
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