O que fazer se um idoso que mora sozinho começa a receber prostitutas em seu apartamento? Ou se desconfia que a empregada esteja furtando objetos? E se um idoso leva um tombo e desmaia, que atitude tomar? A partir de situações simuladas (mas baseadas em fatos reais), porteiros e zeladores de Higienópolis, região central de São Paulo, estão tendo aulas sobre cuidados que devem ter com moradores na terceira idade.
O programa foi iniciado em 2010, em Copacabana (Rio), o bairro que mais concentra pessoas acima de 60 anos -um a cada três moradores. A ideia surgiu após uma pesquisa indicar o porteiro como o melhor amigo do idoso. "E não é só porque ele carrega as compras ou troca as lâmpadas. Muitas vezes, é a pessoa mais próxima do idoso, aquele que conversa, que dá atenção, que ajuda", diz Alexandre Kalache, ex-diretor de envelhecimento da OMS (Organização Mundial da Saúde) e coordenador do projeto.
Agora, o programa tem sua versão paulistana. Em Higienópolis, vivem 15 mil pessoas acima de 60 anos. Só no prédio onde Adilson Xavier Bastos é zelador, na rua Albuquerque Lins, moram dez idosos. Com as aulas, Bastos diz que começou a perceber como melhorar as condições de acesso no edifício. Uma iniciativa, por exemplo, foi colocar uma lanterna na parede do primeiro andar.
Ali moram dois irmãos com mais de 80 anos, que são vizinhos de apartamento. "Um deles sempre se queixava da luz, que só acende com o movimento. Ele tinha medo de se desequilibrar no escuro. Agora, tem uma lanterna logo na saída do apartamento."
CURSO
Durante o curso, os porteiros sentem na pele o processo do envelhecimento. Usam pesos nas pernas e braços, óculos que distorcem a visão (como se tivessem catarata) e aparelhos auriculares que diminuem a audição. São 12 horas de curso, em quatro dias. Cada grupo tem 25 porteiros e zeladores.
No início, eles são convidados a fazer um diagnóstico de quantos são e como vivem os idosos dos prédios onde trabalham. Identificam, por exemplo, se há obstáculos que dificultam o acesso. Depois, passam pelas vivências de "como ser velho" e de situações como as descritas no início do texto. Por fim, montam uma agenda de contatos úteis (de familiares, médicos, do Samu, da polícia, entre outros) para emergências envolvendo os idosos.
"Às vezes a gente não se dá conta das dificuldades. Acha que idoso só atrapalha", diz o porteiro Aderval da Silva, 52. Segundo Kalache, a intenção do curso é capacitar 350 porteiros até o final do ano.
O programa é patrocinado pela Vila Velha Corretora de Seguros em parceria com a Bradesco Seguros. (Folhapress)
Cuidadores - Com uma procura cada vez maior no mercado, os cuidadores de idosos têm se especializado na função. Escolas oferecem cursos de 12 a 160 horas, em que se aprende desde como fazer um currículo até como levar um idoso da cama à cadeira com segurança. "Muitas vezes as famílias pediam para as empregadas domésticas cuidarem. Hoje esses profissionais não dão mais conta. E daí vem a necessidade de formação", diz Marília Berzins, do curso do Olhe (Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento). Segundo ela, 90% das pessoas que procuram os cursos são mulheres. Muitas são domésticas e querem melhorar o salário. Outras trabalham na área e buscam o curso a pedido da família do idoso. Ivone Paulino dos Santos, 53, atuou por anos como cuidadora até decidir fazer um curso para se especializar. Para ela, as aulas ajudaram nas negociações com dona Deolinda, 76, na hora de tomar banho, sair da cama e comer. "O cuidador atua dando auxílio em atividades como o banho, o lazer e promovendo a autonomia do idoso", afirma Marilene Maciel, da Acrimesp (Associação de Cuidadores de Idosos da Região Metropolitana de São Paulo).
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