Natalina Limonta de Paula tem 95 anos, sofreu um derrame há cerca de dois anos e meio e está com pneumonia. A idosa, que está internada há 30 dias na enfermaria do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual), na Vila Mariana, Zona Sul da capital, oscila entre momentos de lucidez e de inconsciência, quando permanece dormindo por dias seguidos.
Apesar disso, a professora aposentada Gladys de Paula Craveiro, de 74 anos, filha de Natalina, se reveza com uma irmã e uma cuidadora para manter a mãe acompanhada 24 horas por dia. “Ela sente a nossa presença, sente quando a gente chega. Quando alguém põe a mão sobre a mão dela, reconhece quem é e se acalma. Pode parecer que não faz diferença, mas faz. E bastante”, afirma Gladys.
Mas, infelizmente, nem todos os idosos internados na enfermaria do HSPE têm a mesma sorte de Natalina. Segundo um levantamento realizado pelo Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual) e obtido com exclusividade pelo DIÁRIO, 30% das famílias de pacientes mais velhos internados nesse setor do HSPE estão ausentes no óbito desses pacientes.
“Às vezes a doença tem tratamento doloroso, tanto para a família quanto para quem está internado. E, no caso de muitos pacientes idosos, a internação realmente acaba se tornando um momento de despedida”, explica Claudete Abílio, responsável pelo serviço de internação do HSPE. “Por isso é muito importante que o idoso sinta o carinho da família, o acolhimento.”
O HSPE é responsável pelo atendimento de 10% da população idosa do estado de São Paulo e quase 60% dos pacientes internados na instituição têm 60 anos ou mais. O artigo 16 do Estatuto do Idoso assegura ao paciente internado o direito de ter um acompanhante.
A pesquisa revela que dos 120 atendimentos registrados em março deste ano (último mês analisado), em 36 as famílias não estavam presentes no momento da morte. A média de 30% se manteve similar nos outros meses analisados.
Como procedimento de rotina, em casos de urgência e emergência, o Iamspe entra em contato com a família por telefone imediatamente.
Entrevista
Claudete Abílio_ chefe de internação do HSPE
Visita para quadros graves tem horário estendido
DIÁRIO_ Como foi realizado o levantamento?
CLAUDETE ABÍLIO_ Nós fizemos levantamento a respeito dos óbitos nas enfermarias com pacientes acima de 60 anos. E constatamos que 30% dos familiares não tinham requerido cartão de acompanhante do idoso, que dá direito a cadeira para passar a noite e refeição. Isso não significa necessariamente um abandono, mas mostra o uso indevido do cartão do idoso, do tempo da pessoa sozinha.
Por que só foram analisados pacientes da enfermaria?
A estatística no momento do óbito não leva em conta a UTI e outras unidades críticas de emergências, além do pós-operatório, porque esses locais têm horário de visita determinado. Já no caso dos pacientes de enfermaria, quando se dá o agravamento do caso, avisamos a família e liberamos a visita em horário estendido. Normalmente, a visita para quem não está com o cartão do idoso é das 12h às 19h.
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